(Jn 4,1-11; Sl 85[86]; Lc 11,1-4)
27ª Semana do Tempo Comum.
“Um dia, Jesus estava
rezando em certo lugar. Quando terminou, um dos seus discípulos pediu-lhe:
‘Senhor, ensina-nos a
rezar, como também João ensinou seus discípulos’” Lc 11,1.
“Se a oração de Jesus
tinha força para curar e libertar, não é de admirar que os discípulos lhe peçam:
‘Senhor, ensina-nos a rezar’ (Lc 11,1). Em Lucas, Jesus mostra aos seus
discípulos não apenas o que devem rezar, mas sobretudo como e em que atitude
devem fazê-lo. Nas palavras do Pai-nosso, Jesus diz aos discípulos o que os
cristãos devem pedir a Deus. Muitos exegetas julgam que Lucas guardou a versão
original do Pai-nosso. Lucas tem sempre muito respeito pelo teor original das
palavras de Jesus: ‘Pai, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino, o pão
necessário nos dá para cada dia, perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também
perdoamos as faltas dos outros, e não nos deixeis entrar em tentação’ (Bovon,
p. 118). Jesus sempre se dirigiu a Deus com a palavra ‘Pai’. Na oração que ele
nos ensina, ele nos faz participar da sua relação com o Pai. O ‘Nome’ é a
realidade de Deus, que deve ser ‘santificada’. Ela deve se tornar visível no
nosso mundo, e reconhecida por todos. O Reino é o domínio de Deus. Deve se
estabelecer no mundo, mas também dentro de nós. Quando a imagem de Deus
resplandece no fundo do nosso coração, então o Reino de Deus veio a nós (Bovon,
p. 128). O pão que devemos pedir não é apenas o pão material, mas ao mesmo
tempo o pão da amizade, da comunhão. E é o pão celeste, divino. É o pão vivo da
Eucaristia. No pedido de perdão, Lucas substitui a palavra ‘culpa’ por
‘pecados’. Pois a palavra grega para ‘dívida’ ou ‘falta’ não se refere a
violação de mandamentos divinos. Os pecados (hermatias) são faltas,
oportunidades perdidas, fins não realizados, omissões (Bovon, p. 134). O último
pedido não significa que podemos ficar preservados de tentações, mas que nelas
Deus nos protege. O Pai-nosso aramaico, porém, deve ter entendido esse pedido
no sentido de ‘faze com que não entremos em tentação’ (id., p. 136). Também os
gregos não pensavam que o próprio Deus introduzisse em tentação. Mas o ser
humano não fica preservado de tentações. Que Deus nos dê a força para não
entrarmos nas tentações de tal maneira que nelas pereçamos. Com a sua versão do
Pai-nosso, Lucas se dirige a recém-convertidos. Eles recitavam a oração em
memória das palavras de Jesus. Tornou-se para eles o componente mais importante
da sua religiosidade. Com essas palavras eles entravam em contato com o
espírito de Jesus, com a sua relação pessoas com Deus. A Didaqué, que surgiu no
fim do século I, prescreve a todo cristão que reze o Pai-nosso três vezes ao
dia. E em cada celebração da Eucaristia era rezada antes da comunhão. Antes de
recebermos o Corpo de Cristo, unimo-nos com seu espírito, que exatamente no
Pai-nosso se exprime de maneira mais clara” (Anselm Grun – Jesus,
modelo do ser humano – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite