(Rm 5,12.15.17-21; Sl 39[40]; Lc 12,35-38)
29ª Semana do Tempo Comum.
“Que vossos rins
estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu
senhor voltar de uma festa de casamento para lhe abrirem imediatamente a porta,
logo que ele chegar e bater”
Lc 12,35-36.
“É oportuno estudar a
palavra ‘vigiar’; é preciso estuda-la porque sua significação não é tão
evidente como se poderia crer, à primeira vista e porque a Escritura a emprega
insistentemente. Devemos não só crer mas vigiar: não só amar mas vigiar; não só
obedecer, mas vigiar; vigiar para que? Para este grande acontecimento: a vinda
de Cristo (...). Que é, então, vigiar? Creio que se
pode explicar assim. Sabeis o que é esperar um amigo, esperar que ele venha e
vê-lo tardar? Sabeis o que é estar em uma companhia que vos desagrada, e
desejar que o tempo passe e que soe a hora de retomar vossa liberdade? Sabeis o
que é estar na ansiedade a respeito de algo que pode acontecer ou não; ou estar
esperando algum acontecimento importante, cuja lembrança faz bater o coração e
no qual pensais, desde que abris os olhos? Sabeis o que é ter um amigo
distante, esperar suas notícias, e perguntar dia após dia, que estará ele
fazendo naquele momento, se está passando bem? Sabeis o que é viver para alguém
que está perto de vós, tão perto que os vossos olhos seguem os seus, que ledes
em sua alma e notais todas as mudanças de sua fisionomia, que adivinhais seus
desejos, sorris com seu sorriso, vos entristeceis com sua tristeza, que ficai
abatido quando ele está aborrecido e vos regozijais com os seus sucessos?
Vigiar à espera do Cristo é um sentimento semelhante a esses, na medida em que
os sentimentos deste mundo são capazes de representar os de um outro mundo.
Vigia ‘com’ o Cristo aquele que, olhando para o futuro, não perde o passado de
vista; contemplando o que seu Salvador obteve para ele, não esquece o que
sofreu. Vigia com Cristo aquele que comemora e renova sempre, em sua pessoa, a
cruz e a agonia do Cristo, e veste com alegria aquele manto de aflição que o
Cristo usou neste mundo, e abandonou quando subiu ao céu. Eis porque nas
epístolas, autores inspirados, sempre que mostram o desejo de sua segunda
vinda, mostram a lembrança que guardaram da primeira; e sua ressurreição não
lhes faz perder de vista a crucifixão. Assim, São Paulo, quando lembrava aos
Romanos que deviam esperar a redenção do corpo no último dia acrescenta: ‘A fim
de que tendo sofrido com ele, sejamos com ele glorificados’. Se diz aos
Coríntios ‘que esperem a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’, diz também que é
preciso carregar sempre e por toda parte em nosso corpo a morte de Jesus, para
que a vida de Jesus se manifeste também em nosso corpo. Falando aos filipenses
sobre o ‘poder da ressurreição’, logo acrescenta: ‘é a participação em seus
sofrimentos, assemelhando-se a ele até em sua morte’. Se consola aos
colossenses, dando-lhes a esperança de que ‘quando o Cristo aparecer, eles
aparecerão também na glória’, já lhes declarou que ele ‘completa em sua carne
aquilo que falta aos sofrimentos de Jesus Cristo para seu corpo que é a
Igreja’” (Car. Newman – Sermão 22 – Ed. Beneditina Ltda.).
Pe. João Bosco Vieira Leite