São Pedro e São Paulo – Missa do Dia

(At 12,1-11; Sl 33[34]; 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19)

1. Nas nossas festas juninas não se faz nenhuma referência a Paulo, apesar de sua estreita relação com Pedro no que diz respeito a nossa Igreja Católica. Hoje deixarei de lado um pouco a figura de Pedro para voltar-nos brevemente sobre Paulo. Não sobre sua história, mas um elemento de sua mensagem, refletido por Bento XVI no encerramento do Ano Paulino.

2. Paulo ficou conhecido como ‘mestre das nações’ pelo seu empenho missionário. Ele percorreu muitos caminhos exteriores e interiores com a tocha do Evangelho, encontrando contradição e adesão, numa busca também pessoal de encontrar-se com Cristo Ressuscitado e com Ele identificar-se.

3. Sempre fez parte da estrutura das Cartas de Paulo, uma referência ao lugar e à situação particular, seguida de uma explicação do Mistério de Cristo e o ensinamento da fé. Para ele o mais importante era que seus leitores/ouvintes se perguntassem: o que deriva desta fé? Como plasma ela a nossa existência no dia a dia?

4. Na sua Carta aos Romanos, a partir do capítulo 12, o apóstolo nos fala desse novo culto que prestamos a Deus a partir do nosso próprio corpo. Já não se oferecem a Deus coisas. É a nossa própria existência que deve tornar-se louvor a Deus.

5. Mas como acontece isto? No versículo 2 desse capítulo encontramos a resposta em duas palavras: ‘transformar’ e ‘renovar’. Devemos tornar-nos pessoas novas, transformados num novo modo de existência.

6. O mundo está sempre em busca de novidades, porque com razão se sente sempre insatisfeito com a realidade concreta. Paulo diz-nos: o mundo não pode ser renovado sem seres humanos novos. Somente se houver homens novos, haverá também um mundo novo, um mundo renovado e melhor.

7. Só se nós mesmos nos renovamos, o mundo será novo. Isto significa inclusive que não basta adaptar-se à situação atual. O Apóstolo exorta-nos a um não-conformismo. A não submeter-nos ao esquema da época atual. O ‘não’ do Apóstolo é claro e também convincente para quem observa o ‘esquema’ do nosso mundo.

8. Na sua Carta aos Efésios, Paulo exorta a uma ‘fé adulta’, não no sentido da atitude de quem não dá ouvidos à Igreja e aos seus Pastores, mas ao contrário, é necessário coragem para aderir à fé da Igreja, não obstante ela contradiga o ‘esquema’ do mundo contemporâneo. 

9. Mas tornar-se novo – como se pode fazer isto? Somos verdadeiramente capazes? Paulo sempre nos oferece como modelo sua própria conversão. Ele tornou-se novo, outra pessoa, porque já não vive para si mesmo e em virtude de si próprio, mas para e em Cristo.

10. Porém, ao longo dos anos viu também que este processo de renovação e de transformação continua durante a vida inteira. Tornar-nos-emos novos, se nos deixarmos arrebatar e plasmar pelo Homem novo, Jesus Cristo. Ele é o Homem novo por excelência.

11. Esse processo de ‘fusão’, passa pela renovação do nosso ‘modo de pensar’. A nossa razão deve renovar-se. Desejaríamos talvez que se referisse antes a alguma atitude: aquilo que temos de mudar no nosso agir, mas não: a renovação deve ir até o fundo. O nosso modo de ver o mundo, de compreender a realidade.

12. Paulo deixa claro que para isso é necessário compreender a Vontade de Deus, de tal maneira que ela plasme a nossa vontade. A fim de que nós mesmos desejemos o que Deus quer, para que reconheçamos que o que Deus quer é a beleza e a bondade.

13. Por conseguinte, trata-se de uma mudança espiritual de base. Deus deve entrar no horizonte do nosso pensamento: o que Ele quer e o modo segundo o qual Ele idealizou o mundo e a mim mesmo. Temos que aprender a participar no pensamento e no desejo de Jesus Cristo. É então que seremos pessoas novas nos quais sobressai um mundo novo.

14. Esse é apenas um ponto da vastidão do pensamento paulino. Que ele possa nos ajudar nesse caminho que também fazemos em nosso encontro com Cristo. Que Ele habite em nossos corações e nos torne criaturas novas, que ajam em conformidade com a verdade na caridade. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite