18º Domingo do Tempo Comum – Ano B



(Ex 16,2-4.12-15; Sl 77[78];Ef 4,17.20-24; Jo 6,24-35)


  Esse domingo do Tempo Comum vem em continuidade com o tema já proposto no domingo anterior a partir do gesto de Jesus de multiplicar os pães e peixes para a multidão. Muitos se dividem em afirmar que todo o capítulo 6 de João fale da Eucaristia; seria melhor crer que temas diversos aqui aparecem, apesar do texto caminhar para um discurso de linha mais eucarística.
  Olhemos, de maneira sintética, os textos desse domingo e algumas pistas reflexivas.
  A narrativa do Êxodo sobre a saída do povo de Deus do Egito, desde as pragas, a travessia do mar vermelho e os acontecimentos do deserto, foram elementos de estudo dos curiosos e cientistas. Muitos de tais fenômenos são explicáveis, quase que a destituir seu caráter de milagre; o que talvez eles não consigam enxergar é a ação divina por trás da coincidência entre o fenômeno e a necessidade.  Assim podemos ler os eventos do êxodo.
   Olhando de um modo mais amplo, essa mesma trajetória do povo, com seus altos e baixos, é um pequeno retrato do nosso caminhar na fé. Muitas vezes nossa conversão se vê acompanhada de uma saudade da vida anterior. O desânimo e a desconfiança da providência divina também podem fazer parte da caminhada. Mas Deus se faz sentir de alguma forma, mesmo em meio as nossas hesitações. Como o povo de Deus, levamos um tempo para compreender que, para que o nosso caminhar na fé não fracasse, precisamos de um outro pão que nos sustente, que deve ser buscado a cada dia.
  É dessa tentação do olhar para trás que Paulo adverte os seus ouvintes. Ele usa a imagem do “homem velho e do homem novo” para falar dessa nova realidade. O problema é quando tentamos harmonizar as duas coisas e já não sabemos exatamente, ou não fica claro quem de fato nós somos. Pode parecer simples a comparação de Paulo, mas ela não se dá como um processo mágico. Se levamos alguns minutos para trocar a roupa, levaremos uma vida para trocar um coração de pedra por um coração de carne.
   No domingo passado, após saciar a multidão, Jesus trata de escapar do povo que o quer aclamar rei; eles viram o milagre, mas não o sinal que apontava para a fé na sua pessoa. Ele não veio para facilitar a vida deles, mas para ensinar que o amor e a partilha produzem pão em abundância. É como se nós também tivéssemos que, sempre, reconsiderar os motivos pelos quais o buscamos. Para que as nossas expectativas não se frustrem, no exercício da fé, que não se reduz a raciocínios, pressupõe unir a própria vida à dele e confiar.
   João deixa claro que se Jesus parecia com Moisés no gesto de alimentar o povo, Ele é mais que Moisés; Ele é o próprio pão que o Pai do céu concede, que não se perde, mas é para toda uma vida. Para os seus ouvintes não era fácil fazer essa distinção entre os dois pães. Fome e sede são aqui dois termos que em João querem indicar nossa busca e desejo do próprio Deus.
   Os insatisfeitos ou insaciáveis, já sabem que muito do que buscaram não preencheu a sua vida de sentido. Cristo é o pão da Palavra que buscamos não como meros curiosos, mas desejosos que essa palavra encha de sentido a nossa vida. Como canta o Pe. Zezinho: “minha vida tem sentido, cada vez que eu venho aqui e te faço o meu pedido, de não me esquecer de Ti...”


Pe. João Bosco Vieira Leite