(At 4,32-37; Sl 92[93]; Jo 3,7-15) 2ª Semana do Tempo Pascal.
“Vós
deveis nascer do alto” Jo 3,8.
“Os
cultos dos mistérios dos primeiros séculos conhecem o tema do renascimento. O
santuário de Mitra, que ainda hoje pode ser visitado sob a basílica romana de
São Clemente, mostra como era entendido esse renascimento. O místico descia à
cova onde era aspergido com o sangue de um touro. Assim ficava purificado de
todos os pecados. Morrendo para o mundo pode sair da cova, renovado e igual a
um deus. A gnose também conhece o tema do renascimento, mas para ela o processo
de renascer é indizível. Não pode ser explicado. O seu resultado é a iluminação
pela qual o homem se vê a si mesmo em Deus. O renascimento é uma imagem do
caminho interior do ser humano para o seu verdadeiro eu. O processo é diferente
em cada um. Não se pode observá-lo de fato. O objetivo é sempre o mesmo: ‘O eu,
o centro errado da personalidade, é substituído por um centro novo, genuíno’
(SANFORD, 1997, p. 106, v. 1). Nicodemos não entende esse sentido porque está
preso ao significado literal. Jesus dirige a sua atenção para uma dimensão mais
profunda, espiritual: ‘O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do
Espírito é espírito’ (3,6). João insiste na origem do ser humano. Quem nasceu
da carne tem um autoconceito carnal, ou seja, ele se define pelos critérios
deste mundo. Quem nasceu do espírito tem a sua origem em Deus. Ele se entende a
partir de Deus. Renascer é um despertar espiritual para a realidade. Meus olhos
se abrem. Entendo o mundo de uma nova maneira. ‘O renascimento espiritual torna
o ser humano capaz de ver a presença da eternidade no tempo, o fim da história,
o próprio elemento divino na carne humana de Cristo’ (LEONG, 2000, p.83)” (Anselm Grüm – Jesus, porta
para vida – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite