Sexta, 07 de agosto de 2020

(Na 2,1.3; 3,1-3.6-7; Sl Dt 32; Mt 16,24-28) 

18ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga’”

Mt 16,24.

“Terminada a objeção de Pedro e a repreensão veemente de Jesus, Mateus transmite-nos palavras de Jesus que pretendem ensinar-nos o mistério do seu seguimento. São palavras frequentemente discutidas, que geram controvérsias e que irritam muita gente. Como devemos entende-las? ‘Se alguém quer vir em meu seguimento, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’ (16,24). Sobretudo a exigência da renúncia de si mesmo foi muitas vezes interpretada erroneamente como autonegação, auto desvirtuamento e autodepreciação. Mas não é disso que Jesus está falando. A palavra grega aparneisthai quer dizer: ‘dizer não, recusar-se’. Quem segue a Jesus precisa dizer não às tendências egocêntricas de sua alma, as quais gostariam de apoderar-se até mesmo do elemento divino. Justamente diante do pano de fundo da cena anterior, em que Pedro até acabaria com o sofrimento se pudesse, a palavra de Jesus recomenda a aceitação da vida como ela é. Não podemos apropriar-nos de Deus, abusando dele para ‘ficar numa boa’, estar sempre feliz. Quem quer experimentar Deus, precisa manter a distância de seu ego. Foram os místicos que compreenderam bem essa palavra. Quem quer obrigar Deus a adaptar-se ao seu ego abusa dele e nem chega a conhecer o verdadeiro Deus. Deus é maior que o ego. Não se trata de dar à palavra de Jesus apenas um sentido ascético, como se fosse o caso de mortificar todas as paixões, mas precisamos de fato guardar distância em relação à tendência que existe dentro de nós de querer tudo, de querer assenhorar-se de tudo, de querer usar tudo em proveito próprio, de girar sempre apenas em torno de si mesmo, de tentar puxar para si até o próprio Deus. Quem se fixa no seu pequeno eu pensa exclusivamente em sua ‘autoconservação receosa’ (Drewermann). Quem segue Jesus fica com o coração alargado e oferece a Deus o seu eu frágil. A verdadeira experiência de Deus só é possível quando soltamos o nosso ego. Quando a experiência de Deus tem a finalidade de inchar o ego, o ser humano fica cego e perde o rumo. Portanto, a palavra da renúncia a si mesmo não é uma palavra de cunho ascético, e sim místico. Nela aparece Jesus como o mestre da sabedoria mística. Jesus quer introduzir os seus discípulos numa espiritualidade que deixa Deus ser Deus e que enxerga a realidade como ela é, sem querer apropriar-se de Deus nem da realidade” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 

Santo do Dia:

São Caetano, presbítero. Nascido em Vicência, contemporâneo de Lutero, de família nobre, foi secretário particular do papa Júlio II e protonotário apostólico, tendo assim contato com cardeais e prelados famosos. Celebrou sua primeira missa aos 36 anos. Sua primeira paróquia foi Santa Maria de Malo, perto de Vicência. Pela sua própria experiência, viu que o clero precisava ser renovado e para isso criou a Ordem dos Teatinos Regulares. Era o ano de 1524. A congregação foi aprovada pelo papa Clemente VII no mesmo ano de sua criação. O primeiro superior geral foi dom Carafa, que renunciado a dois bispados, esteve junto a Caetano na criação da Ordem e que seria nomeado papa futuramente: Paulo IV, um grande reformador do clero. Canonizado  em 1647, Caetano foi um reformador ao contrário do seu contemporâneo Lutero, partindo de dentro pra fora. Além de sua generosidade para com os pobres, abriu asilos para os velhos e fundou hospitais. Morreu em Nápoles aos sessenta e sete anos. 

Pe. João Bosco Vieira Leite