(At 9,26-31; Sl 21[22]; 1Jo 3,18-24; Jo 15,1-8)*
1. O
Evangelho que acabamos de acompanhar nos remete ao ambiente da Última Ceia.
Jesus exorta seus discípulos a permanecerem unidos a Ele como os ramos à
videira.
2. Trata-se
de uma parábola verdadeiramente significativa, porque expressa com grande
eficiência que a vida cristã é Mistério de Comunhão com Jesus: “Quem permanece
em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer”.
3. É outra
imagem que nos remete ao Israel do Antigo Testamento. Este foi muitas vezes
comparado com a vinha fecunda, quando é fiel a Deus; mas se se afasta d’Ele,
torna-se estéril, incapaz de produzir aquele ‘vinho que alegra o coração do
homem’, conforme o salmo 104.
4. A Vinha
verdadeira de Deus é Jesus que, com seu sacrifício de amor, nos oferece a
salvação, nos abre caminho para fazermos parte desta Vinha. E do mesmo modo
como Cristo permanece no amor de Deus Pai, assim também os discípulos
sabiamente podados pela Palavra do Mestre tornam-se fecundos.
5. São
Francisco de Sales escreve: “O ramo unido e vinculado ao tronco produz
fruto não pela sua própria virtude, mas em virtude do cepo: pois bem, nós fomos
unidos pela caridade ao nosso Redentor, como os membros à cabeça; eis por que
motivo... as boas obras, haurindo o seu valor d’Ele, merecem a vida eterna”.
6. No dia
do nosso batismo, a Igreja enxerta-nos como ramos no Mistério Pascal de Jesus,
na sua própria Pessoa. Desta raiz nós recebemos a linfa preciosa para
participar da vida divina. Como discípulos e discípulas, também nós, com a
ajuda dos pastores da Igreja, crescemos na vinha do Senhor, vinculados pelo seu
amor.
7. Para
tudo isso, é indispensável permanecermos unidos a Jesus, dependermos d’Ele,
porque sem Ele nada podemos fazer. Numa carta escrita a João, o Profeta, um
monge que viveu no deserto de Gaza no século V, um fiel formula a seguinte
pergunta: como é possível manter unidos a liberdade humana e o fato de nada
podermos fazer sem Deus? Ele responde:
8. Se o
homem inclina o seu coração para o bem, e pede ajuda a Deus, recebe a força
necessária para realizar a própria obra. Por isso, a liberdade humana e o poder
de Deus procedem juntos. Isto é possível, porque o bem provém do Senhor, mas
ele é levado a cabo graças aos seus fiéis.
9. Assim
podemos compreender, a partir do nosso Evangelho, que cada um de nós é um ramo,
que só vive se fizer crescer cada dia na oração, na participação dos
Sacramentos e na caridade a sua união com o Senhor.
10. E quem
ama Jesus, videira verdadeira, produz frutos de fé para uma abundante vida
espiritual. Supliquemos à Mãe de Deus e Senhora nossa, a fim de permanecermos
solidamente enxertados em Jesus, e para que cada uma das nossas obras tenha
n’Ele o seu início e a sua realização.
* Reflexão com base em texto de Bento XVI.
Pe. João
Bosco Vieira Leite