Quarta, 26 de agosto de 2020

(2Ts 3,6-10.16-18; Sl 127[128]; Mt 23,27-32) 

21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós construís sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas’” Mt 23,29-30.

“A última invectiva trata da relação com os antepassados. Os fariseus distanciavam-se dos atos de seus pais. Nesse ponto, focaliza-se a maneira de lidar com o passado. Devemos ser muito criteriosos quando escolhemos as figuras do passado à memória das quais erguemos monumentos e que nos servem de modelo. Quando veneramos os mártires pode acontecer que vejamos neles apenas uma justificativa para as tendências assassinas que vicejam em nosso íntimo e que se manifestaram abertamente nos algozes dos santos do início da era cristã ou nos carrascos nazistas que dizimaram as fileiras da resistência. Quando veneramos teólogos como santos devemos lançar também um olhar crítico sobre as consequências provocadas por suas teologias, para verificar se foram benéficas ou desastrosas, do contrário ficamos condenados a repetir a mesma história. Gostaríamos de manter distância em relação aos atos negativos de nossos pais e não percebermos que somos iguais a eles. Essa regra se aplica inclusive à história de nosso próprio pai. Quem pretende ser totalmente diferente de seu pai acaba muitas vezes encarnando justamente aqueles aspectos que recrimina nele. O mesmo se aplica à história de um povo ou de uma Igreja. Jesus nos estimula a manter um distanciamento crítico em relação ao passado e fazer um exame de consciência para ver se não estamos agindo da mesma maneira que os matadores dos profetas de nossa história. Dessa forma, todas as sete invectivas podem ser interpretadas como advertências dirigidas a nós mesmos, para examinarmos a nossa consciência. Onde estamos abusando da espiritualidade para construir diante dos outros uma boa imagem de nós mesmos ou para criar uma dependência em relação a nós, a fim de exercer poder por meio da espiritualidade? Nenhum religioso está protegido contra esse abuso espiritual. Ele pode insinuar-se tanto em grupo conservadores quanto progressistas, tanto no âmbito eclesiástico quanto nos meios do new age. Em toda parte, existem pessoas que, em seu caminho espiritual, não conseguem libertar-se de seu ego; ao contrário, elas se valem da espiritualidade para inflar o seu ego e torna-lo imune a qualquer atitude crítica. Os romanos já diziam: Corruptio optimi pessima, isto é, a pior corrupção é a corrupção do melhor. O abuso da espiritualidade causa os maiores estragos na humanidade” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite