(Is 55,10-11; Sl 64[65]; Rm 8,18-23; Mt 13,1-23).
1. A força e a dinâmica da Palavra de
Deus estão no centro da reflexão da nossa liturgia. Assim acolhemos essa
palavra de Isaias, que compara a Palavra de Deus como a chuva que vem do alto,
irriga o solo e para o alto não volta sem antes cumpri o seu objetivo.
2. O salmo endossa essa imagem através
de uma contemplação dos movimentos da natureza, os ciclos das águas e vê na
chuva um dom de Deus que a tudo traz vida e renova.
3. É nesse embalo da fecundidade da
terra que somos encaminhados ao Evangelho. Jesus está iniciando uma série de
parábolas que nos ajudam a compreender a dinâmica do Reino de Deus. A parábola
de hoje já nos vem explicada minunciosamente pela própria comunidade primitiva,
mas Jesus a introduz dizendo do porque fala em parábolas.
4. A parábola do semeador vem como
resposta a quem colocava em dúvida os resultados do anúncio do Reino, já que
parte dos judeus, a quem primeiro se dirige Jesus, recusa a Sua pregação. Que é
a mesma reflexão feita pela comunidade de Mateus, pois as dificuldades na
missão são grandes.
5. Jesus lhes diz que, ainda que os
resultados iniciais transpareçam o fracasso, a eficácia da Palavra está
assegurada, pois a terra fértil compensa com vantagem a esterilidade das
anteriores.
6. Aqui o que conta é a semente, não
tanto o semeador, ainda que seu esforço cheio de esperança seja necessário. O
texto joga com a iniciativa divina, que vem a nós e nos fala, e a resposta
positiva ou negativa do ser humano, a quem Deus conserva a liberdade.
7. Jesus olha de forma positiva todo e
qualquer esforço de fazer o Reino acontecer, mesmo ignorando algumas etapas do
plantio. Mesmo com dificuldades, o êxito final está garantido. É essa mesma
expectativa positiva que Paulo nos traz na 2ª leitura ao falar do nosso destino
final.
8. Em vários domingos durante o ano
somos embalados pelas imagens das parábolas que nos encantam e assustam, só não
nos deixam indiferentes. Por detrás de cada uma delas se esconde uma
verdade de caráter religioso. Jesus quer ilustrar por elas uma ideia ou
ensinamento que está no conjunto final e não nas partes, como na alegoria.
9. Mesmo aplicadas ao contexto
vivencial das comunidades primitivas, elas são do próprio Jesus, que busca nos
revelar os segredos do Reino. A explicação que ouvimos não pensa no contexto
final mas convida a perseverar aquele que escuta a palavra de Deus aqui e
agora.
10. O interrogante final do texto é
sempre o mesmo: que tipo de terreno somos nós, e eu em particular? Antes de
olhar e sondar o terreno alheio, cada um se veja pessoalmente e depois
comunitariamente. Como se não bastasse o nosso grande evangelho, segue uma
história ilustrativa.
A força da Palavra
Dizem que isto
aconteceu em um mosteiro chinês muito tempo atrás.
Um discípulo chegou
para o seu mestre e perguntou: - “Mestre, por que devemos ler e decorar a
Palavra de Deus se nós não conseguimos memorizar tudo e com o tempo acabamos
esquecendo? Somos obrigados a constantemente decorar de novo o que já
esquecemos”.
O mestre não
respondeu imediatamente ao seu discípulo. Ele ficou olhando para o horizonte
por alguns minutos e depois ordenou ao discípulo: - “Pegue aquele cesto de
junco, desça até o riacho, encha o cesto de água e traga até aqui”. O discípulo
olhou para o cesto sujo e achou muito estranha a ordem, mas mesmo assim,
obedeceu. Pegou o cesto, desceu os cem degraus da escadaria do mosteiro e
começou a subir de volta. Como o cesto era todo cheio de furos, a água foi
escorrendo e quando chegou até o mestre já não restava nada. O mestre
perguntou-lhe: - “Então, meu filho, o que você aprendeu”? O discípulo olhou
para o cesto vazio e disse, jocosamente: - “Aprendi que cesto de junco não
segura água”.
O mestre ordenou-lhe
que repetisse o processo de novo. Quando o discípulo voltou com o cesto vazio
novamente, o mestre perguntou-lhe: - “Então, meu filho, e agora, o que você
aprendeu”? O discípulo novamente respondeu com sarcasmo: - “Que cesto furado
não segura água”.
O mestre, então,
continuou ordenando que o discípulo repetisse a tarefa. Depois da décima vez, o
discípulo estava desesperadamente exausto de tanto descer e subir as
escadarias. Porém, quando o mestre lhe perguntou de novo: - “Então, meu filho,
o que você aprendeu”? O discípulo, olhando para dentro do cesto, percebeu
admirado: - “O cesto está limpo! Apesar de não segurar a água, a repetição
constante de encher o cesto acabou por lavá-lo e deixa-lo limpo”.
O mestre, por fim,
concluiu: - “Não importa que você não consiga decorar todas as passagens da
bíblia que você lê; o que importa, na verdade, é que no processo a sua mente e
a sua vida ficam limpas diante de Deus”.
Pe. João Bosco Vieira Leite