(Na 2,1.3; 3,1-3.6-7; Sl Dt 32; Mt 16,24-28)
18ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus disse aos
discípulos: ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
me siga’”
Mt 16,24.
“Terminada a objeção
de Pedro e a repreensão veemente de Jesus, Mateus transmite-nos palavras de
Jesus que pretendem ensinar-nos o mistério do seu seguimento. São palavras
frequentemente discutidas, que geram controvérsias e que irritam muita gente.
Como devemos entende-las? ‘Se alguém quer vir em meu seguimento, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me’ (16,24). Sobretudo a exigência da renúncia de
si mesmo foi muitas vezes interpretada erroneamente como autonegação, auto
desvirtuamento e autodepreciação. Mas não é disso que Jesus está falando. A
palavra grega aparneisthai quer dizer: ‘dizer não, recusar-se’. Quem segue a
Jesus precisa dizer não às tendências egocêntricas de sua alma, as quais
gostariam de apoderar-se até mesmo do elemento divino. Justamente diante do
pano de fundo da cena anterior, em que Pedro até acabaria com o sofrimento se
pudesse, a palavra de Jesus recomenda a aceitação da vida como ela é. Não
podemos apropriar-nos de Deus, abusando dele para ‘ficar numa boa’, estar
sempre feliz. Quem quer experimentar Deus, precisa manter a distância de seu
ego. Foram os místicos que compreenderam bem essa palavra. Quem quer obrigar
Deus a adaptar-se ao seu ego abusa dele e nem chega a conhecer o verdadeiro
Deus. Deus é maior que o ego. Não se trata de dar à palavra de Jesus apenas um
sentido ascético, como se fosse o caso de mortificar todas as paixões, mas
precisamos de fato guardar distância em relação à tendência que existe dentro
de nós de querer tudo, de querer assenhorar-se de tudo, de querer usar tudo em
proveito próprio, de girar sempre apenas em torno de si mesmo, de tentar puxar
para si até o próprio Deus. Quem se fixa no seu pequeno eu pensa exclusivamente
em sua ‘autoconservação receosa’ (Drewermann). Quem segue Jesus fica com o
coração alargado e oferece a Deus o seu eu frágil. A verdadeira experiência de
Deus só é possível quando soltamos o nosso ego. Quando a experiência de Deus
tem a finalidade de inchar o ego, o ser humano fica cego e perde o rumo.
Portanto, a palavra da renúncia a si mesmo não é uma palavra de cunho ascético,
e sim místico. Nela aparece Jesus como o mestre da sabedoria mística. Jesus
quer introduzir os seus discípulos numa espiritualidade que deixa Deus ser Deus
e que enxerga a realidade como ela é, sem querer apropriar-se de Deus nem da
realidade” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).
Santo do Dia:
São Caetano, presbítero. Nascido
em Vicência, contemporâneo de Lutero, de família nobre, foi secretário
particular do papa Júlio II e protonotário apostólico, tendo assim contato com
cardeais e prelados famosos. Celebrou sua primeira missa aos 36 anos. Sua
primeira paróquia foi Santa Maria de Malo, perto de Vicência. Pela sua própria
experiência, viu que o clero precisava ser renovado e para isso criou a Ordem
dos Teatinos Regulares. Era o ano de 1524. A congregação foi aprovada pelo papa
Clemente VII no mesmo ano de sua criação. O primeiro superior geral foi dom
Carafa, que renunciado a dois bispados, esteve junto a Caetano na criação da
Ordem e que seria nomeado papa futuramente: Paulo IV, um grande reformador do
clero. Canonizado em 1647, Caetano foi um reformador ao contrário do seu
contemporâneo Lutero, partindo de dentro pra fora. Além de sua generosidade
para com os pobres, abriu asilos para os velhos e fundou hospitais. Morreu em
Nápoles aos sessenta e sete anos.
Pe. João Bosco Vieira Leite