(1Cr 15,3-4.15-16;16,1-2; Sl 131; 1Cor 15,54-57; Lc 11,27-28)
1. Uma imagem atravessa a 1ª leitura da missa da
vigília e do dia: a arca da aliança. Davi fala desse transporte da arca para “o
lugar que lhe havia preparado”. O autor do Apocalipse diz que “Apareceu no
templo a arca da aliança”. Temos um movimento de transporte e um lugar
definitivo.
2. Os dois textos, associados a solenidade de hoje,
nos falam dessa passagem, transporte, da Virgem em corpo e alma, para a mansão
do grande Rei ou do seu Templo, para compreendermos o dogma da Assunção. Como
se dissesse que aquilo que Deus toca, lhe estará consagrado e reservado para
sempre.
3. A arca era a depositária dos mandamentos, da
palavra escrita por Deus a seu povo. Para Israel, a arca da aliança traz dentro
de si o próprio Deus. Assim, na ladainha de N. Sra. Senhora se aplica o título
de Arca da Aliança. Os Padres da Igreja e célebres escritores fizeram várias
aplicações/comparações marianas a esta imagem da arca.
4. No texto que acompanhamos na vigília, Davi está
transportando para Jerusalém a ‘arca de Deus’ para assim atribuir a Jerusalém
uma autoridade sagrada. Um exegeta francês identifica, na narração da visita de
Maria a Isabel, uma espécie de decalque dessa narrativa da trasladação da arca
para Sião. Assim Lucas vê a alegria e a admiração de Isabel.
5. A arca era uma espécie de caixa de madeira de
acácia, revestida de ouro por dentro e por fora, sobre a qual duas esculturas
de querubins sustentavam uma placa de ouro, onde Deus repousaria os seus pés.
Madeira e ouro simbolizam a união do humano e do divino.
6. Durante a conquista da Terra Prometida a arca
era a proteção nas guerras: dela Deus dirigia o exército de Israel. Se Deus
deixava a arca, ela era capturada pelos inimigos.
7. Lucas vê Maria como a arca da nova aliança; ela
é o lugar privilegiado da epifania de Deus, nela é-nos apresentado e oferecido
o Salvador do mundo. A pregação popular dirá que ela é como um “ostensório” de
Cristo.
8. A liturgia copta a invoca muitas vezes como
“arca santa, castelo onde o Senhor repousou, trono do Onipotente, tabernáculo
puro, casa de Deus, palácio do grande Rei, altar de Deu Pai”.
9. Assim podemos compreender, através dessa imagem
e desses títulos a ela atribuídos, que no evangelho as palavras de Jesus não a
afastam de si, mas a colocam num patamar todo particular. Se a arca continha os
mandamentos, Maria carrega em si a vivência desses mandamentos, cuja essência é
fazer a vontade de Deus.
10. Se a arca era a proteção nas guerras: podemos
concluir com esta oração à Virgem Maria contra as pestes incuráveis, algo
propício ao nosso tempo: “Arca Santa e Imaculada/ tão pura e cheia de
Graça/ sede a nossa salvação/ nesse período de desgraças. / És a Mãe de Deus
humanado/ que por nós expirou na cruz./ Que pedirás, ó Senhora,/ que vos negue
o bom Jesus?/ Advogada Celeste/ desta pobre humanidade/ perdão, Senhora,/
alcançai-nos da divina majestade./ Dissipa a cruel peste/ poderosa intercessora/
como a cabeça esmagaste/ da serpente enganadora./ A natureza, Senhora,/ ao seu
Filho obedece,/ e o vosso Filho que a rege/ não resiste à vossa prece. Amém!”.
Pe. João Bosco Vieira Leite