Solenidade
de Nossa Senhora da Conceição Aparecida
(Est 5,1b-2; 7,2b-3; Sl 44[45]; Ap
12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11).
1. Sobre três figuras femininas, a
liturgia de hoje celebra a Padroeira do Brasil. A eterna luta entre o bem e o
mal, o papel feminino em destaque, símbolo da resistência, e a intercessão
necessária. Nesse entrelaçado é que meditamos sobre os trezentos anos de
caminhada sob o manto azul da padroeira, de sua intercessão pelo povo
brasileiro, de sua vida exemplar para um povo ainda a caminho.
2. Esse ano, durante a semana, em nosso
blog temos dedicado um olhar sobre os salmos que compõem a nossa liturgia. Eles
são uma resposta oracional ao texto que o antecede. Assim, o salmo 45 nos é
proposto como meditação depois de ouvirmos a ousada empreitada de Ester na sua
intercessão para salvar o seu povo. Aqui ele é lido como salmo mariano.
3. É o único salmo, no Saltério, de
poesia profana, por tratar-se de um cântico de louvor de um jovem rei e da sua
consorte, princesa de Tiro, composto e recitado por um poeta da corte por
ocasião do matrimônio do seu senhor. É claro que para estar na Bíblia, este
passou por uma reelaboração e é lido pela comunidade judaica a partir da imagem
do Messias, mas também numa linha eclesial e moral para os cristãos.
4. A liturgia dispensa a parte que
elogia o rei para se concentrar na princesa a ser desposada. Tudo é fulgor,
beleza, riqueza. Ela está deixando o palácio do pai, e um faustoso cortejo a
leva para o palácio do rei. A atenção se volta para o rosto e a figura da
rainha. Exalta-se suas vestes. Em todas as culturas ela é símbolo de dignidade.
5. Num primeiro momento, a
interpretação cristã voltava-se para a relação entre Cristo e a Igreja e só
depois se encaminha para uma via mariológica.
6. A partir do século VII as invocações
marianas como rainha tornam-se intensas e apreciadas. Se o seu ser de criatura
a torna próxima de nós, a sua realeza a transforma em mediadora eficaz junto de
Deus; nela se entrelaça uma parentela divina e humana.
7. Assim, no rasto da tipologia de
Ester, podemos compreender a intercessão de Maria junto de Cristo e de Deus. O
evangelho das Bodas de Caná, reforça essa imagem. Muitos quadros da Virgem, a
partir do sec. XV passam a trazê-la revestida de um grande manto que envolve
vários personagens. É sabido que o perseguido que se refugiasse debaixo do
manto real, sobretudo em época medieval, tinha direito à graça, uma vez que o
manto era símbolo de dignidade e proteção.
8. Numa visão, Maria diz a Santa
Brígida da Suécia: “O meu manto amplo e precioso é a minha misericórdia porque
misericordiosa me tornou a misericórdia do meu Filho. Vem, pois, minha filha, e
protege-te sob o meu manto”.
9. Em 1955, o Papa Pio XII instituiu a
celebração de Maria Rainha, que atualmente fixou-se no dia 22 de agosto, como
complemento da solenidade da Assunção com a qual compõem uma única realidade.
10. O ponto principal desenvolvido pela
liturgia da Palavra é a intercessão, que acreditamos e mais uma vez recorremos
em meios aos perigos que ameaçam o nosso futuro. Pedimos por misericórdia.
* Se o salmo diz logo ao início que a
Rainha deve ter uma atitude de escuta. Seu aprendizado ao lado do Rei a faz
convidar-nos a ‘fazer o que Ele nos disser’, para reconstruirmos nossos passos
na direção de uma sociedade mais justa e igualitária sob a luz da Palavra de
Deus.
Pe. João Bosco Vieira Leite