(At 1,12-14; Sl Lc 1; Lc 1,26-38) N. Sra. do Rosário.
“O Anjo respondeu: ‘O
Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra.
Por isso, o menino
que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus’” Lc 1,35.
“Sem querer forçar o
paralelismo, poder-se-ia dizer, a partir da experiência: a meditação da vida de
Jesus, tal como ela é consignada no ‘texto’ evangélico, se faz com o Espírito
de Cristo; a meditação dos mistérios da vida de Jesus se faz com o espírito de
Maria. É Jesus, sem dúvida, que nos dá o seu ‘espírito’, e, por ele, esta
conaturalidade de vida com o que ele viveu pessoalmente em sua condição
concreta, durante os dias da sua carne. Mas a Virgem Maria, que era intimamente
associada à vida humana de Jesus, a viveu com a sua própria psicologia de Mãe
na fé e no amor. Embora possuísse ela o Espírito Santo, Dom único no íntimo de
toda a sua vida, a Virgem nem por isto deixou de guardar o seu espírito próprio
de mulher, da mesma forma que o Cristo teve, em sua humanidade, um espírito bem
humano que não se confunde nem com o Verbo que ele é, nem com o Espírito Santo
que o habita. É, pois, normal que Jesus tenha vivido a sua vida terrestre
segundo um ‘espírito’ que não era o mesmo de sua mãe, porque sendo Verbo
Incarnado, ele queria absolutamente se manifestar ao mundo como um homem de
nossa raça e da nossa condição. Como que, por assim dizer, ao contrário, a
Virgem conheceu seu Filho, primeiro no mistério mesmo que o envolve. Na
Anunciação, é do Pai, pelo Espírito Santo, que Maria recebe em sua carne a
criança chamada Filho de Deus. Maria não terá dificuldade em compreender a
humanidade de Jesus e em vive-la em sua realidade mais concreta. Mas, o que
desde o princípio a questionará, é que um filho da sua carne seja Filho de Deus.
É precisamente o seu problema – humanamente insolúvel – quando ela o reencontra
no Templo, à idade de 12 anos: ‘em casa de seu Pai’, diz Jesus. Maria procura o
fruto de sua carne como um ser humano que ela perdera. Jesus lhe lembra o
anúncio do Anjo: esse mistério fundamental da Anunciação, que foi meditado
continuamente pela Virgem à medida que avançava na peregrinação da sua Fé, como
verdadeira discípula de Jesus. É esta meditação que formou o seu ‘espírito’ no
Espírito Santo. Em Caná, ela manifestou quanto esta meditação tinha sido
frutuosa: Jesus a associou intimamente ao mistério da sua Hora” (H. M. Manteau Bonamy
– La Vierge et l’Esprit – Lethielleux).
Pe. João Bosco Vieira Leite