Quinta-feira, 06 de agosto de 2015


(Dn 7,9-10.13-14; Sl 96[97]; Mc 9,2-10) 
Festa da Transfiguração do Senhor


Essa festa comemora, com toda probabilidade, a dedicação das basílicas do Monte Tabor. É posterior à festa da Exaltação da Santa Cruz, da qual depende para a fixação de sua data. Segundo uma tradição, na realidade, a transfiguração de Jesus ter-se-ia dado quarenta dias antes da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro).
Surgiu no Ocidente, meados do século IX, em Nápoles, nos países germânicos e na Espanha. No oriente, “a Transfiguração de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” é celebrada com tanta intensidade quanto as maiores festas do ano. Nela se exprime a teologia da divinização do homem: “Neste dia, no alto do Tabor, Cristo transformou a natureza obscurecida de Adão (cheia de trevas); cobrindo-a com sua claridade, ele a divinizou” (E. Mercenier). Para nossa meditação transcrevo um texto de são Leão Magno, vale a pena conhecer o voo teológico e espiritual dos primeiros Padres da Igreja:

“Animado pela revelação dos mistérios e tomado do desprezo e do desgosto pelas coisas terrenas, o apóstolo Pedro estava como que raptado num êxtase, no desejo das coisas eternas e, repleto do gáudio por aquela visão, desejava habitar com Jesus no lugar em que sua glória se manifestara, constituindo a sua alegria. Eis por que disse; ‘Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, levantarei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias’ (Mt 17,4).
Mas o Senhor não respondeu a tal sugestão; não – é evidente – para mostrar que tal desejo seria mau, mas para significar que estava fora de hora, não podendo o mundo ser salvo sem a morte de Cristo. Assim, o exemplo do Senhor convida a fé dos que creem a compreender que, sem nenhuma dúvida, em relação à felicidade prometida, devemos, contudo, em meio às provas desta vida, pedir paciência antes que a glória. A felicidade do Reino não pode, de fato, preceder o tempo do sofrimento. 
E eis que “ainda falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e uma voz, que saiu da nuvem disse: ‘Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o! ’” (Mt 7,5). O Pai, sem nenhuma dúvida, estava presente no Filho e naquela luz que o Senhor tinha mostrado aos discípulos. A essência daquele que gera não estava separado do Unigênito gerado, mas para evidenciar a propriedade de cada pessoa, a voz saída da nuvem anunciou o Pai aos ouvidos, assim como o esplendor difundido do corpo revelou o Filho aos olhos. Ao ouvirem a voz, os discípulos caíram com rosto no chão, muito amedrontados, tremendo não somente diante da majestade do Pai, mas também diante do Filho. Por uma moção da mais profunda inteligência, com efeito, eles compreenderam que a divindade de ambos era única. E, como não havia dúvida na fé, não houve discrição no temor. Esse divino testemunho foi, pois, amplo e múltiplo”. 


Pe. João Bosco Vieira Leite