Quarta, 9 de outubro de 2019


(Jn 4,1-11; Sl 85[86]; Lc 11,1-4) 
27ª Semana do Tempo Comum.

“Um dia, Jesus estava rezando em certo lugar. Quando terminou, um dos seus discípulos pediu-lhe:
‘Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou seus discípulos’” Lc 11,1.

“Se a oração de Jesus tinha força para curar e libertar, não é de admirar que os discípulos lhe peçam: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’ (Lc 11,1). Em Lucas, Jesus mostra aos seus discípulos não apenas o que devem rezar, mas sobretudo como e em que atitude devem fazê-lo. Nas palavras do Pai-nosso, Jesus diz aos discípulos o que os cristãos devem pedir a Deus. Muitos exegetas julgam que Lucas guardou a versão original do Pai-nosso. Lucas tem sempre muito respeito pelo teor original das palavras de Jesus: ‘Pai, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino, o pão necessário nos dá para cada dia, perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos as faltas dos outros, e não nos deixeis entrar em tentação’ (Bovon, p. 118). Jesus sempre se dirigiu a Deus com a palavra ‘Pai’. Na oração que ele nos ensina, ele nos faz participar da sua relação com o Pai. O ‘Nome’ é a realidade de Deus, que deve ser ‘santificada’. Ela deve se tornar visível no nosso mundo, e reconhecida por todos. O Reino é o domínio de Deus. Deve se estabelecer no mundo, mas também dentro de nós. Quando a imagem de Deus resplandece no fundo do nosso coração, então o Reino de Deus veio a nós (Bovon, p. 128). O pão que devemos pedir não é apenas o pão material, mas ao mesmo tempo o pão da amizade, da comunhão. E é o pão celeste, divino. É o pão vivo da Eucaristia. No pedido de perdão, Lucas substitui a palavra ‘culpa’ por ‘pecados’. Pois a palavra grega para ‘dívida’ ou ‘falta’ não se refere a violação de mandamentos divinos. Os pecados (hermatias) são faltas, oportunidades perdidas, fins não realizados, omissões (Bovon, p. 134). O último pedido não significa que podemos ficar preservados de tentações, mas que nelas Deus nos protege. O Pai-nosso aramaico, porém, deve ter entendido esse pedido no sentido de ‘faze com que não entremos em tentação’ (id., p. 136). Também os gregos não pensavam que o próprio Deus introduzisse em tentação. Mas o ser humano não fica preservado de tentações. Que Deus nos dê a força para não entrarmos nas tentações de tal maneira que nelas pereçamos. Com a sua versão do Pai-nosso, Lucas se dirige a recém-convertidos. Eles recitavam a oração em memória das palavras de Jesus. Tornou-se para eles o componente mais importante da sua religiosidade. Com essas palavras eles entravam em contato com o espírito de Jesus, com a sua relação pessoas com Deus. A Didaqué, que surgiu no fim do século I, prescreve a todo cristão que reze o Pai-nosso três vezes ao dia. E em cada celebração da Eucaristia era rezada antes da comunhão. Antes de recebermos o Corpo de Cristo, unimo-nos com seu espírito, que exatamente no Pai-nosso se exprime de maneira mais clara” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite