(Is 45,1.4-6; Sl 95[96]; 1Ts 1,1-5b; Mt 22,15-21)
1. Poderíamos pensar, depois da
proclamação do evangelho que a liturgia vai abordar o tema da oposição entre o
humano e o divino em termos de poder. Mas logo na 1ª leitura somos advertidos
que não se trata de uma contraposição. Deus está acima de tudo. Como nos lembra
uma dessa frases de caminhão: “Tudo é força, mas só Deus é poder”.
2. Ele é capaz de se servir dessas
realidades humanas para realizar seu plano de salvação, como fez com Ciro, um
comandante que acabará imperador na Babilônia, onde está o povo de Deus
exilado. O profeta é um observador que percebe o movimento divino em meio as
essas realidades para afirmar que o retorno à pátria foi obra da Providência divina.
3. O texto quer nos convidar a uma
atenção sempre maior para discernirmos o agir de Deus em meio às realidades que
atravessamos. Crer que Ele nos acompanha. Fatos e pessoas podem estar a serviço
de Deus sem que eles o saibam.
4. Concluiremos esse ano litúrgico na
2ª leitura com a 1ª carta aos Tessalonicenses, que foi alvo do nosso estudo do
mês da Bíblia desse ano. É 1º texto do Novo Testamento onde Paulo se dirige à
comunidade fundada por ele nessa cidade portuária, com todos os problemas para
a evangelização que essa realidade comporta.
5. Ele teve que deixar a comunidade
precocemente sem firmar as suas bases de fé. Parte inquieto, mas tempos depois
receberá notícias de que as sementes do evangelho ali lançadas por ele
frutificaram. Paulo expressa nesses primeiros versículos sua alegria em saber
que a sua oração tem sido ouvida; a comunidade se encontra alicerçada na fé,
esperança e caridade. É Deus que conduz a obra por ele começada.
6. Vez em quando ouvimos alguma
discussão sobre religião e estado, sobre o ensino religioso e por aí vai. Queiramos
ou não, a religião é uma realidade presente que tem o seu lugar na organização
da vida social e política.
7. O modo ardiloso com que se aproximam
de Jesus os fariseus e simpatizantes de Herodes acabam por provocar a reflexão
sobre essas duas realidades. Jesus se dá conta da armadilha e desloca a
reflexão para um sentido mais amplo. Por trás da resposta de Jesus se afirma
que a fé não pode ser vivida desligada das realidades deste mundo.
8. Nossa fé condiciona nossas escolhas,
até mesmo no campo político e no cumprimento dos deveres de cidadão. Trazer
consigo a moeda do imperador significa aceitar essa forma de organização da
sociedade, ainda que ela não seja perfeita no que concerne ao direito e a
justiça.
9. Se existem órgãos arrecadadores,
também devem existir os fiscalizadores para o uso devido do que foi arrecadado
e da dignidade do ser humano em meio a tudo isso. Mas Jesus não se limita a
imagem do imperador que está na moeda, mas pergunta sobre a imagem divina que
está no ser humano. Esta também não nos vincula a uma outra realidade?
10. Essa semana se discute sobre os
rumos da noção de trabalho escravo. Por trás dessa discussão da nossa sociedade
se esconde a dignidade do ser humano e a noção religiosa do seu valor diante de
Deus. Assim, devemos estar vigilantes sobre nossas autoridades, contestar,
criticar e reivindicar tudo aquilo que não respeita a imagem de Deus que está
impressa em cada ser humano, mesmo que este não o reconheça.
Pe. João Bosco Vieira Leite