15º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 55,10-11; Sl 64[65]; Rm 8,18-23; Mt 13,1-23).

1. A força e a dinâmica da Palavra de Deus estão no centro da reflexão da nossa liturgia. Assim acolhemos essa palavra de Isaias, que compara a Palavra de Deus como a chuva que vem do alto, irriga o solo e para o alto não volta sem antes cumpri o seu objetivo.

2. O salmo endossa essa imagem através de uma contemplação dos movimentos da natureza, os ciclos das águas e vê na chuva um dom de Deus que a tudo traz vida e renova. 

3. É nesse embalo da fecundidade da terra que somos encaminhados ao Evangelho. Jesus está iniciando uma série de parábolas que nos ajudam a compreender a dinâmica do Reino de Deus. A parábola de hoje já nos vem explicada minunciosamente pela própria comunidade primitiva, mas Jesus a introduz dizendo do porque fala em parábolas.

4. A parábola do semeador vem como resposta a quem colocava em dúvida os resultados do anúncio do Reino, já que parte dos judeus, a quem primeiro se dirige Jesus, recusa a Sua pregação. Que é a mesma reflexão feita pela comunidade de Mateus, pois as dificuldades na missão são grandes.

5. Jesus lhes diz que, ainda que os resultados iniciais transpareçam o fracasso, a eficácia da Palavra está assegurada, pois a terra fértil compensa com vantagem a esterilidade das anteriores.

6. Aqui o que conta é a semente, não tanto o semeador, ainda que seu esforço cheio de esperança seja necessário. O texto joga com a iniciativa divina, que vem a nós e nos fala, e a resposta positiva ou negativa do ser humano, a quem Deus conserva a liberdade.

7. Jesus olha de forma positiva todo e qualquer esforço de fazer o Reino acontecer, mesmo ignorando algumas etapas do plantio. Mesmo com dificuldades, o êxito final está garantido. É essa mesma expectativa positiva que Paulo nos traz na 2ª leitura ao falar do nosso destino final.

8. Em vários domingos durante o ano somos embalados pelas imagens das parábolas que nos encantam e assustam, só não nos deixam indiferentes.  Por detrás de cada uma delas se esconde uma verdade de caráter religioso. Jesus quer ilustrar por elas uma ideia ou ensinamento que está no conjunto final e não nas partes, como na alegoria.

9. Mesmo aplicadas ao contexto vivencial das comunidades primitivas, elas são do próprio Jesus, que busca nos revelar os segredos do Reino. A explicação que ouvimos não pensa no contexto final mas convida a perseverar aquele que escuta a palavra de Deus aqui e agora.

10. O interrogante final do texto é sempre o mesmo: que tipo de terreno somos nós, e eu em particular? Antes de olhar e sondar o terreno alheio, cada um se veja pessoalmente e depois comunitariamente. Como se não bastasse o nosso grande evangelho, segue uma história ilustrativa.

 

A força da Palavra

 Dizem que isto aconteceu em um mosteiro chinês muito tempo atrás.

Um discípulo chegou para o seu mestre e perguntou: - “Mestre, por que devemos ler e decorar a Palavra de Deus se nós não conseguimos memorizar tudo e com o tempo acabamos esquecendo? Somos obrigados a constantemente decorar de novo o que já esquecemos”.

O mestre não respondeu imediatamente ao seu discípulo. Ele ficou olhando para o horizonte por alguns minutos e depois ordenou ao discípulo: - “Pegue aquele cesto de junco, desça até o riacho, encha o cesto de água e traga até aqui”. O discípulo olhou para o cesto sujo e achou muito estranha a ordem, mas mesmo assim, obedeceu. Pegou o cesto, desceu os cem degraus da escadaria do mosteiro e começou a subir de volta. Como o cesto era todo cheio de furos, a água foi escorrendo e quando chegou até o mestre já não restava nada. O mestre perguntou-lhe: - “Então, meu filho, o que você aprendeu”? O discípulo olhou para o cesto vazio e disse, jocosamente: - “Aprendi que cesto de junco não segura água”.

O mestre ordenou-lhe que repetisse o processo de novo. Quando o discípulo voltou com o cesto vazio novamente, o mestre perguntou-lhe: - “Então, meu filho, e agora, o que você aprendeu”? O discípulo novamente respondeu com sarcasmo: - “Que cesto furado não segura água”.

O mestre, então, continuou ordenando que o discípulo repetisse a tarefa. Depois da décima vez, o discípulo estava desesperadamente exausto de tanto descer e subir as escadarias. Porém, quando o mestre lhe perguntou de novo: - “Então, meu filho, o que você aprendeu”? O discípulo, olhando para dentro do cesto, percebeu admirado: - “O cesto está limpo! Apesar de não segurar a água, a repetição constante de encher o cesto acabou por lavá-lo e deixa-lo limpo”.

O mestre, por fim, concluiu: - “Não importa que você não consiga decorar todas as passagens da bíblia que você lê; o que importa, na verdade, é que no processo a sua mente e a sua vida ficam limpas diante de Deus”. 

Pe. João Bosco Vieira Leite