(Is 55,1-3; Sl 144[145]; Rm 8,35.37-39; Mt 14,13-21).
1. Nossa liturgia da Palavra se abre
com esse convite do profeta Isaias a um povo que está sendo deportado e que
sofre de fome e sede. Mas as palavras do profeta não visam tanto a
materialidade dos bens, mas de algo maior que pode saciar o nosso íntimo, onde
nossa verdadeira sede e fome permanecem.
2. A Palavra de Deus, segundo o
profeta, pode satisfazer a sede do ser humano, que em última análise é sede de
verdade, sede de bem, sede de um projeto justo pelo qual se pode gastar a
própria vida. É possível saciar-se desses bens, desde que se abram os corações
à escuta da Palavra.
3. O salmista canta essa memória que
leva consigo, das vezes que Deus veio em auxílio do seu povo e o alimentou.
Deus é bom, misericordioso, providente. “Ele está perto de toda pessoa que o
invoca. De todo aquele que o invoca lealmente”. Unamo-nos a essa mesma
confiança.
4. Essa experiência do amor de Deus em
sua gratuidade, faz Paulo interromper seu discurso para falar da descoberta do
amor de Cristo que supera todas as dificuldades. Pois a vida é marcada por
lutas e confrontos, mas a certeza da vitória torna menos terríveis mesmo as
provas mais difíceis.
5. A única coisa que pode nos separar
do amor de Cristo seria a iniciativa nossa de afastamento. E nisso está a
trágica grandeza da responsabilidade de cada um pela sua salvação ou perdição
pessoal. Deus jamais se afasta, sua força amorosa é de atração.
6. A narrativa da multiplicação dos
pães está presente nos quatro evangelhos. Certamente uma alusão ao Antigo
Testamento, ao maná que todos comeram e ficaram saciados. Não é difícil
perceber que os doze cestos fazem referências às tribos de Israel.
7. Mateus narra o episódio na
perspectiva de um milagre que gera admiração. Mas certamente essa não é a
intenção de Jesus. Quando ele percebe que os discípulos tencionam despedir a
multidão e eles ficarem com os cinco pães. Jesus prefere uma refeição comum,
onde o milagre vira um sinal.
8. Para Jesus não deveríamos deter-nos
nas dificuldades, pois há um valor maior que devemos buscar. A compreensão e a
prática do acolhimento do outro, com o pouco que se tem, para superar o nosso
egoísmo. Para Jesus, os discípulos deveriam alargar sempre mais a comunhão de
vida e de mesa.
9. Fechar-se ao acolhimento é um vírus
que nos espreita de modo pessoal e comunitário. Jesus quer afastar essa
tentação dos seus discípulos. Isso não diz respeito ao alimento em si, mas
todas as barreiras que o mundo vai nos sugerindo.
10. Portanto, não se trata tanto de
matar a fome por um dia a todos os que amanhã terão fome de novo, mas perceber
essa abertura necessária para a vida, para o outro, pois nossa existência pode
se fazer partilha. Mais que pão é preciso a capacidade de amar e acolher para
vencer todas as barreiras e eliminar o ‘cada um por si’.
- “Senhor Deus, que na
compaixão do vosso Filho pelos pobres e os que sofrem manifestais a Vossa
bondade de Pai, fazei que o pão multiplicado pela vossa Providência seja
partido em caridade, e a comunhão nos Vossos santos mistérios nos abra ao
diálogo e ao serviço de todos os homens” (Giuseppe Casarin – Lecionário
Comentado – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite