Sábado, 05 de outubro de 2019


(Br 4,5-12.27-29; Sl 68[69]; Lc 10,17-24) 
26ª Semana do Tempo Comum.

“Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos.” Lc 10,21.

“O amor pode ir além do conhecimento. Procuramos quase sempre preencher essa insatisfação em que nos encontramos. Esse sentimento de miséria e afastamento do Cristo e de Deus, por um esforço de conhecimento, de leitura, em lugar de um ato de amor no instante concreto. E, entretanto, é só esse ato de amor que nos solicita e nos dá a Deus, enquanto a leitura não terá sido talvez outra coisa senão uma evasão da realidade que teria sido dura demais ou humilhante demais para viver. Quero chamar a atenção sobre uma maneira de ler, e não desaconselhar a leitura... Para alguns, habituados a um ambiente de estudo, ou dotados de temperamento intelectual, leituras mais extensas serão uma necessidade natural de seu equilíbrio. Tratar-se-á, então, de uma real necessidade de alimentação para vida de fé? Será sempre verdade que a nossa vida de união com Cristo dependa tanto assim de uma alimentação intelectual tão frequente? Não será isso, às vezes, o índice de que a nossa união ao Cristo não chega a ser uma vida, simplesmente? Não procuramos ainda, mais ou menos inconscientemente, pensar mais no Cristo do que em vive-lo? Experimentamos demais a necessidade de sentir que vivemos o Cristo e, para tomar consciência disso, somos levados a dar a essa vida uma forma intelectual... A leitura, se nos é necessária por causa do que somos e para nosso equilíbrio, não resolve, por si mesma, o problema de nossa vida de fé. Há, aí, toda uma dosagem delicada a fazer, conforme os temperamentos. Mas é bom ficarmos convencidos de que não é multiplicando conhecimentos que se facilitará o ato de amor de Deus que deve ser o termo final. Não devemos, sem mais nem menos, responsabilizar a falta de tempo para a leitura por um estado que deve muitas vezes ser atribuído apenas à nossa falta de coragem para passar à prática. Voltemos frequentemente ao evangelho, a alguns livros essenciais, e procuremos assimila-los. Não permitamos que se estabeleça uma desproporção entre a verdade procurada e meditada, e o emprego prático do que ela exige de nós. É preciso colocar a nossa vida sob a luz do Espírito de Jesus, esforçando-nos para pôr em prática o sermão da montanha, o discurso depois da Ceia, o ato de carregar a Cruz, as parábolas sobre a oração e a fé e, sobretudo o mandamento do amor. É aí que encontraremos a verdadeira ciência do Cristo, aquela que os apóstolos possuíam. Somente guiados assim pelo instinto sobrenatural dos dons do Espírito Santo, é que saberemos a cada instante o que é preciso fazer, a atitude que deve ser tomada... Cada um dos momentos de nossos dias se apresenta como algo único; é por isso que aqueles que não estão suficientemente entregues ao Espírito Santo e ficam, com excessiva rigidez, dependentes de um ideal moral intelectualizado, não conseguem atingir uma santidade perfeita, viva, sempre de pelo acordo, com as solicitações da vida. A santidade deles é como que contrafeita, rígida. Não tem o impulso e as espontaneidades do amor; são incapazes desses atos de loucura na pobreza, no amor do próximo; não vivem o Evangelho do Salvador... Procurem constantemente manter um grande equilíbrio em sua vida, fazê-la voltar à simplicidade do instante e à prática do Evangelho” (R. Voillaume – Fermento na Massa – Ed. Agir). 

Pe. João Bosco Vieira Leite