Todos os fiéis defuntos – 2024

(Is 25,6-9; Sl 24[25]; Rm 8,14-23; Mt 25,31-46) *

1. Esse ano as duas celebrações estão muitos próximas, ainda que invertidas. Amanhã contemplaremos a ‘Cidade do Céu’ onde estão os santos e santas. Hoje, também dentro desse olhar para as realidades últimas, comemoramos todos os fiéis defuntos, que nos precederam com o sinal da fé e dormem o sono da paz.

2. É muito importante que nós cristãos vivamos a relação com os defuntos na verdade da fé, e olhemos para a morte e para o além à luz da revelação.

3. Paulo, escrevendo às primeiras comunidades, exortava os fiéis a “não estar tristes como os outros que não têm esperança”. “Se de fato, - escrevia-, cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, através de Jesus, reunirá com ele todos os que estão mortos” (cf. 1Ts 4,13-14).

4. É necessário também hoje evangelizar a realidade da morte e da vida eterna, realidades particularmente sujeitas a crenças supersticiosas e a sincretismos, para que a verdade cristã não corra o risco de se misturar com mitologias de vários tipos.

5. Em sua Encíclica sobre a esperança cristã, ao falar da vida eterna, Bento XVI colocava algumas questões: a fé cristã é também para os homens e mulheres de hoje uma esperança que transforma e ampara sua vida? E de maneira mais radical: os homens e mulheres desta época ainda desejam a vida eterna? Ou tornou-se, porventura, a existência terrena o seu único horizonte?

6. Na realidade, como já observava Santo Agostinho, todos queremos a “vida bem-aventurada”, a felicidade, queremos ser felizes. Não sabemos bem o que seja e como seja, mas sentimo-nos atraídos por ela. Esta é uma esperança universal, comum aos homens e mulheres de todos os tempos e lugares.

7. A expressão “vida eterna” pretende dar um nome a esta expectativa insuprimível: não uma sucessão infinita, mas um imergir-se no oceano de amor infinito, no qual o tempo, o antes e o depois já não existem. Uma plenitude de vida e de alegria: é isto que esperamos e aguardamos do nosso ser com Cristo.

8. Renovamos hoje a esperança da vida eterna fundada realmente na Morte e Ressurreição de Cristo. “Ressuscitei e agora estou sempre contigo”, diz o Senhor, “e a minha mão ampara-te. Onde quer que tu caias, cairás nas minhas mãos e estarei sempre presente até na porta da morte. Onde ninguém te pode acompanhar e para onde nada podes levar, lá eu espero por ti para transformar para ti as trevas em luz”.

9. Mas a esperança cristã não é apenas individual, é sempre também esperança para os outros. As nossas existências estão profundamente ligadas umas às outras e o bem e o mal que cada qual pratica atinge sempre também os outros.

10. Assim, a oração de uma alma peregrina no mundo pode ajudar outra alma que se está a purificar depois da morte. Eis por que hoje a Igreja nos convida a rezar pelos queridos defuntos e a visitar os seus túmulos nos cemitérios.

11. Maria, estrela da esperança, torne mais forte e autêntica a nossa fé na vida eterna e ampare a nossa oração de sufrágio pelos irmãos defuntos. Amém.

* Com base em texto de Bento XVI

 

Pe. João Bosco Vieira Leite