(1Jo 2,29—3,6; Sl 97[98]; Jo 1,29-34)
Tempo de Natal.
“No dia seguinte,
João viu Jesus aproximar-se dele e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do
mundo’” (Jo 1,29).
“Há uma dupla
perspectiva em São João ao chamar Cristo de ‘Cordeiro de Deus’: uma sacrificial
e outra vitória pascal. Por um lado, Cristo é comparado ao cordeiro que é
levado ao matadouro e imolado pelos pecados do povo para granjear o perdão de
Deus. Neste sentido, é chamado também de ‘Servo de Javé’, e é submetido a todo
tipo de crueldade, sem abrir a boca, apresentando-se como homem das dores, sem
forma e beleza, desprezado e condenado, assumindo as nossas fraquezas. Esta
imagem é muito forte e passou para a piedade popular com especial apelo e
emoção. Nossos pobres se sentem como este Cristo, cordeiro imolado, que
partilha de suas dores, mudo e sem abrir a boca, mas sem defeito, sem pecado e
inocente. Por outro lado, este cordeiro, embora manso e de peito transpassado,
se encontra de pé, vitorioso e pascal, segurando a flâmula da ressurreição e
atestando o poder de Deus sobre a morte. Ele é exaltado sobre seus inimigos,
sendo aclamado como ‘rei dos reis e senhor dos senhores’ (Ap 17,14; 19,16). Investido
de poder divino, julga até os seres celestes e é seguido por um séquito de
santos, virgens e mártires, que cantam seus louvores e glorificam seu nome.
Esta é a imagem que São João traça de Jesus no fim do primeiro século, em meio
às perseguições que os primeiros cristãos tiveram que enfrentar. E esta é a
mensagem que a Bíblia transmite: o cristão de todos os tempos terá que imitar
Jesus, o Cordeiro de Deus, sacrificando-se pelos pecados dos homens, mas
tornando-se, pela força de Deus, vitorioso e pascal. Um novo ano está
começando, cheio de mistério e interrogações. O que ele nos reserva? Só Deus o
sabe. Mas podemos imaginar que, por um lado, teremos que enfrentar o poder das
trevas, mas temos, por outro, a certeza da proteção e vitória do crucificado. – Senhor,
nosso Deus, grande e bom, dai-nos a graça de seguir Jesus, o vosso Cordeiro.
Que os sofrimentos não nos desesperem e que vossa proteção aumente nossa pobre
fé. Amém” (Neylor – Graças a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite