Sábado, 26 de outubro de 2019


(Rm 8,1-11; Sl 23[24]; Lc 13,1-9) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus lhes respondeu: ‘Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas, se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo” Lc 13,2-3.

“A busca frenética da liberdade (ou dizendo melhor: da permissividade), em todos os domínios da cultura contemporânea, é vivida por muitos com um esforço para libertar-se das obsessões de um angelismo inimigo da vida, de um farisaísmo de puro e impuro e para reencontrar, diante da existência, uma espécie de espontaneidade e inocência. Esforço para reconquistar, em face ao que se chama ‘tabus cristãos’, o que se tem por proibições de uma moral hipócrita, certa liberdade ‘dionisíaca’ num mundo onde não existiria pecado. É uma desesperada tentativa para achar-se novamente no fim, no fundo da queda, da inocência do Paraíso, para romper com as limitações do ‘eu’. Sem abrir-se, por uma fé pessoal à Fonte absoluta da vida, esta tentativa corre o risco de desagregar o ‘eu’. Diante desta procura e experiência da liberdade, parece-me que a atitude cristã deveria ser, antes de tudo, de respeito. No pecado e principalmente no pecado como busca, através do inferno, da inocência, se inscreve todo o paradoxo do homem, imagem coberta de trevas, mas dirigida para seu Arquétipo divino, através das próprias trevas. Aí deveremos enxergar a sede do infinito, a nostalgia da liberdade e da comunhão, a recusa do abandono a um burguesismo espiritual, o sofrimento daquele que procura o Absoluto entre as realidades terrenas que não podem salvar, porém esperam ser salvas. ‘Se não vos converterdes, perecereis todos’. A conversão, a ‘metanoia’, a volta do homem em seu centro pessoal, não é um esforço voluntarioso para melhorar tal aspecto na superfície do psiquismo, para vencer tal defeito ou tal vício. É, antes de tudo e fundamentalmente, confiança total no Cristo que, por nós, por mim, se entrega à morte, ao inferno, à separação. Entrega-se à morte cuja causa sou eu; ao inferno que eu crio e onde faço viver os outros e a mim mesmo, à separação, que é minha condição e meu pecado. Ele se entrega para fazer da morte, do inferno, da angústia, a porta do arrependimento e de uma existência renovada. Então descobrimos que, muito além do que tínhamos ousado esperar, o pecado, a morte, o desespero fizeram fendas na autonomia infernal do homem, abriram este mesmo à misericórdia do Deus vivo” (C. Clément – Questions sur l’Homme – Ed. Beneditina Ltda.).

Pe. João Bosco Vieira Leite