(Ap 3,1-6.14-22; Sl 14[15]; Lc 19,1-10) 33ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus tinha entrado em Jericó e estava
atravessando a cidade” Lc
19,1.
“É
interessante como Lucas usa aqui grande número de verbos que indicam alguma
atividade. Jesus entra na cidade e passa por ela. Zaqueu corre na frente da
multidão. Naturalmente, ele não conseguiria atravessar a multidão. Ele trepa
num sicômoro, para que possa ver Jesus. Jesus olha para cima. Até agora todo
mundo olhara para baixo, para ver Zaqueu; ou passara por ele sem vê-lo.
Levantando o rosto para vê-lo, Jesus o prestigia. ‘Pela primeira vez, Zaqueu se
sente valorizado como homem’ (Huizing, p. 237). No ambiente helenístico,
‘anablepo’ significava olhar para cima, para o céu, ou para as ideias
imateriais. Jesus olha para cima para ver um homem. Neste homem ele vê o céu.
Olha para ele como se fosse o rosto de Deus. Isso cria um novo Zaqueu. Ele muda
de feição. No semblante de Jesus ele descobre seu próprio rosto. E esse rosto
se enche de alegria. Jesus o chama pelo nome. Rapidinho Zaqueu desce da árvore.
Ele, o baixinho, que queria subir demais, e exatamente por isso se excedeu,
agora desce. Ele fica humilde, ‘humilis’, familiar com a terra. Lá embaixo, no
chão, acontece o milagre da transformação. É pelo nome Jesus, querendo fazer
festa com ele, comer e beber com ele, que o homem Zaqueu é transformado. Neste
homem, Jesus, Zaqueu experimenta a divina salvação. Essa experiência lhe muda o
rumo. Jesus não prega a conversão, mas deixa Zaqueu experienciar o seu amor,
que o aceita incondicionalmente. Mas a experiência desse amor leva o chefe dos
publicanos à conversão. Agora ele quer dar metade de suas posses aos pobres, e
restituir o quádruplo se prejudicou alguém. Já que se sabe aceito, já que pôde
sentir sua própria dignidade, ele não precisa mais do mecanismo do auto
destaque e de nadar em dinheiro. Agora ele está livre para dar aquilo a que se
agarrava. A conversão nasceu da experiência da atenção, e da alegria que agora
brilha no seu rosto. Quem lê essa história ganha um rosto novo, como Zaqueu.
Alegra-se porque hoje Jesus levanta os olhos para ele e o chama pelo nome. Seus
olhos, que até agora só olharam para sua própria pessoa, abrem-se, e ele vê os
outros como são. Observa-os e torna-se seu irmão, sua irmã. Não houve uma
exortação para se converter; a conversão aconteceu ao se ler essa maravilhosa
história. É a teologia gentil de Lucas. Lucas não precisa humilhar as pessoas,
lembrando-lhes constantemente sua pecaminosidade. Ele conta sobre Jesus, amigo
de todos, que aborda as pessoas de tal maneira que mudam de rumo alegremente,
descobrindo assim também seu próprio humanismo, a sua própria humanidade, o seu
‘ser amigo de todos’” (Anselm
Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).
Pe.
João Bosco Vieira Leite