29º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 45,1.4-6; Sl 95[96]; 1Ts 1,1-5b; Mt 22,15-21)

1. Poderíamos pensar, depois da proclamação do evangelho que a liturgia vai abordar o tema da oposição entre o humano e o divino em termos de poder. Mas logo na 1ª leitura somos advertidos que não se trata de uma contraposição. Deus está acima de tudo. Como nos lembra uma dessa frases de caminhão: “Tudo é força, mas só Deus é poder”.

2. Ele é capaz de se servir dessas realidades humanas para realizar seu plano de salvação, como fez com Ciro, um comandante que acabará imperador na Babilônia, onde está o povo de Deus exilado. O profeta é um observador que percebe o movimento divino em meio as essas realidades para afirmar que o retorno à pátria foi obra da Providência divina.

3. O texto quer nos convidar a uma atenção sempre maior para discernirmos o agir de Deus em meio às realidades que atravessamos. Crer que Ele nos acompanha. Fatos e pessoas podem estar a serviço de Deus sem que eles o saibam.

4. Concluiremos esse ano litúrgico na 2ª leitura com a 1ª carta aos Tessalonicenses, que foi alvo do nosso estudo do mês da Bíblia desse ano. É 1º texto do Novo Testamento onde Paulo se dirige à comunidade fundada por ele nessa cidade portuária, com todos os problemas para a evangelização que essa realidade comporta.

5. Ele teve que deixar a comunidade precocemente sem firmar as suas bases de fé. Parte inquieto, mas tempos depois receberá notícias de que as sementes do evangelho ali lançadas por ele frutificaram. Paulo expressa nesses primeiros versículos sua alegria em saber que a sua oração tem sido ouvida; a comunidade se encontra alicerçada na fé, esperança e caridade. É Deus que conduz a obra por ele começada.

6. Vez em quando ouvimos alguma discussão sobre religião e estado, sobre o ensino religioso e por aí vai. Queiramos ou não, a religião é uma realidade presente que tem o seu lugar na organização da vida social e política.

7. O modo ardiloso com que se aproximam de Jesus os fariseus e simpatizantes de Herodes acabam por provocar a reflexão sobre essas duas realidades. Jesus se dá conta da armadilha e desloca a reflexão para um sentido mais amplo. Por trás da resposta de Jesus se afirma que a fé não pode ser vivida desligada das realidades deste mundo.

8. Nossa fé condiciona nossas escolhas, até mesmo no campo político e no cumprimento dos deveres de cidadão. Trazer consigo a moeda do imperador significa aceitar essa forma de organização da sociedade, ainda que ela não seja perfeita no que concerne ao direito e a justiça.

9. Se existem órgãos arrecadadores, também devem existir os fiscalizadores para o uso devido do que foi arrecadado e da dignidade do ser humano em meio a tudo isso. Mas Jesus não se limita a imagem do imperador que está na moeda, mas pergunta sobre a imagem divina que está no ser humano. Esta também não nos vincula a uma outra realidade?

10. Essa semana se discute sobre os rumos da noção de trabalho escravo. Por trás dessa discussão da nossa sociedade se esconde a dignidade do ser humano e a noção religiosa do seu valor diante de Deus. Assim, devemos estar vigilantes sobre nossas autoridades, contestar, criticar e reivindicar tudo aquilo que não respeita a imagem de Deus que está impressa em cada ser humano, mesmo que este não o reconheça.  


 Pe. João Bosco Vieira Leite