(2Tm 2,8-15; Sl 24[25]; Mc 12,28-34) 9ª Semana do Tempo Comum.
“Um mestre da Lei
aproximou-se de Jesus e perguntou-lhe: ‘Qual é o primeiro de todos os
mandamentos?’” Mc 12,28.
“Estava atendendo a um
doente de 83 anos, autor de mais de uma centena de livros, um homem que tivera
muitos cargos na vida. Ele comentava comigo que a velhice lúcida é um tempo por
excelência de sínteses. Como nunca, dizia ele, vejo a diferença entre miolo e
casca. De repente, me perguntou: ‘Padre, como o Sr. Resumiria, numa frase, toda
sua fé?’. Lembrei-me de imediato do escriba que se aproximara de Jesus e
perguntara qual era o primeiro mandamento, isto é, o mandamento que contivesse
todos os outros. Dei a meu velho amigo a mesma resposta de Jesus ao escriba
curioso: ‘Amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo’ (Mc
12,30-31). E ficamos bom tempo falando do que significa ‘amar de todo o
coração’. Ultrapassa os sentimentos. Porque ‘coração’ na Bíblia significa a
totalidade do homem, com sua inteligência, sua vontade, seu afeto, seu jeito de
sentir e fazer, seu passado, seu presente. Não é apenas um mergulhar no amor. É
fazer do ser inteiro uma peça amorosa, é fazer do amor a ossatura e a carne da
vida. É chegar, com respeito ao homem, à mesma conclusão a que chegou João a
respeito de Deus: ‘Deus é amor!’ (1Jo 4,8). Quando o homem for amor, terá
assimilado todo o Evangelho, com suas leis e conselhos. E estará convencido de
que na vida o miolo é Deus e todo o resto, por brilhoso e necessário que
pareça, é casca. Foi quando chegou a esse momento que São Francisco de Assis
gritou para Deus nas grotas do Alverne: ‘Meu Deus, és o meu tudo!’ E o biógrafo
Celano observa: ‘Quando ouvia falar em amor de Deus, sentia-se excitado,
tocado, inflamado, como se o som da corda exterior fizesse vibrar sua corda
interior’ (1Cel 196). – ‘Absorvei, Senhor, eu vos suplico, o meu
espírito, e pela suave e ardente força do vosso amor, desafeiçoai-me de todas
as coisas que debaixo do céu existem, a fim de que eu possa morrer por vosso
amor. Amém’ (São Francisco)” (Clarêncio Neotti – Graças a Deus [1995] –
Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite