(Dt 6,4-13; Sl 17[18; Mt 17,14-20) –
Memória de São Domingos
O livro do Deuteronômio trás a frase com a qual Jesus
responderá ao mestre da lei qual é o maior mandamento: “Amarás o Senhor teu
Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças...”
(cf. Mc 12,29-30). É uma mudança significativa esse apelo de Moisés, pois até
então, se temia o Senhor, agora é a dinâmica do amor que deve marcar a relação
entre Deus e o seu povo.
Para chegar a esse momento, Deus foi preparando o caminho.
Se fez conhecer numa relação pessoal com Abraão, demonstrando-lhe uma
maravilhosa benevolência que se estenderia a todos os seus descendentes,
guardando-os, protegendo-os, defendo-lhes, libertando e cumulando-os de
benefícios. Assim Deus demonstrou seu amor gênero, terno e forte.
Por isso ele pode pedir para ser amado, não para proveito
próprio, mas para sendo amado por dar-se ainda mais e introduzir-nos em Sua
vida de amor. Se uma pessoa recebe algo de outra pessoa sem corresponder com
amor que é o dom manifestado, a relação permanece incompleta. Não se trata
tanto da materialidade do que é doado, mas daquilo que há de pessoal e
espiritual no gesto realizado. O bem maior e mais precioso é a comunhão
interpessoal. O resto é secundário.
“Amarás o teu Deus” é verdade ele se fez “teu” e quer ser
sempre mais, para vivermos plenamente, na confiança, na alegria, na comunhão
com Ele e com todos. Para amar a Deus de todo o nosso coração sem a mínima
reserva, é preciso compreendê-lo como bondade infinita. Na nossa realidade
terrena as criaturas têm os seus limites e também seus defeitos, que tornam impossível
amá-las sem nenhuma reserva. Deus, ao contrário, é digno de um amor sem
reserva, ilimitado. Posso e devo amá-lo com todo o meu ser, porque é d’Ele que
vem todo o meu ser, por puro amor. De nenhuma pessoa se pode dizer algo igual.
Algumas pessoas me deram dons preciosos com muito afeto, mas nenhum me deu o
meu ser. E continuamente Ele me dá tudo: o ar que respiro, a luz que alegra os
meus olhos, o mundo e suas maravilhas, as pessoas que me circundam: “olho em
tudo, e sempre encontro a Ti...”
Amar a Deus não é tanto um mandamento, mas uma vocação que
corresponde à aspiração mais profunda do nosso ser. Por outro lado, amar a Deus
“de todo coração” é uma obra em longo prazo, pois pressupõe a eliminação
completa do nosso egoísmo, o que não se pode fazer num piscar de olhos. Mas
todo progresso, por menos que seja, nessa direção, é uma vitória que enche o
coração de uma verdadeira alegria.
Pe. João Bosco Vieira Leite