2º Domingo da Páscoa – Ano B

(At 4,32-35; Sl 117[118]; 1Jo 5,1-6; Jo 20,19-31)*

1. Também nesse domingo, o evangelho é o mesmo todo ano. Ele traz ao centro o episódio de Tomé que não crê se não vê. Já tendo refletido um pouco sobre o mesmo, podemos meditar sobre um outro elemento presente nessa narrativa.

2. Percebe-se nessa narrativa uma insistência no dado cronológico das duas aparições de Jesus: no primeiro dia da semana. Nesse mesmo dia, ao cair da tarde, aparece aos discípulos reunidos e lhes transmite seu Espírito e sua paz.

3. É assim que o domingo passa a ser o “dia do Senhor”. Como no latim, “Senhor” se diz “Dominus”, o dia do Senhor (dies domenica) se chama Domingo. Esta nova denominação aparece pela 1ª vez no livro do Apocalipse, quando João afirma ter sido raptado em êxtase ‘no dia do Senhor’, isto é, no Domingo (cf. Ap 1,9).

4. Neste dia os cristãos se reúnem; vem entre eles Jesus, não de fora, mas de dentro mesmo, na Eucaristia; dá aos discípulos a paz e Espírito Santo; na comunhão, os discípulos o tocam, antes o recebem, o seu corpo ferido e ressuscitado, e proclamam a sua fé n’Ele.

5. É assim que, com a paz de Constantino, o cristianismo se torna a religião oficial, e o domingo toma o lugar do sábado judaico, como dia de festa também civil, e dá ao 1º dia da semana, que até então se chamava ‘dia do sol’ (que ainda se conserva nos países anglo-saxônicos) o nome de dia do Senhor.

6. A realidade do domingo para nós se insere no 3º mandamento: guardar os domingos e os dias santos. Santificar o domingo significa três coisas: fazer desse dia um dia para Deus, um dia para si mesmo, um dia para o próximo.

7. Um dia para o Senhor pode ser comparado com um grupo de pescadores em alto mar, por horas e horas atentos às redes e à pesca sem pensarem em mais nada. Mas logo chegará o momento que será preciso retomar a direção da barca, consultar o mapa e ver se está na direção correta.

8. Assim é a vida. Depois de seis dias de trabalhos, de preocupações, é necessário parar, ver se estamos na direção certa, se estamos realizando o objetivo de nossa vida. Para aquele que crê, o meio mais justo de fazê-lo é participar da assembleia dominical, da missa.

9. Aqui escutamos a Palavra do Senhor, recordamos sua morte e ressurreição; Ele comunica-se a nós; o tocamos como Tomé. Oxigenamos a fé. Nos congregamos, nos vemos de novo em clima de festa rompendo esse anonimato que tanto desumaniza a vida hoje.

10. O domingo é também um dia para si mesmo. Em sua sabedoria, o Criador estabeleceu um dia para que o ser humano encontre a si mesmo e a sua liberdade. Tome consciência que tem um corpo a restaurar, uma mente a cultivar, uma família ou amigos com quem estar.

11. É sempre um desafio redescobrir a beleza e a necessidade do repouso festivo, mesmo em outro dia, para aqueles que devem trabalhar no domingo, sem perder de vista o seu significado. Ou mesmo se dar ao direito de outras atividades nesse dia.

12. O perigo é quando esse assume uma importância tal que o Senhor fica relegado a segundo plano ou plano nenhum. Temos uma lista de justificações... Muitas vezes não nos damos conta da instrumentalização da indústria do entretenimento que nos rouba o essencial.

13. Enfim, o domingo é um dia para os outros. Há quem se sinta feliz ao fim de seu dia por ter visitado um amigo, um enfermo, ajudado alguém. Cada um de nós tem em torno a si pessoas com particulares necessidades e sofrimentos a serem aliviados. Esse é também modo de observar ou santificar o dia do Senhor. (cf. Ne 8,9-10). Que a alegria do Senhor seja a nossa força e bom domingo a todos!

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite