Quarta, 6 de novembro de 2024

(Fl 2,12-18; Sl 26[27]; Lc 14,25-33) 31ª Semana do Tempo Comum.

“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” Lc 14,27.

“Para Jesus, segui-lo é seguir o caminho da cruz. No evangelho de Lucas, Jesus convida os seus discípulos duas vezes a carregarem a sua cruz: ‘Quem não carrega sua cruz e não vem em meu seguimento não pode ser meu discípulo’ (Lc 14,27); ‘Se alguém quiser vir em meu seguimento, renuncie a si mesmo, e tome sua cruz cada dia e siga-me’ (Lc 9, 23). A primeira palavra mostra a seriedade do ‘seguir’. Quem segue Jesus deve contar com isto: o seu caminho há de levar também à cruz, à perseguição, a hostilidade e finalmente à morte. A segunda palavra interpreta o seguimento da cruz como caminho espiritual. Lucas acrescenta aqui ‘cada dia’. Aí a cruz se torna imagem das aflições e dos conflitos cotidianos. Todo dia alguma coisa nos contraria. Todo dia os outros nos decepcionam ou nos ofendem. Se entendermos os desafios de cada dia como uma cruz, não nos farão desanimar: a cruz há de nos levar a uma união mais profunda com Cristo. A cruz acabará com a nossa vaidade. Vivemos muitas vezes, no nosso dia-a-dia, com uma imagem idealizada, ilusória de nós mesmos. Pensamos estar obedecendo à vontade de Deus, cumprindo o nosso dever. Quando alguém, então, nos critica e nos trata com injustiça, quando nos despreza e humilha, então sentimo-nos ofendidos e lamentamos a nossa situação. Jesus quer nos convidar para que deixemos nos lavrar por essas aflições de cada dia, para Deus. É isso, creio, que significa ‘abnegação’. Acontece que a palavra ‘abnegação’ muitas vezes foi mal entendida, como se devêssemos renegar completamente, nos desvalorizar ou deformar. A palavra grega ‘arneisthai’ significa ‘negar’, ‘resistir’, ‘distanciar-se’. Pelas experiências da cruz na minha vida devo renegar o meu ego que se enfuna, e imagina que tudo deve servir só a ele, mas para descobrir o meu verdadeiro ‘eu’. Devo me distanciar do egoísmo que gostaria de puxar tudo para si mesmo, a fim de descobrir debaixo disso o verdadeiro núcleo da minha pessoa. Essa palavra de Jesus não é uma exortação para eu tornar a minha vida bem penosa para mim mesmo e para me sobrecarregar, e sim um convite para me deixar lavrar pela vida e pelas suas aflições, para Deus. Então a vida me levará até Deus. Então a cruz se tornará a chave da vida. Abrirá a porta para o centro da minha alma, sou eu, além de sucesso e bem-estar, além de reconhecimento e acolhimento, além de crítica e humilhações” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite