27º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Hab 1,2-3; 2,2-4; Sl 94[95]; 2Tm 1,6-8.13-14; Lc 17,5-10)

1. O questionamento do profeta Habacuc é o mesmo de homens e mulheres em todos os tempos quando contemplam a realidade, quando certos valores parecem não mais contar, quando falta retidão moral ou mesmo justiça social, quando a violência ganha proporções nunca vistas...

2. Será que Deus não vê estas coisas? Essa constatação pode levar alguns ao abandono da fé e ao fatalismo de uma vida sem sentido. O verdadeiro crente, segundo o profeta, é o insistente em sua oração, pois sabe que, ao fim, Deus responderá, pois tem consigo a certeza que os acontecimentos desse mundo estão nas mãos de Deus.

3. Ele sabe que é preciso saber esperar, exercitar a paciência, ser fiel, pois sem a fé não se pode compreender os desígnios do Senhor sobre a nossa vida e sobre a História. Também a nós é pedido ‘não fechar o coração’, reza o nosso salmo, pois alguns em Israel não puderam alcançar as promessas por falta de fé.

4. Entramos na 2ª carta de Paulo a Timóteo que o exorta a servir o Evangelho com força e fidelidade; ele que foi consagrado para tal, deve reavivar o dom recebido. Não deve ter vergonha do Evangelho. O próprio Paulo se apresenta como modelo, pois fez a experiência do Espírito Santo que habita em nós nos dá a capacidade de sermos fiéis.

5. Continuamos a acompanhar Jesus em sua viagem para Jerusalém. Aprendemos sobre a misericórdia, sobre o uso dos bens terrenos, sobre a pobreza e a riqueza. Hoje acompanhamos duas questões diversas.

6. Primeiro, na esteira dos textos anteriores, sobre a fé, que os discípulos pedem uma dose maior. A resposta de Jesus dá a entender que não é uma questão de quantidade, mas de qualidade, dando quase a entender que os apóstolos não têm fé. O que o nosso texto não traz é que antes se encontra a exigência de se perdoar sempre.

7. No segundo ensinamento de Jesus está uma chamada de atenção para evitar uma certa autossuficiência e mentalidade jurídica de quem se sente satisfeito pelas obras feitas e pretendendo uma recompensa divina. O verdadeiro discípulo sabe que nada lhe é devido e tudo recebe por pura graça.

8. Assim temos nos três textos de hoje, um olhar sobre a fé. Primeiro como uma atitude fundamental diante de Deus e das situações da vida e da História. Ela é uma resposta misteriosa e única em que se pode confiar perante as injustiças e as violências do mundo, assim como diante do silêncio de Deus.

9. Paulo pede a Timóteo uma fé operativa. Os apóstolos pedem uma fé que lhes dê condições de seguir o mestre e cumprir seus preceitos. A questão não é aumentar a fé, e sim de começar a crer, de não se limitar a uma fé genérica e ineficaz, mas de confiar em Deus de uma forma total e incondicional. Só assim, tudo será possível, até mesmo viver essa condição de servo, sem busca de privilégios ou recompensas.  

Pe. João Bosco Vieira Leite