Sábado, 09 de novembro de 2024

(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; Jo 2,13-22) Dedicação da Basílica do Latrão.

“No templo, encontrou vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados”

Jo 2,14.

“O dado foi recordado pelos observadores do fato religioso: Deus está presente nos povos pobres e marginalizados da terra, e está se ocultando lentamente nos povos ricos e poderosos. Os países que são pobres em poder, dinheiro e tecnologia são mais ricos em humanidade e espiritualidade do que as sociedades que os marginalizam. Talvez, o antigo relato de Jesus expulsando do Templo os vendedores nos leve à pista, não à única, que pode explicar o porquê deste ocultamente de Deus, precisamente nas sociedades da abundância e do bem-estar. O conteúdo essencial da cena evangélica pode resumir-se desta maneira: onde se busca o próprio proveito não há lugar para um Deus que é Pai de todos. Quando Jesus chega a Jerusalém, não encontra gente que busca a Deus, mas comércio. O próprio Templo converteu-se num grande mercado. A religião continua funcionando, mas ninguém escuta a Deus. Sua voz se extingue, silenciada pelo ruído do dinheiro. O que interessa é apenas o próprio proveito. Segundo o evangelista, Jesus atua movido pelo ‘zelo da casa de Deus’. O termo grego significa ardor, paixão. Jesus é um ‘apaixonado’ pela causa do verdadeiro Deus e, quando vê que está sendo desfigurado por interesses econômicos, reage com paixão, denunciando essa religião falsa e hipócrita. A atuação de Jesus lembra as terríveis condenações pronunciadas no passado pelos profetas de Israel. Só vou citar as palavras que Isaías põe nos lábios de Deus: ‘Estou farto de holocaustos... Não continueis a trazer-me oferendas vazias, nem incenso execrável... Eu desteto vossas solenidades e festas; tornaram-se para mim um peso que não suporto. Quando estendeis vossas mãos, fecho os olhos; ainda que multipliqueis as orações, não escutarei. Vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, afastai de minha vista vossas más ações. Cessai de fazer o mal e aprendei a fazer o bem. Buscai a justiça, corrigi o opressor. Fazei justiça ao órfão, defendei a viúva. Então vinde’ (Is 1,11-18). Não é de estranhar que na ‘Europa dos comerciantes’ se fale hoje de ‘crise de Deus’ (Gotteskrise). Onde se busca a própria vantagem ou ganho, sem levar em conta os necessitados, não há lugar para o verdadeiro Deus. Ali o anseio pela transcendência se apaga e as exigências do amor são esquecidas. Esta Europa do bem-estar, onde a crise de Deus já está gerando uma profunda crise do ser humano, precisa ouvir uma mensagem clara e apaixonante: ‘Quem não pratica a justiça e quem não ama seu irmão, não é de Deus’ (1Jo 3,10)” (José Antonio Pagola – O Caminho Aberto por Jesus – João – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite