Sábado, 8 de Agosto de 2015


(Dt 6,4-13; Sl 17[18; Mt 17,14-20) – Memória de São Domingos


O livro do Deuteronômio trás a frase com a qual Jesus responderá ao mestre da lei qual é o maior mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças...” (cf. Mc 12,29-30). É uma mudança significativa esse apelo de Moisés, pois até então, se temia o Senhor, agora é a dinâmica do amor que deve marcar a relação entre Deus e o seu povo.

Para chegar a esse momento, Deus foi preparando o caminho. Se fez conhecer numa relação pessoal com Abraão, demonstrando-lhe uma maravilhosa benevolência que se estenderia a todos os seus descendentes, guardando-os, protegendo-os, defendo-lhes, libertando e cumulando-os de benefícios. Assim Deus demonstrou seu amor gênero, terno e forte.

Por isso ele pode pedir para ser amado, não para proveito próprio, mas para sendo amado por dar-se ainda mais e introduzir-nos em Sua vida de amor. Se uma pessoa recebe algo de outra pessoa sem corresponder com amor que é o dom manifestado, a relação permanece incompleta. Não se trata tanto da materialidade do que é doado, mas daquilo que há de pessoal e espiritual no gesto realizado. O bem maior e mais precioso é a comunhão interpessoal. O resto é secundário.

“Amarás o teu Deus” é verdade ele se fez “teu” e quer ser sempre mais, para vivermos plenamente, na confiança, na alegria, na comunhão com Ele e com todos. Para amar a Deus de todo o nosso coração sem a mínima reserva, é preciso compreendê-lo como bondade infinita. Na nossa realidade terrena as criaturas têm os seus limites e também seus defeitos, que tornam impossível amá-las sem nenhuma reserva. Deus, ao contrário, é digno de um amor sem reserva, ilimitado. Posso e devo amá-lo com todo o meu ser, porque é d’Ele que vem todo o meu ser, por puro amor. De nenhuma pessoa se pode dizer algo igual. Algumas pessoas me deram dons preciosos com muito afeto, mas nenhum me deu o meu ser. E continuamente Ele me dá tudo: o ar que respiro, a luz que alegra os meus olhos, o mundo e suas maravilhas, as pessoas que me circundam: “olho em tudo, e sempre encontro a Ti...”


Amar a Deus não é tanto um mandamento, mas uma vocação que corresponde à aspiração mais profunda do nosso ser. Por outro lado, amar a Deus “de todo coração” é uma obra em longo prazo, pois pressupõe a eliminação completa do nosso egoísmo, o que não se pode fazer num piscar de olhos. Mas todo progresso, por menos que seja, nessa direção, é uma vitória que enche o coração de uma verdadeira alegria.

Pe. João Bosco Vieira Leite