(At 3,1-10; Sl 104[105]; Lc 24,13-35) Oitava de Páscoa.
“Eles,
porém, insistiram com Jesus, dizendo: ‘Fica conosco, pois já é tarde e a noite
vem chegando!’
Jesus
entrou para ficar com eles” Lc 24,29.
“Os
discípulos insistem com Jesus que fique com eles, ‘pois a tarde está caindo; o
dia começa a declinar’ (Lc 24,29). Isso é uma imagem da nossa vida. Quando
dentro de nós está escurecendo, quando sobre a nossa alma a noite começa a
cair, então podemos pedir ao Ressuscitado que fique conosco. Jesus entra na
casa com os discípulos. Torna-se hóspede deles, para estar junto com eles. Isso
não é apenas uma imagem da Ressurreição, mas também da celebração da
Eucaristia. Na celebração da Eucaristia encontramo-nos com o ressuscitado. Lá
ele está conosco, nos fala, nos interpreta a Eucaristia e nos desvela o
mistério da nossa vida. Em seguida Lucas pinta a refeição do ressuscitado junto
aos discípulos de Emaús com as mesmas palavras com que descreveu a última ceia.
Jesus ‘tomou o pão, pronunciou o louvor, partiu o pão e lhes deu’ (Lc 24,30).
Aí abrem-se os olhos dos discípulos. Reconhecem-no. Mas no mesmo instante ele
se lhes torna invisível. ‘Aphantos’, invisível, é uma expressão típica do mundo
das ideias gregas. Jesus desaparece da vista dos discípulos. Aí está o mistério
da Ressurreição. O ressuscitado está conosco, pertinho de nós. Parte o pão para
nós. Na celebração da Eucaristia ele se encontra conosco, fica invisível.
Contudo, não podemos segurá-lo com os nossos olhos. Ressurreição, para Lucas,
tem algo a ver, essencialmente, com ‘abril’. O nosso coração se abre (At
16,14), os nossos olhos se abrem (Lc 24,31). Nesta abertura é-nos dado
contemplar o ressuscitado. Mas essa abertura significa também que deveremos
soltá-lo. Sempre de novo ele desaparece da nossa vista. Ao abri-nos, porém, o
coração, o espírito e os olhos, o ressuscitado acende em nós a chama do seu
amor. As palavras e os atos de Jesus nos tocam no fundo do coração, e o coração
ardente nos impele de volta para os outros. Assim, os dois discípulos, na mesma
hora, de coração ardente, voltam para Jerusalém, a fim de contar para os demais
discípulos o que vivenciaram. A experiência da Ressurreição nos põe a caminho
para contar aos outros aquilo que vimos e ouvimos” (Anselm
Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).
Pe.
João Bosco Vieira Leite