(Dn 12,1-3; Sl 15[16]; Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32) *
1.
Neste penúltimo domingo do ano litúrgico, escutamos esse texto clássico sobre o
fim do mundo. Em cada época tem sempre alguém a usar este texto de maneira ameaçadora
alimentando psicoses e angústias. Mas o próprio Evangelho nos aconselha, ao seu
final, a não nos perturbarmos com estas previsões de catástrofes.
2.
Se nem mesmo Jesus sabe, enquanto homem, o dia e a hora do fim, como dar ouvido
a esses adeptos de seitas ou fanáticos religiosos? A única coisa que Jesus nos
assegura é que Ele um dia reunirá seus eleitos dos quatro cantos da terra. Para
descrever tal momento, se serve de linguagem figurada, própria desse gênero
literário.
3.
Quando falamos do fim do mundo, com base na ideia que temos hoje de tempo,
pensamos no fim do mundo de modo absoluto, depois do qual só haverá a
eternidade (ou o nada, segundo a crença de alguns). A Bíblia raciocina com
categorias relativas e históricas, mais que absolutas e metafísicas.
4.
Quando ela fala do fim do mundo, entende, frequentemente, o mundo concreto. O
que de fato existe e é conhecido por um certo grupo de pessoas: o mundo deles.
Se trata, enfim, mais do fim de um mundo que o fim do mundo, ainda que as duas
perspectivas muitas vezes se entrelacem.
5.
Prova disso é que Jesus fala no Evangelho que ‘esta geração não passará até que
tudo isso aconteça’. De fato, aquele mundo judaico conhecido por aqueles que o
escutavam, passou tragicamente com a destruição de Jerusalém em 70 d.C.
6.
Isto não diminui, mas acrescenta seriedade ao empenho cristão. Seria uma
estupidez consolar-nos dizendo que, já que ninguém conhece quando será o fim,
esquecer-nos que esse pode ser para mim essa noite mesmo. O versículo seguinte
desse evangelho convida à vigilância (Mc 13,33).
7.
A vinda do Senhor, é para nós uma feliz esperança, não uma ameaça, como poderia
parecer. E isso depende da imagem que temos de Deus. Alguns discursos sobre o
fim do mundo têm sobre alguns um efeito devastador, pois reforça a ideia de um
Deus continuamente zangado, pronto a dar vazão a sua ira sobre o mundo.
8.
Este não é o Deus da Bíblia, nos lembra o nosso salmo. Deus é também justo e
santo. É indulgente, é favorável. Apresentá-lo como um patrão inflexível e
exigente seria a maior injustiça.
9.
Um monge inglês, Ian Petit, antes de morrer, escreveu um livro com o título:
“Deus não está zangado”. Neste descreve como, depois de ter sofrido um longo
tempo com a ideia de um Deus severo, exigente e um pouco ameaçador da sua
infância, havia chegado à descoberta libertadora que dá título ao seu livro.
10.
O anúncio do retorno de Cristo não tem como fim despertar angústia e medo em
quem busca viver retamente, mas o contrário: confiança e esperança. Os
primeiros cristãos haviam assimilado bem essa ideia e repetiam constantemente
em suas assembleias: Maranathá! Vem Senhor, como fazemos ainda hoje.
11.
Jesus nos diz: “Céus e terra passarão, mas minhas palavras não passarão”.
Alguns colocam em dúvida essa palavra. Se há aqueles que anunciam o fim do
mundo, também há os que anunciam o fim da religião, superadas pela ciência e
pela técnica.
12.
A ciência e a técnica já existem há tempo e seguem aceleradas e, no entanto,
muitos desses cientistas se mostram abertos e desejosos de um diálogo com a
religião, pois sentem-se incapazes de sozinhos, explicarem os mistérios do
Universo. Tudo depende de onde buscamos ver ou ler esses sinais do fim.
13.
A coisa mais sábia que o mundo e a religião podem fazer não é anunciar o fim
iminente de um ou de outra, mas adaptar-se a conviver juntos, e dar-se, se
possível, uma mão para tornar menos denso o mistério da vida e da morte aqui em
baixo.
* Reflexão com base em texto
de Raniero Catalamessa.
Pe.
João Bosco Vieira Leite