Terça, 22 de outubro de 2019


(Rm 5,12.15.17-21; Sl 39[40]; Lc 12,35-38) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento para lhe abrirem imediatamente a porta, logo que ele chegar e bater”
Lc 12,35-36.
“É oportuno estudar a palavra ‘vigiar’; é preciso estuda-la porque sua significação não é tão evidente como se poderia crer, à primeira vista e porque a Escritura a emprega insistentemente. Devemos não só crer mas vigiar: não só amar mas vigiar; não só obedecer, mas vigiar; vigiar para que? Para este grande acontecimento: a vinda de Cristo (...). Que é, então, vigiar? Creio que se pode explicar assim. Sabeis o que é esperar um amigo, esperar que ele venha e vê-lo tardar? Sabeis o que é estar em uma companhia que vos desagrada, e desejar que o tempo passe e que soe a hora de retomar vossa liberdade? Sabeis o que é estar na ansiedade a respeito de algo que pode acontecer ou não; ou estar esperando algum acontecimento importante, cuja lembrança faz bater o coração e no qual pensais, desde que abris os olhos? Sabeis o que é ter um amigo distante, esperar suas notícias, e perguntar dia após dia, que estará ele fazendo naquele momento, se está passando bem? Sabeis o que é viver para alguém que está perto de vós, tão perto que os vossos olhos seguem os seus, que ledes em sua alma e notais todas as mudanças de sua fisionomia, que adivinhais seus desejos, sorris com seu sorriso, vos entristeceis com sua tristeza, que ficai abatido quando ele está aborrecido e vos regozijais com os seus sucessos?  Vigiar à espera do Cristo é um sentimento semelhante a esses, na medida em que os sentimentos deste mundo são capazes de representar os de um outro mundo. Vigia ‘com’ o Cristo aquele que, olhando para o futuro, não perde o passado de vista; contemplando o que seu Salvador obteve para ele, não esquece o que sofreu. Vigia com Cristo aquele que comemora e renova sempre, em sua pessoa, a cruz e a agonia do Cristo, e veste com alegria aquele manto de aflição que o Cristo usou neste mundo, e abandonou quando subiu ao céu. Eis porque nas epístolas, autores inspirados, sempre que mostram o desejo de sua segunda vinda, mostram a lembrança que guardaram da primeira; e sua ressurreição não lhes faz perder de vista a crucifixão. Assim, São Paulo, quando lembrava aos Romanos que deviam esperar a redenção do corpo no último dia acrescenta: ‘A fim de que tendo sofrido com ele, sejamos com ele glorificados’. Se diz aos Coríntios ‘que esperem a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’, diz também que é preciso carregar sempre e por toda parte em nosso corpo a morte de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nosso corpo. Falando aos filipenses sobre o ‘poder da ressurreição’, logo acrescenta: ‘é a participação em seus sofrimentos, assemelhando-se a ele até em sua morte’. Se consola aos colossenses, dando-lhes a esperança de que ‘quando o Cristo aparecer, eles aparecerão também na glória’, já lhes declarou que ele ‘completa em sua carne aquilo que falta aos sofrimentos de Jesus Cristo para seu corpo que é a Igreja’” (Car. Newman – Sermão 22 – Ed. Beneditina Ltda.).

Pe. João Bosco Vieira Leite