(At 3,13-15.17-19; Sl 04; 1Jo 2,1-5; Lc 24,35-48)
1.
Poderíamos resumir a mensagem deste domingo com uma palavra: ‘o triunfo da
ressurreição’. É dessa ressurreição que Pedro dá testemunho na 1ª leitura. No
Evangelho temos mais uma aparição do Ressuscitado. São os discípulos do caminho
de Emaús eufóricos para contar o que havia acontecido a eles.
2. Eis
que Jesus aparece no meio deles e lhes deseja a paz. O desejo traz uma
sequência de reações: susto e medo, como quem vê um fantasma; depois alegria e
surpresa. Uma mistura de incredulidade e alegria. É a atitude de quem crê, mas
não ousa acreditar no que vê, como quem diz: ‘é bom demais para ser verdade’.
3. Para
convencê-los Jesus pede algo para comer, pois não há nada que mais tranquilize
e crie comunhão do que comer juntos. Depois Jesus os convida a anunciar ao
mundo que Ele, porque ressuscitou, deu a todos a possibilidade de conversão, de
receber o perdão dos pecados e de ser feliz.
4. Há
nessa sequência uma forte denúncia aos cristãos que têm como única preocupação
viver a sua relação com Deus numa relação opressiva, feita de medo, de
excessiva sensação de culpa, de penitência, de futuro ameaçador.
5. O
pecado e a fragilidade humana são realidades ligadas à nossa experiência
cotidiana, e negar-lhes seria uma loucura. O que muitas vezes é incompressível
é que a experiência de fé de muitos não traduz esse encontro com o
Ressuscitado, como se a Pascoa não significasse passar do pecado a uma vida
santa e transbordante de alegria.
6. Há
muitos que se deixam paralisar pela fascinante aparição de uma Nossa Senhora
que chora. Chora a Virgem porque o mal é mais forte que seu Filho ressuscitado?
Pergunta alguém e argumenta: o remédio mais eficaz ao mundo repleto de
impurezas, mais que penitências, não seria levar adiante, sob a ação do
Ressuscitado, uma vida mais honesta, mais pura, mais humana, mais conforme as
exigências do Evangelho?
7. Esse
lembrete não quer nos induzir a um certo ceticismo no que diz respeito às
aparições, aos eventos que Deus permite em seu misterioso desígnio. Mas que
evitemos certas atitudes que não estão em plena sintonia com a fé no
Ressuscitado, pois deixam as coisas como sempre foram.
8. Se
cremos, verdadeiramente, no Ressuscitado e queremos oferecer uma útil
contribuição à cura espiritual do mundo, unamo-nos a Ele e, na sua força,
procuremos, dia após dia melhorar a nós mesmos. Só semeando as flores das boas
ações podemos dar ao mundo a oportunidade de ser menos deserto e mais jardim.
9. A
título de conclusão trago esse conto mulçumano: “Ao início, o mundo era um
grande jardim florido. Quando criou o ser humano, Deus lhe disse: ‘Cada vez que
realizares uma má ação, eu farei cair sobre a terra um grão de areia’. Mas o
ser humano não deu muita atenção. Que poderia significar um, cem, mil grãos de
areia nesse imenso jardim florido? Passaram os anos, as más ações aumentaram e
torrentes de areia inundaram o mundo. Nasceram assim os desertos que dia a dia
vão crescendo. Ainda hoje Deus admoesta ao ser humano dizendo a eles: ‘Não
reduza o meu mundo florido a um imenso deserto!’”.
Pe. João
Bosco Vieira Leite