18º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 55,1-3; Sl 144[145]; Rm 8,35.37-39; Mt 14,13-21).

1. Nossa liturgia da Palavra se abre com esse convite do profeta Isaias a um povo que está sendo deportado e que sofre de fome e sede. Mas as palavras do profeta não visam tanto a materialidade dos bens, mas de algo maior que pode saciar o nosso íntimo, onde nossa verdadeira sede e fome permanecem.

2. A Palavra de Deus, segundo o profeta, pode satisfazer a sede do ser humano, que em última análise é sede de verdade, sede de bem, sede de um projeto justo pelo qual se pode gastar a própria vida. É possível saciar-se desses bens, desde que se abram os corações à escuta da Palavra.

3. O salmista canta essa memória que leva consigo, das vezes que Deus veio em auxílio do seu povo e o alimentou. Deus é bom, misericordioso, providente. “Ele está perto de toda pessoa que o invoca. De todo aquele que o invoca lealmente”. Unamo-nos a essa mesma confiança.

4. Essa experiência do amor de Deus em sua gratuidade, faz Paulo interromper seu discurso para falar da descoberta do amor de Cristo que supera todas as dificuldades. Pois a vida é marcada por lutas e confrontos, mas a certeza da vitória torna menos terríveis mesmo as provas mais difíceis.

5. A única coisa que pode nos separar do amor de Cristo seria a iniciativa nossa de afastamento. E nisso está a trágica grandeza da responsabilidade de cada um pela sua salvação ou perdição pessoal. Deus jamais se afasta, sua força amorosa é de atração.

6. A narrativa da multiplicação dos pães está presente nos quatro evangelhos. Certamente uma alusão ao Antigo Testamento, ao maná que todos comeram e ficaram saciados. Não é difícil perceber que os doze cestos fazem referências às tribos de Israel.

7. Mateus narra o episódio na perspectiva de um milagre que gera admiração. Mas certamente essa não é a intenção de Jesus. Quando ele percebe que os discípulos tencionam despedir a multidão e eles ficarem com os cinco pães. Jesus prefere uma refeição comum, onde o milagre vira um sinal.

8. Para Jesus não deveríamos deter-nos nas dificuldades, pois há um valor maior que devemos buscar. A compreensão e a prática do acolhimento do outro, com o pouco que se tem, para superar o nosso egoísmo. Para Jesus, os discípulos deveriam alargar sempre mais a comunhão de vida e de mesa.

9. Fechar-se ao acolhimento é um vírus que nos espreita de modo pessoal e comunitário. Jesus quer afastar essa tentação dos seus discípulos. Isso não diz respeito ao alimento em si, mas todas as barreiras que o mundo vai nos sugerindo.

10. Portanto, não se trata tanto de matar a fome por um dia a todos os que amanhã terão fome de novo, mas perceber essa abertura necessária para a vida, para o outro, pois nossa existência pode se fazer partilha. Mais que pão é preciso a capacidade de amar e acolher para vencer todas as barreiras e eliminar o ‘cada um por si’.

“Senhor Deus, que na compaixão do vosso Filho pelos pobres e os que sofrem manifestais a Vossa bondade de Pai, fazei que o pão multiplicado pela vossa Providência seja partido em caridade, e a comunhão nos Vossos santos mistérios nos abra ao diálogo e ao serviço de todos os homens” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite