Sexta, 11 de outubro de 2019


(Jl 1,13-15; 2,1-2; Sl 9ª[9]; Lc 11,15-26) 
27ª Semana do Tempo Comum.

“Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem?
Por isso, eles mesmos serão vossos juízes” Lc 11,19.

“’Quando um home forte e bem armado guarda sua residência, todos os bens que possui estão em segurança’. O homem forte, aqui, é o diabo e sua residência, o mundo submisso a ele.  Até a vinda do Salvador ele gozava de uma falsa paz e de um poder absoluto, pois nada perturbava o seu repouso nas almas dos infiéis. ‘Mas, se chegar outro mais forte do que ele e o vencer, tomar-lhe-á todas as armas em que confiava e repartirá seus despojos’. Aqui, nosso Senhor fala de si mesmo. É ele que liberta os homens dos demônios, não pelos artifícios de uma aliança, conforme insinuavam caluniosamente os Fariseus, mas pela vitória da sua superioridade. As armas detestáveis em que o inimigo achava segurança são os artifícios e prestígios do espírito do mal. Quanto aos despojos, podemos ver neles aquelas mesmas pessoas que o inimigo chegara a seduzir. Então o Cristo os reparte, marando, assim o seu triunfo. É o que nos mostra São Paulo: ‘Ele levou cativo o cativeiro, deu dons aos homens, fazendo de uns apóstolos, de outros evangelistas, destes profetas, daqueles pastores ou doutores’. ‘Mas o espírito imundo, quando sai de um homem, começa a vagar pelos desertos’. De maneira geral, pode-se interpretar o que segue como a obra do Senhor e a do demônio. O Senhor com essas palavras quereria simplesmente mostrar que Ele busca sem cessar purificar o que foi machado; o demônio, ao contrário, procura infligir ao que foi purificado uma nova macha, pior que a primeira. Entretanto, pode-se também aplicar essa passagem particularmente aos hereges, aos cismáticos e até aos maus católicos. Todos eles foram libertados, no batismo, do espírito impuro que então habitava neles; expulso pela profissão de fé e a renúncia do pecado, põe-se a vaguear pelos desertos, isto é, a espreitar traiçoeiramente aqueles cristãos apenas libertados de suas negligências e hesitações, aguardando a ocasião em que os possa dominar. Mas, como diz muito bem o evangelho, ‘ele não pode achar o repouso que procura’, pois, repelido pelas almas puras, só no coração dos maus achará lugar. Diz ele, então: ‘Voltarei para minha casa, donde saí’. E voltando ele encontra varrida, isto é, purificada, pela graça do batismo das manchas, do pecado, não porém, munida de boas obras. São Mateus, com muita razão, até acrescenta, em passagem semelhante, que ele, o demônio, encontra essa casa ‘vazia, varrida e ornamentada’. Varrida de seus antigos vícios, pelo batismo, vazia das boas obras que ele negligenciou e ornada de virtudes que simula hipocritamente. ‘Vai, então, o espírito impuro, e traz consigo sete outros espíritos piores do que ele: entram e fazem ali morada’. Pelos sete espíritos maus o Evangelho designa toda a multidão dos vícios. Se, pois, um homem, depois de batizado, deixa-se levar pela heresia, ou arrastar pelas paixões, não tardará a cair no abismo de todos os vícios. E esses espíritos que o invadem são chamados, com justiça, piores que o primeiro, pois esse homem, não satisfeito com os sete vícios opostos às sete virtudes da alma, acrescenta ainda a hipocrisia, simulando virtude. ‘E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro’. Melhor seria jamais ter conhecido o caminho da verdade do que nele entrar e retroceder. O exemplo de Judas traidor, o de Simão, o mago, e tantos outros da Escritura, mostra-nos essa parábola plenamente realizada” (S. Beda, o Venerável – Exposição sobre S. Lucas – Ed. Herder). 
Pe. João Bosco Vieira Leite