Quinta, 23 de janeiro de 2020


(1Sm 18,6-9; 19,1-7; Sl 55[56]; Mc 3,7-12) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“Mas Jesus ordena severamente para não dizerem quem ele era” Mc 3,12.

“Quem é Jesus? Não ofendemos ninguém com a pergunta, pois supomos que todos vós sabeis atribuir a Jesus a definição que nos oferece o catecismo: é o Filho de Deus feito homem; e supomos que todos tendes d’Ele uma informação abundante, proporcionada pelas narrações evangélicas e pelas noções teológicas, bem como, eventualmente, por imagens devotas ou artísticas também. Tudo isto está muito bem, e pensamos que é normal em todos os que têm o nome de cristãos. Mas, a primeira nota característica e fundamental do nosso conhecimento de Jesus Cristo é a seguinte: o fato de, se verdadeiramente o conhecemos, advertimos que não o conhecemos suficientemente. O que sabemos d’Ele não tranquiliza a nossa necessidade, o nosso dever de um conhecimento inteligente, mas estimula, excita, inflama tanto aquela necessidade como aquele dever. Todos nos sentimos convidados, quase forçados, lógica e espiritualmente, a conhece-lo melhor, a formarmo-nos d’Ele um conceito mais claro, mais concreto, mais completo. E esta nova curiosidade não nos deixa em paz, apodera-se-nos do espírito com uma pergunta implacável: quem é Jesus? Assim se chega, irmãos e filhos caríssimos, a uma segunda observação relativa ao conhecimento do Senhor Jesus: este conhecimento é gradual. Não só se não confina a uma simples imagem sensível: um quadro, uma cena evangélica, uma narração biográfica...; mas, se realmente se encontra de algum modo impresso no nosso espírito, desperta o desejo de o identificar melhor, de o aprofundar, de lhe comprovar o significado e o conteúdo. Torna-se problema: afinal que é esse Jesus? ... Jesus é mistério. Não podermos nunca penetrá-lo suficientemente, nunca podermos compreendê-lo inteiramente. O nosso conhecimento d’Ele ao fim de tudo teve que traduzir-se na fé, isso é, num conhecimento super-racional; certíssimo, mas fundado em testemunhos que ultrapassam, parcialmente, a nossa possibilidade de verificação experimental. Estes testemunhos têm, contudo, em si mesmos, força de convicção, porque, no fundo, são divinos e por isso exigem de nós aquele modo expansivo de conhecer (com a mente e com o coração, sem se compreender tudo, porque neles é demasiado o que há de ser compreendido) o que, precisamente, chamamos de fé. Jesus deve ser estudado com toda a tensão da nossa capacidade compreensiva: e a capacidade de compreensão do amor ultrapassa a da mera inteligência. Foi assim para a Igreja: repensou, estudou, discutiu, contou com a luz do Espírito Santo; com uma preocupação prudentíssima e fidelíssima, prolongada por séculos, conseguiu formular a doutrina exata, mas sempre sem fronteira, sempre aberta, sobre o mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo: quem foi Ele, que fez Ele por nós; e depois, como Ele se nos dá e se nos dará” (Paulo VI – Conhecer Cristo – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite