Sexta, 04 de outubro de 2019


(Br 1,15-22; Sl 78[79]; Lc 10,13-16) 
26ª Semana do Tempo Comum. Memória de São Francisco de Assis.

“Quem vos escuta a mim escuta; e quem vos rejeita a mim despreza; mas quem me rejeita,
rejeita aquele que me enviou” Lc 10,16.

“Vindo uma vez são Francisco de Perusa para Santa Maria dos Anjos com frei Leão, em tempo de inverno, e o grandíssimo frio fortemente o atormentasse, chamou frei Leão, o qual ia mais à frente, e disse assim: Ó irmão Leão, ainda que o frade menos soubesse pregar tão bem que convertesse todos os infiéis à fé cristã, escreve que não está nisso a perfeita alegria. Frei Leão, com grande admiração, perguntou-lhe e disse: Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria. E São Francisco assim lhe respondeu: Quando chegarmos a Santa Maria do Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar irritado e disser: Quem são vocês? E nós dissermos: Somos dois dos vosso irmãos, e ele disser: Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres, fora daqui; e não nos abrir e deixar-nos estar ao tempo, à neve e à chuva com frio e fome até à noite: então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, prazenteiramente, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele e pensarmos humildemente e caritativamente que o porteiro verdadeiramente nos tinha reconhecido e que Deus o fez falar contra nós: ó irmão Leão, escreve que nisso está a perfeita alegria. E se perseverarmos a bater, e ele sair furioso e como a importunos malandros nos expulsar com vilanias e bofetadas dizendo: Fora daqui, ladrõezinhos vis, vão para o hospital, porque aqui ninguém lhes dará comida nem cama; se suportarmos isso pacientemente e com alegria e de bom coração, ó irmão Leão, escreve que nisso está a perfeita alegria. E se ainda, constrangidos pela fome e pelo frio e pela noite, batermos mais e chamarmos e pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que nos abra a porta e nos deixe entrar, e se ele mais escandalizado disser: Vagabundos importunos, pagar-lhe-ei como merecem: e sair com um bastão nodoso e nos agarrar pelo capuz e nos atirar ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater com o pau de nó em nó: se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor; ó irmão Leão, ouve a conclusão: acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos seus amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e voluntariamente pelo amor suportar trabalhos, injúrias, opróbios e desprezos, porque de todos os outros dons de Deus não podemos nos gloriar por não serem nossos, mas de Deus, do que diz o apóstolo: Que tens tu que não hajas recebido de Deus? E se dele o recebeste, porque te gloriares como se o tivesse de ti? Mas na cruz da tribulação de cada aflição nós nos podemos gloriar, porque ‘isso não é nosso’ e assim diz o apóstolo: ‘Não me quero gloriar, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo’. Ao qual sejam dadas honra e glória pelos séculos dos séculos” (Fioretti – Vozes).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite