Quinta, 6 de junho de 2024

(2Tm 2,8-15; Sl 24[25]; Mc 12,28-34) 9ª Semana do Tempo Comum.

“Um mestre da Lei aproximou-se de Jesus e perguntou-lhe: ‘Qual é o primeiro de todos os mandamentos?’” Mc 12,28.

“Estava atendendo a um doente de 83 anos, autor de mais de uma centena de livros, um homem que tivera muitos cargos na vida. Ele comentava comigo que a velhice lúcida é um tempo por excelência de sínteses. Como nunca, dizia ele, vejo a diferença entre miolo e casca. De repente, me perguntou: ‘Padre, como o Sr. Resumiria, numa frase, toda sua fé?’. Lembrei-me de imediato do escriba que se aproximara de Jesus e perguntara qual era o primeiro mandamento, isto é, o mandamento que contivesse todos os outros. Dei a meu velho amigo a mesma resposta de Jesus ao escriba curioso: ‘Amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo’ (Mc 12,30-31). E ficamos bom tempo falando do que significa ‘amar de todo o coração’. Ultrapassa os sentimentos. Porque ‘coração’ na Bíblia significa a totalidade do homem, com sua inteligência, sua vontade, seu afeto, seu jeito de sentir e fazer, seu passado, seu presente. Não é apenas um mergulhar no amor. É fazer do ser inteiro uma peça amorosa, é fazer do amor a ossatura e a carne da vida. É chegar, com respeito ao homem, à mesma conclusão a que chegou João a respeito de Deus: ‘Deus é amor!’ (1Jo 4,8). Quando o homem for amor, terá assimilado todo o Evangelho, com suas leis e conselhos. E estará convencido de que na vida o miolo é Deus e todo o resto, por brilhoso e necessário que pareça, é casca. Foi quando chegou a esse momento que São Francisco de Assis gritou para Deus nas grotas do Alverne: ‘Meu Deus, és o meu tudo!’ E o biógrafo Celano observa: ‘Quando ouvia falar em amor de Deus, sentia-se excitado, tocado, inflamado, como se o som da corda exterior fizesse vibrar sua corda interior’ (1Cel 196). – ‘Absorvei, Senhor, eu vos suplico, o meu espírito, e pela suave e ardente força do vosso amor, desafeiçoai-me de todas as coisas que debaixo do céu existem, a fim de que eu possa morrer por vosso amor. Amém’ (São Francisco)” (Clarêncio Neotti – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite