(Nm 6,22-27; Sl 66[67]; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21)
Santa Maria, Mãe de Deus.
“Quando se
completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de
Jesus,
como fora chamado
pelo anjo antes de ser concebido” Lc 2,21.
“O evangelista diz
ter o anjo falado assim: ‘Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus’.
Não temas, Maria. E por que? Porque achaste graça. Temer não é próprio de quem
recebe, é próprio de quem perde. Recebeste, concebendo, a graça do divino germe,
e não perdeste o brilho de tua virgindade, ao entrega-lo à luz. ‘Não temas,
Maria’. Que pode temer a que concebe a segurança do mundo, a alegria dos
séculos? Temor não existe, onde se trata de algo divino, não humano; onde há
consciência de virtude, não de impureza. Que pode temer a mãe daquele a quem
temem até os que infundem temor? Que pode temer aquele cujo assessor é juiz da
própria causa, e que tem sua integridade como testemunho de sua inocência? ‘Não
temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus’. A Virgem acolheu em seu seio
o Verbo divino, o qual, desde a eternidade, coexistia com Deus. Fez-se
grandioso templo da Divindade, ela, morada humilde e humana. Aquele que não
podia ser contido na pequenez do corpo humano, ei-lo na estreiteza do ventre
virginal. ‘Eis que conceberás no ventre’. Bastaria ter dito: ‘conceberás’; por
que acrescentou: ‘no ventre’? Para indicar ser real a concepção, não aparente;
para atestar que o nascimento seria real, não fictício, para demonstrar que
assim como Cristo, enquanto Deus, precede do verdadeiro Deus, enquanto homem
tem um corpo que é fruto bendito de verdadeira concepção. É, pois, herético
afirmar que Cristo tomou corpo etéreo e apenas tivesse aparentado a forma do
homem. ‘Eis que conceberás no ventre e darás à luz um filho, ao qual chamarás
Jesus’. Em hebraico, ‘Jesus’ significa ‘Salvador’. Com razão, pois, tudo está
salvo na Virgem, quando ela gerou o Salvador de tudo. ‘Chamá-lo-ás Jesus’.
Porque com este nome é adorada a majestade augusta da divindade; todos os que
habitam os céus, os que povoam a terra, os que gemem nas profundezas do inferno
prosternam-se ante esse nome e o adoram. Ouvi as palavras do Apóstolo: ‘Ao nome
de Jesus se dobrará todo joelho, no céu, na terra e nos infernos’. É o nome que
deu vista aos cegos, ouvido aos surdos, curou os coxos, deu fala aos mudos,
vida aos mortos, libertou os possessos de demônio. Mas se o nome é tão sublime,
quanto será o poder de seu dono? O mesmo anjo diz quem seja aquele que detém
esse nome: ‘Ele será chamado Filho do Altíssimo’. Vede, pois: o que a Virgem
concebe não é germe da terra, mas do céu. A Virgem deu à luz e seu filho é
Filho de Deus!” (S. Pedro Crisólogo - Sermão de Natal [Antologia dos Santos
Padres] – Paulinas).
Pe. João Bosco Vieira Leite