Quarta, 01 de janeiro de 2020


(Nm 6,22-27; Sl 66[67]; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21) 
Santa Maria, Mãe de Deus.

“Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus,
como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido” Lc 2,21.

“O evangelista diz ter o anjo falado assim: ‘Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus’. Não temas, Maria. E por que? Porque achaste graça. Temer não é próprio de quem recebe, é próprio de quem perde. Recebeste, concebendo, a graça do divino germe, e não perdeste o brilho de tua virgindade, ao entrega-lo à luz. ‘Não temas, Maria’. Que pode temer a que concebe a segurança do mundo, a alegria dos séculos? Temor não existe, onde se trata de algo divino, não humano; onde há consciência de virtude, não de impureza. Que pode temer a mãe daquele a quem temem até os que infundem temor? Que pode temer aquele cujo assessor é juiz da própria causa, e que tem sua integridade como testemunho de sua inocência? ‘Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus’. A Virgem acolheu em seu seio o Verbo divino, o qual, desde a eternidade, coexistia com Deus. Fez-se grandioso templo da Divindade, ela, morada humilde e humana. Aquele que não podia ser contido na pequenez do corpo humano, ei-lo na estreiteza do ventre virginal. ‘Eis que conceberás no ventre’. Bastaria ter dito: ‘conceberás’; por que acrescentou: ‘no ventre’? Para indicar ser real a concepção, não aparente; para atestar que o nascimento seria real, não fictício, para demonstrar que assim como Cristo, enquanto Deus, precede do verdadeiro Deus, enquanto homem tem um corpo que é fruto bendito de verdadeira concepção. É, pois, herético afirmar que Cristo tomou corpo etéreo e apenas tivesse aparentado a forma do homem. ‘Eis que conceberás no ventre e darás à luz um filho, ao qual chamarás Jesus’. Em hebraico, ‘Jesus’ significa ‘Salvador’. Com razão, pois, tudo está salvo na Virgem, quando ela gerou o Salvador de tudo. ‘Chamá-lo-ás Jesus’. Porque com este nome é adorada a majestade augusta da divindade; todos os que habitam os céus, os que povoam a terra, os que gemem nas profundezas do inferno prosternam-se ante esse nome e o adoram. Ouvi as palavras do Apóstolo: ‘Ao nome de Jesus se dobrará todo joelho, no céu, na terra e nos infernos’. É o nome que deu vista aos cegos, ouvido aos surdos, curou os coxos, deu fala aos mudos, vida aos mortos, libertou os possessos de demônio. Mas se o nome é tão sublime, quanto será o poder de seu dono? O mesmo anjo diz quem seja aquele que detém esse nome: ‘Ele será chamado Filho do Altíssimo’. Vede, pois: o que a Virgem concebe não é germe da terra, mas do céu. A Virgem deu à luz e seu filho é Filho de Deus!” (S. Pedro Crisólogo -  Sermão de Natal [Antologia dos Santos Padres] – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite