12º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Jó 38,1.8-11; Sl 106[107]; 2Cor 5,14-17; Mc 4,35-41)

1. Esse trecho do Evangelho nos é bastante conhecido. O ponto chave da narrativa parece ser não tanto o poder de Jesus sobre a natureza, mas o medo dos apóstolos somado a uma falta de fé. Em que consistia essa falta de fé dos apóstolos?

2. O problema aqui não parece ser tanto o fato de não crerem na força de Jesus, mas no fato de terem duvidado do seu amor. Colocaram em dúvida se Jesus de fato se importava com eles.

3. Sabemos quão terrível é dizer a alguém que amamos que ele “parece não se importar conosco” e ainda mais receber de volta um: ‘não me importo de você!’. Cria-se uma distância, cava-se um abismo entre eu e o outro: o abismo da indiferença.

4.O filósofo Martin Heidegger analisou por bastante tempo sobre a ideia do ‘cuidar’, ‘cuidar de alguém’, vendo nisso o ideal mais nobre e desinteressado que alguém possa aspirar. É verdade. A estatura moral de uma pessoa se mede da sua capacidade de cuidar de uma pessoa e da situação, particularmente num momento difícil.

5. Nós mesmos nos admiramos quando alguém cuida ou defende um subalterno publicamente, arriscando algo por ele. Reconhecemos isso como uma grandeza moral.

6. Voltando à pergunta dos apóstolos, eles colocam em dúvida a capacidade ou vontade de Jesus de cuidar das pessoas a ele confiadas, do seu altruísmo. Próprio a coisa que mais se observa em máximo grau na sua vida e que constitui o traça mais belo de sua personalidade. São João Evangelista traça bem essa imagem do Bom Pastor em Jesus.

7. Contemplamos essa travessia do mar da Galileia como a travessia da vida. O mar é a minha família, a minha comunidade, o meu próprio coração. Pequenos mares, mas onde podem despontar, bem sabemos, grandes e imprevistas tempestades.

8. Quem não conheceu uma dessas tempestades, quando tudo se fez escuro e a barca de nossa vida começa a encher-se de água por todas as partes, enquanto Deus parece dormir?

9. Essas tempestades aparecem num resultado de um exame; num filho que toma um caminho perigoso na vida; uma dificuldade financeira, a perda do emprego ou mesmo o fim de um namoro, de um casamento. Que fazer? Em que prender-se? De que parte lançar âncora?

10. Jesus não nos dá uma receita mágica sobre como afastar na vida todas as tempestades. Não nos prometeu de evitar as dificuldades, nos prometeu somente a força de superá-las, se o pedimos: “Te basta a minha graça; pois a minha força se manifesta plenamente na fraqueza”, respondeu Jesus a Paulo, em sua fragilidade.

11. E Paulo passou a se vangloriar da sua enfermidade, das perseguições e angústias, até poder chegar a dizer: “Quando sou fraco, aí é que sou forte” (2Cor 12,7-10).

12. A confiança em Deus: é esta a mensagem do Evangelho. O que salvou os discípulos do naufrágio foi terem Jesus em sua barca, antes de iniciar a travessia. E esta é também a garantia melhor para nós contra as tempestades da vida. Ter conosco Jesus. E o meio para isso é a fé, a oração e a observância de seus mandamentos.

13. Quando no mar desencadeia a tempestade, os antigos marinheiros lançavam óleo sobre as ondas para aplacá-las. Nós lançamos sobre as ondas do medo e da angústia o óleo da confiança em Deus. São Pedro exortava os primeiros cristãos a terem confiança em Deus no meio das perseguições dizendo: “Lançai sobre ele todas as vossas preocupações, porque ele tem cuidado de vós” (1Pd 5,7).

14. Como aquele poema ‘pegadas na areia’, precisamos aprender a confiar em Deus e no seu cuidado para conosco, recordando que muitas vezes foi ele quem nos carregou, pois muitas vezes também, somos tentados a lamentar com Deus por nos ter deixado sozinhos. 

Pe. João Bosco Vieira Leite