Batismo do Senhor – Ano A


(Is 42,1-4.6-7; Sl 28[29]; At 10,34-38; Mt 3,13-17).

1. Nossa Liturgia da Palavra se abre com a figura do ‘Servo do Senhor’ do profeta Isaias. Nós já conhecemos esse personagem do período quaresmal, onde essa misteriosa figura, que não sabemos tratar-se de alguém ou de todo o povo de Israel, é identificado com a pessoa de Jesus no processo da sua paixão em seu ato de entrega.

2. Se o profeta estava a descrever o agir do Messias, não o sabemos, mas tudo aquilo que se fala do ‘Servo’, os evangelhos aplicaram a Jesus. Além da missão que  o ‘Servo’ desenvolverá, o texto nos fala do seu chamado, lançando luz sobre o Evangelho, enchendo de significados o Batismo de Jesus.

3. Em seu discurso na casa de Cornélio, em Cesaréia, Pedro reconhece que Deus não faz distinção de pessoas com relação à admissão dos pagãos ao Batismo; ele apresenta também uma síntese sobre Jesus: onde começou seu ministério sob a ação do Espírito Santo e do bem praticado por Ele. O olhar de todo batizado deve estar em Jesus.

4. No tempo de Jesus, além de João Batista, outras seitas praticavam o rito do Batismo, praticamente todas elas traziam em si o simbolismo de uma vida passada que se extinguia, que era levada pelas águas, e a abertura ao novo, nesse mergulhar e retornar. Um novo nascimento.

5. O Batismo de João tinha o forte sentido de conversão, marcado pelo sentido do pecado, por isso ele rejeita batizar Jesus, reconhecendo-O superior a si. Com esse gesto, que cumpre a justiça, Jesus se coloca ao lado dos pecadores, se faz um com eles para com eles percorrer esse caminho de libertação.

6. É justamente nessa mesma condição que nos reconhecemos, enquanto cristãos. Não somos uma comunidade de perfeitos, puros, ainda que chamados à santidade. Há uma solidariedade que nos une e reúne.

7. Mateus, sempre citando a Sagrada Escritura, acrescenta três elementos simbólicos à sua narrativa. Os ‘céus abertos’ fazem referência a Isaias 63,15-19, onde Deus deveria encerrar o silêncio e não ficar longe do povo que pecou, que Ele abra seu coração misericordioso à humanidade. 

8. A ‘pomba’ nos remete ao dilúvio do Gênesis, um sinal da paz restabelecida e também do Espírito Santo de Deus que repousa sobre seus eleitos, particularmente os profetas. Depois de tanto tempo, as esperanças se renovam.

Pe. João Bosco Vieira Leite