(1Sm 18,6-9; 19,1-7; Sl 55[56]; Mc 3,7-12)
2ª Semana do Tempo Comum.
“Mas Jesus ordena
severamente para não dizerem quem ele era” Mc 3,12.
“Quem é Jesus? Não
ofendemos ninguém com a pergunta, pois supomos que todos vós sabeis atribuir a
Jesus a definição que nos oferece o catecismo: é o Filho de Deus feito homem; e
supomos que todos tendes d’Ele uma informação abundante, proporcionada pelas
narrações evangélicas e pelas noções teológicas, bem como, eventualmente, por
imagens devotas ou artísticas também. Tudo isto está muito bem, e pensamos que
é normal em todos os que têm o nome de cristãos. Mas, a primeira nota
característica e fundamental do nosso conhecimento de Jesus Cristo é a
seguinte: o fato de, se verdadeiramente o conhecemos, advertimos que não o
conhecemos suficientemente. O que sabemos d’Ele não tranquiliza a nossa
necessidade, o nosso dever de um conhecimento inteligente, mas estimula,
excita, inflama tanto aquela necessidade como aquele dever. Todos nos sentimos
convidados, quase forçados, lógica e espiritualmente, a conhece-lo melhor, a
formarmo-nos d’Ele um conceito mais claro, mais concreto, mais completo. E esta
nova curiosidade não nos deixa em paz, apodera-se-nos do espírito com uma
pergunta implacável: quem é Jesus? Assim se chega, irmãos e filhos caríssimos,
a uma segunda observação relativa ao conhecimento do Senhor Jesus: este
conhecimento é gradual. Não só se não confina a uma simples imagem sensível: um
quadro, uma cena evangélica, uma narração biográfica...; mas, se realmente se
encontra de algum modo impresso no nosso espírito, desperta o desejo de o
identificar melhor, de o aprofundar, de lhe comprovar o significado e o
conteúdo. Torna-se problema: afinal que é esse Jesus? ... Jesus é mistério. Não
podermos nunca penetrá-lo suficientemente, nunca podermos compreendê-lo
inteiramente. O nosso conhecimento d’Ele ao fim de tudo teve que traduzir-se na
fé, isso é, num conhecimento super-racional; certíssimo, mas fundado em
testemunhos que ultrapassam, parcialmente, a nossa possibilidade de verificação
experimental. Estes testemunhos têm, contudo, em si mesmos, força de convicção,
porque, no fundo, são divinos e por isso exigem de nós aquele modo expansivo de
conhecer (com a mente e com o coração, sem se compreender tudo, porque neles é
demasiado o que há de ser compreendido) o que, precisamente, chamamos de fé.
Jesus deve ser estudado com toda a tensão da nossa capacidade compreensiva: e a
capacidade de compreensão do amor ultrapassa a da mera inteligência. Foi assim
para a Igreja: repensou, estudou, discutiu, contou com a luz do Espírito Santo;
com uma preocupação prudentíssima e fidelíssima, prolongada por séculos,
conseguiu formular a doutrina exata, mas sempre sem fronteira, sempre aberta,
sobre o mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo: quem foi Ele, que fez Ele por
nós; e depois, como Ele se nos dá e se nos dará” (Paulo VI
– Conhecer Cristo – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite