4º Domingo da Páscoa – Ano B

(At 4,8-12; Sl 117[118]; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18)

1. O 4º Domingo de Páscoa é chamado de ‘Domingo de Bom Pastor’. Não é difícil entender o porquê assim que escutamos o evangelho. A imagem de Cristo Bom Pastor conquistou o coração dos cristãos e influenciou a arte cristã. As antigas representações nas catacumbas trazem Jesus com vestes de pastor e uma ovelha nos ombros.

2. É uma imagem de forte ressonância bíblica que tem a ver com a origem de Israel, um povo pastoril nômade. Os que fazem viagens por essas regiões encontrarão nos Beduínos do deserto uma ideia de como viviam as tribos de Israel.

3. Nessa sociedade, a relação entre pastor e rebanho não é só de tipo econômico, baseado no interesse. Se desenvolve uma relação pessoal entre pastor e rebanho. São jornadas e jornadas vivendo juntos em lugares solitários. Isso permite ao pastor conhecer cada ovelha; a ovelha por sua vez o reconhece, distingue a sua voz.

4. Podemos tomar aquela antiga imagem de uma mãe que no parque, enquanto tricota, vigia com o canto do olho a sua criança que joga e corre, pronta a correr ao seu encontro ao menor sinal de perigo. Assim podemos entender como Deus se serviu deste símbolo do pastor para exprimir sua relação com a humanidade.

5. O salmo 22[23] é uma expressão dessa fé que constantemente ressoa em nossas assembleias: “O Senhor é meu pastor: nada me faltará”. Mesmo na morte (o ‘vale tenebroso’) não nos causa tanto medo porque também ali chega o olhar do Pastor (exéquias).

6. Mas o ‘vale tenebroso’ não é só a morte; é também a provação, o escuro, a crise dos afetos, a dificuldade econômica, a depressão. E quem de nós não terá que atravessar, cedo ou tarde, algum desses vales tenebrosos?

7. Ainda no mundo bíblico, o título de pastor vem dado, por extensão, também àqueles que fazem as vezes de Deus na terra: os reis, os sacerdotes, os chefes ou líderes de um modo geral. Mas nesse caso o símbolo se divide: não evoca mais só a imagem de proteção e segurança, mas também de exploração e de opressão.

8. Os profetas sempre estiveram às voltas com essa figura do mau pastor, do mercenário e Jesus faz menção aos mesmos também hoje. Nele, aquilo que havia sido prometido através do profeta Ezequiel: Deus mesmo cuidará do seu povo (cf. Ez 34,1ss) supera toda expectativa.

9. Jesus faz o que nenhum pastor, por melhor que seja, estaria disposto a fazer: ele oferece sua vida pelas ovelhas. Para muitos de nós, a imagem do Pastor que busca a ovelha perdida, que lhe cura as feridas, que toma aos braços aquela que está cansada, não são somente imagens poéticas, mas experiências vividas.

10. Quantas vezes nos encontramos feridos, não no corpo, mas na alma, não por culpa de alguém, mas por culpa nossa, e nos sentimos amoravelmente acolhidos, curados e colocados de pé. O evangelho do Bom Pastor é melhor compreendido a partir de nossas experiências pessoais que de comentários...

11. Talvez a imagem de pastor e rebanho não agrade a nossa mentalidade moderna, e ofenda a nossa dignidade de seres livres e no entanto não escapamos da massificação imposta pelos meios de comunicação que nos informam, mas que nos formam, nos moldam, massificam.

12. Sem nos darmos conta nos deixamos guiar por manipulações e persuasões ocultas. Seguimos as novas tendências sejam da moda, do comércio, da economia... É só observar a vida das multidões nas grandes cidades e rimos ou nos admiramos quando vemos aquelas imagens aceleradas em filmes, propagandas, telejornais... que são de nós mesmos...

13. João nos lembra na 2ª leitura que somos filhos de Deus. Essa busca de uma identidade. O evangelho não nos promete mudar a atual sociedade e nem é sua função. Apenas nos lembra a ser nela também indivíduos e famílias que preservam seu espaço inviolável de liberdade e intimidade: não porque todos fazem, mas porque é bom fazer assim.

14. Longe de mortificar a nossa personalidade, Jesus Bom Pastor, ajuda a crescer, nos personaliza com seu conhecimento e seu amor; faz nascer em nós uma criatura nova, consciente e forte, aquela que o mundo não pode manipular ou intimidar porque não é levada por ele.

Pe. João Bosco Vieira Leite