(Eclo 48,1-15; Sl 96[97]; Mt 6,7-15) 11ª Semana do Tempo Comum.
“O pão
nosso de cada dia dá-nos hoje” Mt 6,11.
“A
súplica ‘O pão nosso de cada dia nos dá hoje’ é explicada pelas palavras de
Jesus sobre a esmola, oração e jejum e pelo poema didático sobre a
despreocupação (6,19-34). Os exegetas tentaram exaustivamente descobrir como
deveria ser traduzida a palavra ‘epiousios’. É provável que a melhor tradução
seja: ‘Dá-nos hoje o pão de amanhã’. O pedido ‘nasce de uma situação de aflição
social, em que o pão do dia seguinte não é uma obviedade’ (Luz, 347). Limbeck,
por sua vez, acha que ‘epiousios’ deve ser traduzido como ‘necessário para a
existência, indispensável’. A súplica teria, então, o seguinte sentido: ‘Dá-nos
hoje o pão de que necessitamos’ (Limbeck, 107). Interpretando essa súplica à
luz de todo o capítulo 6, chega-se à conclusão de que se pode pedir a Deus tudo
o que se necessita, mas ao mesmo tempo é preciso descobrir onde Deus quer dar
aos outros, por nosso intermédio, o necessário para viver. Não se trata,
portanto, de um pedido passivo; é uma oração que pode requerer
responsabilidade. Jejuando percebemos que não vivemos só de pão, mas que Deus
sacia a nossa fome mais profunda. O jejum relativiza a comida e, ao mesmo
tempo, desperta em nós a sensibilidade de comer com gratidão e concentração,
fruindo na comida as dádivas de Deus. O pedido pelo alimento não deve virar uma
preocupação receosa que tome conta de todo o nosso coração. Quanto à
necessidade de alimentar-nos e de vestirmo-nos, Jesus nos remete aos pássaros
do céu e aos lírios do campo. Ele quer acertar os ponteiros que regulam nossa
vida. Não é a preocupação com a alimentação e a roupa que deve determinar a
nossa vida, e sim a preocupação com o Reino de Deus: ‘Bem sabe o vosso Pai
celeste que precisais de todas essas coisas. Procurai primeiro o Reino e a
justiça de Deus, e tudo isso vos será dado por acréscimo’ (6,32s). A
preocupação com o sustento da vida e com o trabalho que assegura esse sustento
faz parte da natureza do homem. Mas o critério que decide se o homem é
verdadeiramente homem é a sua preocupação com o Reino e a justiça de Deus. Quando
Deus reina no ser humano, este se torna realmente humano e verdadeiramente
livre. Quando Deus reina no ser humano, este se habilita para uma nova justiça
e o reinado de Deus se expressa em um novo comportamento. Essa é a questão
central, e não a inquietação que nos faz voltear aflitos em torno de si mesmos” (Anselm Grüm – Jesus: Mestre
da Salvação – Loyola).
Pe.
João Bosco Vieira Leite