(Zc 2,14-17; Lc 1; Mt 12,46-50)
N. Sra. do Carmo.
“Pois todo aquele que
faz a vontade do meu Pai, que está nos céus,
esse é meu irmão,
minha irmã e minha mãe” Mt 12,50.
“O título com que a
Virgem é comemorada anualmente no dia 16 de julho nos faz voltar no tempo, a um
lugar solitário e esplêndido de um monte da Galileia, onde ainda hoje são
visíveis os restos de uma antiga igreja do século XIII, dedicada à Nossa
Senhora. Ao redor desse lugar, simples e majestoso nas suas pedras claras que
sobressaem no verde intenso da vegetação, reuniram-se alguns homens com o
desejo de dedicar sua vida ao serviço de Deus, sob a explícita e desejada
escola de Maria. Assim, na oração e no silêncio do lugar, próximo a uma
fontezinha, chamada de Elias, nasceu a ordem dos carmelitas. O Carmelo – com
este nome geralmente se entende um mosteiro de clausura: como não pensar no
carmelo de Ávila, onde viveu santa Teresa ou ao de Lisieux, onde santa
Teresinha do Menino Jesus ofereceu sua juventude? Este uso, porém, é apenas uma
derivação, dado que o Carmelo é uma elevação montanhosa que se estende para
além de 25 Km do golfo de Haifa, no Mediterrâneo, até a planície palestinense
de Esdrelon, atingindo os 546m de altitude. O seu nome, que significa ‘jardim
fértil’, sublinha a magnificência da natureza que cobre o declive da montanha.
Aos olhos dos hebreus, acostumados com as areias e as cores do deserto, o
Carmelo tornou-se de modo compreensível a imagem da presença de Deus, a
expressão visível da beleza e da fecundidade do encontro beatificante com a sua
palavra (cf. Is 35,2; Ct 7,6; Am 1,2). No Carmelo o profeta Elias tinha levado
o povo a descobrir a verdadeira fé, eliminando os cultos idolátricos de Baal e
reconstruindo o altar em honra de Javé (cf. 1Rs 18,19-46). A este monte, tão
propício ao retiro espiritual e à renovação interior, na segunda metade do
século XII acorreram e estabeleceram morada devotos peregrinos ocidentais,
provavelmente ligados às últimas cruzadas ou cruzados eles próprios. Na
primeira década do século XIII o patriarca de Jerusalém, Alberto Avogadro,
organizou esses eremitas providenciando-lhes uma ‘regra de vida’ e
consagrando-os ao redor de uma mencionada igrejinha de ‘nossa senhora’. Sabemos
com certeza, por um documento de Inocêncio IV, em 1552, que eram chamados
‘irmãos da ordem de santa Maria do monte Carmelo’. Nesse contexto claramente
mariano (os ‘irmãos’ se consideravam parte da família de Maria), consegue-se
captar o significado profundo encerrado em lendas e relatos caros à tradição
carmelita. Lembremos a célebre interpretação mariana dada à nuvenzinha que
anunciou a Elias a dádiva da chuva (cf. 1Rs 18,44): a nuvem é figura da Virgem
Maria, aurora da redenção trazida por Cristo. Naturalmente a Mãe de Deus,
escolhida como modelo a quem imitar e padroeira a quem obedecer pessoal e comunitariamente,
encontra-se no centro da experiência espiritual dos ‘irmãos do Carmelo’ (e de
todos os que em seguida participarão de sua espiritualidade: religiosas,
confrarias, terciários), experiência centrada na guarda contemplativa da
Palavra evangélica que os torna bem-aventurados” (Corrado
Maggioni – Maria na Igreja em oração – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite