(Br 1,15-22; Sl 78[79]; Lc 10,13-16)
26ª Semana do Tempo Comum. Memória
de São Francisco de Assis.
“Quem vos escuta a
mim escuta; e quem vos rejeita a mim despreza; mas quem me rejeita,
rejeita aquele que me
enviou” Lc 10,16.
“Vindo uma vez são
Francisco de Perusa para Santa Maria dos Anjos com frei Leão, em tempo de
inverno, e o grandíssimo frio fortemente o atormentasse, chamou frei Leão, o
qual ia mais à frente, e disse assim: Ó irmão Leão, ainda que o frade menos
soubesse pregar tão bem que convertesse todos os infiéis à fé cristã, escreve
que não está nisso a perfeita alegria. Frei Leão, com grande admiração,
perguntou-lhe e disse: Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a
perfeita alegria. E São Francisco assim lhe respondeu: Quando chegarmos a Santa
Maria do Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de
lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar
irritado e disser: Quem são vocês? E nós dissermos: Somos dois dos vosso
irmãos, e ele disser: Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam
enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres, fora daqui; e não nos abrir
e deixar-nos estar ao tempo, à neve e à chuva com frio e fome até à noite:
então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos,
prazenteiramente, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele e pensarmos
humildemente e caritativamente que o porteiro verdadeiramente nos tinha
reconhecido e que Deus o fez falar contra nós: ó irmão Leão, escreve que nisso
está a perfeita alegria. E se perseverarmos a bater, e ele sair furioso e como
a importunos malandros nos expulsar com vilanias e bofetadas dizendo: Fora
daqui, ladrõezinhos vis, vão para o hospital, porque aqui ninguém lhes dará
comida nem cama; se suportarmos isso pacientemente e com alegria e de bom
coração, ó irmão Leão, escreve que nisso está a perfeita alegria. E se ainda,
constrangidos pela fome e pelo frio e pela noite, batermos mais e chamarmos e
pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que nos abra a porta e nos deixe
entrar, e se ele mais escandalizado disser: Vagabundos importunos, pagar-lhe-ei
como merecem: e sair com um bastão nodoso e nos agarrar pelo capuz e nos atirar
ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater com o pau de nó em nó: se nós
suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos
sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor; ó irmão
Leão, ouve a conclusão: acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito
Santo, os quais Cristo concede aos seus amigos, está o de vencer-se a si mesmo,
e voluntariamente pelo amor suportar trabalhos, injúrias, opróbios e desprezos,
porque de todos os outros dons de Deus não podemos nos gloriar por não serem
nossos, mas de Deus, do que diz o apóstolo: Que tens tu que não hajas recebido
de Deus? E se dele o recebeste, porque te gloriares como se o tivesse de ti?
Mas na cruz da tribulação de cada aflição nós nos podemos gloriar, porque ‘isso
não é nosso’ e assim diz o apóstolo: ‘Não me quero gloriar, senão na cruz de
nosso Senhor Jesus Cristo’. Ao qual sejam dadas honra e glória pelos séculos
dos séculos” (Fioretti – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite