Quinta, 20 de junho de 2024

(Eclo 48,1-15; Sl 96[97]; Mt 6,7-15) 11ª Semana do Tempo Comum.

“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” Mt 6,11.

“A súplica ‘O pão nosso de cada dia nos dá hoje’ é explicada pelas palavras de Jesus sobre a esmola, oração e jejum e pelo poema didático sobre a despreocupação (6,19-34). Os exegetas tentaram exaustivamente descobrir como deveria ser traduzida a palavra ‘epiousios’. É provável que a melhor tradução seja: ‘Dá-nos hoje o pão de amanhã’. O pedido ‘nasce de uma situação de aflição social, em que o pão do dia seguinte não é uma obviedade’ (Luz, 347). Limbeck, por sua vez, acha que ‘epiousios’ deve ser traduzido como ‘necessário para a existência, indispensável’. A súplica teria, então, o seguinte sentido: ‘Dá-nos hoje o pão de que necessitamos’ (Limbeck, 107). Interpretando essa súplica à luz de todo o capítulo 6, chega-se à conclusão de que se pode pedir a Deus tudo o que se necessita, mas ao mesmo tempo é preciso descobrir onde Deus quer dar aos outros, por nosso intermédio, o necessário para viver. Não se trata, portanto, de um pedido passivo; é uma oração que pode requerer responsabilidade. Jejuando percebemos que não vivemos só de pão, mas que Deus sacia a nossa fome mais profunda. O jejum relativiza a comida e, ao mesmo tempo, desperta em nós a sensibilidade de comer com gratidão e concentração, fruindo na comida as dádivas de Deus. O pedido pelo alimento não deve virar uma preocupação receosa que tome conta de todo o nosso coração. Quanto à necessidade de alimentar-nos e de vestirmo-nos, Jesus nos remete aos pássaros do céu e aos lírios do campo. Ele quer acertar os ponteiros que regulam nossa vida. Não é a preocupação com a alimentação e a roupa que deve determinar a nossa vida, e sim a preocupação com o Reino de Deus: ‘Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de todas essas coisas. Procurai primeiro o Reino e a justiça de Deus, e tudo isso vos será dado por acréscimo’ (6,32s). A preocupação com o sustento da vida e com o trabalho que assegura esse sustento faz parte da natureza do homem. Mas o critério que decide se o homem é verdadeiramente homem é a sua preocupação com o Reino e a justiça de Deus. Quando Deus reina no ser humano, este se torna realmente humano e verdadeiramente livre. Quando Deus reina no ser humano, este se habilita para uma nova justiça e o reinado de Deus se expressa em um novo comportamento. Essa é a questão central, e não a inquietação que nos faz voltear aflitos em torno de si mesmos” (Anselm Grüm – Jesus: Mestre da Salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite