(Jr 20,7-9; 62[63]; Rm 12,1-2; Mt 16,21-27)
1. Nossa liturgia se abre com essa
confissão de Jeremias, enamorado por Deus, seduzido por Ele, aceita segui-lo,
mas faz a dolorosa experiência de sentir-se só e rejeitado por causa da palavra
que deve anunciar; pensa abandonar seu ministério, mas algo dentro dele o faz
continuar.
2. Talvez as palavras do profeta sejam
inseridas aqui para traduzir os sentimentos de Pedro, elogiado por um momento,
rejeitado por outro, mas que não abandonou o caminho do seguimento do Mestre.
Talvez os nossos próprios sentimentos ao perceber a dificuldade em seguir
Jesus.
3. Jesus anuncia sua paixão e temos a
reação de Pedro. Jesus aproveita, então para expor as condições do seguimento.
Se reconhecemos verdadeiramente quem é Jesus, conforme o evangelho do domingo
anterior, outra resposta não podemos dar se não colocar-nos em seu seguimento.
4. Seguir a Cristo significa abraçar o
caminho do discipulado, que tem matiz própria em cada vocação. Paulo entende
esse seguimento como uma entrega ou oferecimento de si mesmo a Deus, como a
própria liturgia nos convida a colocar nossa vida em comunhão com a entrega de
Cristo, colocando nossa existência no próprio altar.
5. Essa comunhão com o destino de Jesus
pode concretizar-se em nosso tempo como uma abertura às realidades que nos
cercam, como fez Jesus, particularmente a realidade da pobreza que contemplamos
em seus vários aspectos.
6. Certamente o tempo de Jesus era
diverso do nosso, mas os critérios e atitudes que guiaram o seu agir são
perenes, como no sermão da Montanha apresentado por Mateus cuja síntese se
encontra nas bem-aventuranças.
7. Se no nosso seguimento encontramos
dificuldades, qualquer forma de oposição, devemos ser conscientes que o
programa das Bem-aventuranças colide frontalmente com os critérios do mundo e
os interesses materialistas do nosso tempo.
8. Disse alguém que o ser humano em
nosso tempo, qual criança mimada no capricho e na abundância, não aprecia
valores do espírito como a renúncia e a ascese.
9. Quando Jesus nos convida a assumir a
cruz e praticar a abnegação, como condição para o seguimento, não é um atentado
à personalidade, mas libertação do eu egoísta e mesquinho, para se abrir ao
autodomínio e à entrega aos outros.
10. Isso possibilita uma maior
maturidade e plenitude humanas, ou seja, faz-nos crescer como pessoas e como
discípulos de Cristo. Ele propõe-nos a libertação do autismo, não a repressão
psicológica.
- “Bendizemos-Te, Pai, porque
Cristo nos chama a todos ao seu seguimento através de uma ascese alegre e
libertadora. O próprio Jesus nos precedeu e mostrou com o seu exemplo que a
vida brota com pujança da abnegação, da renúncia, da cruz e da morte. Assim
somos convidados por Jesus a participar no seu destino. Tu, Senhor, queres que
sejamos livres para amar sem medida. Concede-nos seguir Cristo incondicionalmente
em todo o momento, sem claudicar nas dificuldades e incompreensões. Ajuda-nos a
fazer nossos os seus critérios e atitudes para assimilar e viver com alegria o
espírito das Bem-aventuranças, e poder participar um dia da condição gloriosa.
Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo –
Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite