12 de Outubro de 2017

Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida 
(Est 5,1b-2; 7,2b-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11).  

1. Sobre três figuras femininas, a liturgia de hoje celebra a Padroeira do Brasil. A eterna luta entre o bem e o mal, o papel feminino em destaque, símbolo da resistência, e a intercessão necessária. Nesse entrelaçado é que meditamos sobre os trezentos anos de caminhada sob o manto azul da padroeira, de sua intercessão pelo povo brasileiro, de sua vida exemplar para um povo ainda a caminho.

2. Esse ano, durante a semana, em nosso blog temos dedicado um olhar sobre os salmos que compõem a nossa liturgia. Eles são uma resposta oracional ao texto que o antecede. Assim, o salmo 45 nos é proposto como meditação depois de ouvirmos a ousada empreitada de Ester na sua intercessão para salvar o seu povo. Aqui ele é lido como salmo mariano.

3. É o único salmo, no Saltério, de poesia profana, por tratar-se de um cântico de louvor de um jovem rei e da sua consorte, princesa de Tiro, composto e recitado por um poeta da corte por ocasião do matrimônio do seu senhor. É claro que para estar na Bíblia, este passou por uma reelaboração e é lido pela comunidade judaica a partir da imagem do Messias, mas também numa linha eclesial e moral para os cristãos.

4. A liturgia dispensa a parte que elogia o rei para se concentrar na princesa a ser desposada. Tudo é fulgor, beleza, riqueza. Ela está deixando o palácio do pai, e um faustoso cortejo a leva para o palácio do rei. A atenção se volta para o rosto e a figura da rainha. Exalta-se suas vestes. Em todas as culturas ela é símbolo de dignidade.

5. Num primeiro momento, a interpretação cristã voltava-se para a relação entre Cristo e a Igreja e só depois se encaminha para uma via mariológica.

6. A partir do século VII as invocações marianas como rainha tornam-se intensas e apreciadas. Se o seu ser de criatura a torna próxima de nós, a sua realeza a transforma em mediadora eficaz junto de Deus; nela se entrelaça uma parentela divina e humana.

7. Assim, no rasto da tipologia de Ester, podemos compreender a intercessão de Maria junto de Cristo e de Deus. O evangelho das Bodas de Caná, reforça essa imagem. Muitos quadros da Virgem, a partir do sec. XV passam a trazê-la revestida de um grande manto que envolve vários personagens. É sabido que o perseguido que se refugiasse debaixo do manto real, sobretudo em época medieval, tinha direito à graça, uma vez que o manto era símbolo de dignidade e proteção.

8. Numa visão, Maria diz a Santa Brígida da Suécia: “O meu manto amplo e precioso é a minha misericórdia porque misericordiosa me tornou a misericórdia do meu Filho. Vem, pois, minha filha, e protege-te sob o meu manto”.

9. Em 1955, o Papa Pio XII instituiu a celebração de Maria Rainha, que atualmente fixou-se no dia 22 de agosto, como complemento da solenidade da Assunção com a qual compõem uma única realidade.

10. O ponto principal desenvolvido pela liturgia da Palavra é a intercessão, que acreditamos e mais uma vez recorremos em meios aos perigos que ameaçam o nosso futuro. Pedimos por misericórdia.

* Se o salmo diz logo ao início que a Rainha deve ter uma atitude de escuta. Seu aprendizado ao lado do Rei a faz convidar-nos a ‘fazer o que Ele nos disser’, para reconstruirmos nossos passos na direção de uma sociedade mais justa e igualitária sob a luz da Palavra de Deus. 


 Pe. João Bosco Vieira Leite