(1Rs 19,9a.11-13a; Sl 84[85]; Rm 9,1-5; Mt 14,22-33)
1. Esse domingo poderia ser
caracterizado pela experiência de Deus na vida dos que o buscam e particulares
momentos da vida. É assim que podemos ler essa experiência de Elias, que
profetizou num momento de profundas mudanças políticas e sociais. O profeta deve
sinalizar a fidelidade a Deus do seu povo.
2. Essa fidelidade se encontra ameaçada
por um matrimônio misto de cultura e religião diferentes. Elias deve denunciar
tais perigos. É perseguido. Sente-se só na sua luta. Resolve fugir. Em sua
busca de entender o que está se passando vai rumo ao Horeb, o monte onde Moisés
teve seu encontro com Deus.
3. A leitura faz com que o encontremos
já em meio a sua experiência da presença de Deus. Seria interessante ver o
texto de modo mais amplo entre o percurso e a chegada para entendermos melhor o
que se passa. O objetivo da nossa liturgia é fazer-nos perceber que a imagem
que trazemos de Deus pode e deve sempre mudar ao longo do caminho.
4. Nas diferentes circunstâncias que
atravessamos na vida, Deus pode agir de forma nova e surpreendente. O desafio
da nossa fé é deixar que Deus seja e aja como bem lhe convir e não de acordo
com esquemas pré-definidos que trazemos conosco. Há sempre algo novo a se
descobrir.
5. Na 2ª leitura Paulo lamenta que seus
irmãos judeus, povo escolhido, tenham rejeitado a Cristo como resposta às
promessas de Deus, pois não tem sido pouco o seu esforço em convencê-los em sua
pregação. Para expressar o seu sofrimento e decepção, diz que estaria disposto
a abandonar a fé em Cristo, se isso os pudesse aproximar da fé em Jesus.
Certamente um modo de falar.
6. Ele expressa os mesmos
questionamentos e inquietação que sofremos diante dos nossos, dos mais
próximos, não aderirem ao evangelho e à vida cristã.
7. Domingo anterior acompanhamos a
transfiguração de Jesus numa experiência particular a Pedro, Tiago e João. Hoje
ele se revela aos demais em outra circunstância. Sabemos que a barca é símbolo
da Igreja, que o mar representa as forças contrárias e que só Deus tem o
domínio sobre Ele e caminha acima dele.
8. Sem nos perdermos nessa gama de
detalhes, o texto quer nos revelar primeiramente que Jesus é Deus. Escrito sob
a ótica da fé, o autor confirma a sua fé e a dos demais em Jesus. Mas não só
isso. Ele lembra que não estamos sozinhos nas dificuldades da vida. A
comunidade de Mateus se viu muitas vezes agitada pelas perseguições, pelas
divisões internas e outras situações.
9. Provavelmente para reforçar que a
confiança de Pedro, colocado à frente dos demais, estava mais em Jesus que em
si mesmo, ele conta esse desafio de caminhar sobre as águas, com tudo que elas
representam. Assim Jesus sobe na barca e os acalma em meio as suas tempestades
externas e internas. Como a Elias, Deus nos diz que não estamos sozinhos, nem
deve ser confundido com fenômenos da natureza.
10. Que nos resta se não humildemente
estender-lhe as mãos nas diversas circunstâncias da vida onde precisamos ser
guiados ou mesmo salvos. Todo esse mundo de imagens oferecidas na liturgia da
Palavra aponta para a oração em seus vários aspectos ou ao menos da necessidade
dela para caminhar na vida.
Pe. João Bosco Vieira Leite