Assunção de Maria – Missa do Dia
(Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab;
Sl 44[45]; 1 Cor 15,20-27 a)
1. No terreno da devoção à Nossa Senhora um dos desafios é
não permitir que se tire dela a experiência humana comum a todos os cristãos.
* que ela percorreu um caminho de fé às vezes obscuro e
cansativo, que não entendia tudo, mas meditava querendo entender.
2. É ela, que segundo o Ato dos Apóstolos, perseverava com
os apóstolos em oração. Digo isso porque nossa devoção a Maria corre o risco de
tirá-la desse contexto de “companheira de viagem” e coloca-la num mundo
distante do nosso.
* O que celebramos hoje é o reconhecido mérito de quem fez a
travessia, perseverou em meio as dificuldades e dúvidas e mereceu o devido
prêmio: estar definitivamente ao lado de Deus.
3. Nossa liturgia da palavra se abre com essa cena
grandiosa, carregada de simbolismo; nosso autor escreve para uma comunidade
perseguida no fim do I sec.
* A mulher representa a comunidade, como no AT simbolizava
também Israel. Ela deve dar à luz ao Messias, sabe que não é fácil, mas nas
dificuldades encontrará em Deus o apoio necessário.
4. Ao aplicar esse texto a Maria, a liturgia talvez queira
nos lembrar que, mesmo para ela, gerar esse Messias, viver dessa fé, não foi
fácil nem tão simples como possa parecer.
* Só quem experimentou a dificuldade do caminho pode ser
solidário com quem está a caminho. Acreditamos que nessa luta, no nosso
peregrinar, não estamos sós...
5. Paulo toca o centro da festa de hoje: o mistério da ressurreição.
A vitória de Cristo constitui a verdade central da nossa fé.
* O mistério da morte também nos acompanha, não só como
realidade final, mas como experiência existencial: na doença, na dor, na
desilusão, na solidão, na perda do vigor físico, vamos sendo tocados...
6. São muitas as perguntas que trazemos em nosso coração em
torno dessa realidade, mas a fé em Deus nos convida a aceitar com serenidade
essa nossa condição humana.
* Porque em tudo isso há um processo que culminará num modo
de vida mais pleno e definitivo. Maria já goza desse estado novo de vida.
7. Tem a visão plena do que agora desconhecemos, porque
soube fazer essa travessia que agora fazemos, buscando o olhar de Deus sobre
essas realidades de morte que hoje contemplamos.
* O Termo “assunção” deixa um espaço aberto para entendermos
que ela foi “assumida” por Deus, “transportada”, “transferida” dessa realidade
para o mundo de Deus.
8. Para nós que caminhamos a proposta é a mesma, mesmo não
tendo os mesmos privilégios que teve a Virgem. * enquanto esta história não tem
um fim, recorremos àquela que pode interceder e ser uma luz para os que estão a
caminho.
9. Para falar ainda mais do porque Maria já habita esse
mundo de Deus, a liturgia nos oferece esse texto de Lucas; este não deve ser
lido como uma crônica de um fato tal como está escrito;
* pois encontraremos vários problemas interpretativos, mas
tomemos como uma catequese do autor sagrado a partir de gesto de Maria ou fato
na vida de Maria.
10. Na saudação usual judaica “shalom”, Maria se insere no
canto de paz que a presença de Jesus traz aonde chega através de cada um de nós
que o acolhemos em nossa vida.
* A exclamação de Isabel traz consigo o selo do
reconhecimento da ação de Deus através de instrumentos frágeis, mas disponíveis
de todos os tempos.
11. Lucas é um conhecedor do AT e imprime nessa cena outras
imagens e expressões próprias desse encontro de Deus com seu povo. Maria é,
ali, a arca do encontro, que transporta em si o autor da graça.
* A alegria que Maria transmite com sua presença, deveria
ser também a que transmitimos com nossa presença nos nossos espaços
existenciais.
12. Lucas proclama
Maria como bem-aventurada por sua fé, que não obriga Deus a fazer
demonstrações, mas que se funda somente na escuta da palavra e se manifesta na
sua adesão incondicional à própria Palavra.
* Acreditar também requer coragem, pois implica mudança de
atitudes. Maria nos ensina que vale a pena confiar nas palavras do Senhor
sempre.
13. Nosso texto se conclui com o canto do Magnificat; visto,
grosso modo, parece um texto de auto exaltação, mas Lucas se serve de um texto
do AT para expressar novamente a fé de Israel num Deus capaz de reverter os
processos da história.
* Em Maria, essa história de um Deus misericordioso tem
continuidade; assim celebramos a bondade de Deus que a faz habitar consigo e
perseguimos os seus passos para podermos também comungar do mesmo mistério.
Pe. João Bosco Vieira Leite