Domingo, 16 de Agosto de 2015


Assunção de Maria – Missa do Dia
(Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab; Sl 44[45]; 1 Cor 15,20-27 a)


1. No terreno da devoção à Nossa Senhora um dos desafios é não permitir que se tire dela a experiência humana comum a todos os cristãos.

* que ela percorreu um caminho de fé às vezes obscuro e cansativo, que não entendia tudo, mas meditava querendo entender.

2. É ela, que segundo o Ato dos Apóstolos, perseverava com os apóstolos em oração. Digo isso porque nossa devoção a Maria corre o risco de tirá-la desse contexto de “companheira de viagem” e coloca-la num mundo distante do nosso.

* O que celebramos hoje é o reconhecido mérito de quem fez a travessia, perseverou em meio as dificuldades e dúvidas e mereceu o devido prêmio: estar definitivamente ao lado de Deus.

3. Nossa liturgia da palavra se abre com essa cena grandiosa, carregada de simbolismo; nosso autor escreve para uma comunidade perseguida no fim do I sec.

* A mulher representa a comunidade, como no AT simbolizava também Israel. Ela deve dar à luz ao Messias, sabe que não é fácil, mas nas dificuldades encontrará em Deus o apoio necessário.

4. Ao aplicar esse texto a Maria, a liturgia talvez queira nos lembrar que, mesmo para ela, gerar esse Messias, viver dessa fé, não foi fácil nem tão simples como possa parecer.

* Só quem experimentou a dificuldade do caminho pode ser solidário com quem está a caminho. Acreditamos que nessa luta, no nosso peregrinar, não estamos sós...

5. Paulo toca o centro da festa de hoje: o mistério da ressurreição. A vitória de Cristo constitui a verdade central da nossa fé.

* O mistério da morte também nos acompanha, não só como realidade final, mas como experiência existencial: na doença, na dor, na desilusão, na solidão, na perda do vigor físico, vamos sendo tocados...

6. São muitas as perguntas que trazemos em nosso coração em torno dessa realidade, mas a fé em Deus nos convida a aceitar com serenidade essa nossa condição humana.

* Porque em tudo isso há um processo que culminará num modo de vida mais pleno e definitivo. Maria já goza desse estado novo de vida.

7. Tem a visão plena do que agora desconhecemos, porque soube fazer essa travessia que agora fazemos, buscando o olhar de Deus sobre essas realidades de morte que hoje contemplamos.

* O Termo “assunção” deixa um espaço aberto para entendermos que ela foi “assumida” por Deus, “transportada”, “transferida” dessa realidade para o mundo de Deus.

8. Para nós que caminhamos a proposta é a mesma, mesmo não tendo os mesmos privilégios que teve a Virgem. * enquanto esta história não tem um fim, recorremos àquela que pode interceder e ser uma luz para os que estão a caminho.

9. Para falar ainda mais do porque Maria já habita esse mundo de Deus, a liturgia nos oferece esse texto de Lucas; este não deve ser lido como uma crônica de um fato tal como está escrito;

* pois encontraremos vários problemas interpretativos, mas tomemos como uma catequese do autor sagrado a partir de gesto de Maria ou fato na vida de Maria.

10. Na saudação usual judaica “shalom”, Maria se insere no canto de paz que a presença de Jesus traz aonde chega através de cada um de nós que o acolhemos em nossa vida.

* A exclamação de Isabel traz consigo o selo do reconhecimento da ação de Deus através de instrumentos frágeis, mas disponíveis de todos os tempos.

11. Lucas é um conhecedor do AT e imprime nessa cena outras imagens e expressões próprias desse encontro de Deus com seu povo. Maria é, ali, a arca do encontro, que transporta em si o autor da graça.

* A alegria que Maria transmite com sua presença, deveria ser também a que transmitimos com nossa presença nos nossos espaços existenciais.

12.  Lucas proclama Maria como bem-aventurada por sua fé, que não obriga Deus a fazer demonstrações, mas que se funda somente na escuta da palavra e se manifesta na sua adesão incondicional à própria Palavra.

* Acreditar também requer coragem, pois implica mudança de atitudes. Maria nos ensina que vale a pena confiar nas palavras do Senhor sempre.

13. Nosso texto se conclui com o canto do Magnificat; visto, grosso modo, parece um texto de auto exaltação, mas Lucas se serve de um texto do AT para expressar novamente a fé de Israel num Deus capaz de reverter os processos da história.

* Em Maria, essa história de um Deus misericordioso tem continuidade; assim celebramos a bondade de Deus que a faz habitar consigo e perseguimos os seus passos para podermos também comungar do mesmo mistério.


Pe. João Bosco Vieira Leite