Segunda, 01 de julho de 2024

(Am 2,6-10.13-16; Sl 49[50]; Mt 8,18-22) 13ª Semana do Tempo Comum.

“Então um mestre da Lei aproximou-se e disse: ‘Mestre, eu te seguirei aonde quer que tu vás’” Mt 8,19.

“Neste evangelho são-nos propostos dois modelos, duas disposições no seguimento de Jesus. São dois discípulos, ou dois pretensos discípulos de Jesus, que, cativados pelas palavras, querem acompanhar o Mestre, querem imitar seu modo de ser e de viver, dedicar-se, como ele, à propagação do Reino de Deus entre os povos. O primeiro pretendente demonstra uma disposição única que se depreende de suas próprias palavras: ‘Seguir-te-ei para onde quer que fores’ (v. 19). Sua expressão é perfeita, sem enfraquecimento, sem escusas, sem timidez; atitude nobre e generosa. O que o motivou a tomar esta resolução? Antes de mais nada, o chamado interno do Senhor, talvez explicitado com aquela palavra: ‘Segue-me’. Também nós escutamos um dia esse mesmo chamado do Senhor: foi Deus quem nos escolheu para este modo concreto de ser e de viver, de conformidade com a vida do Senhor Jesus. A iniciativa quem a tomou foi Deus, ainda que nós não o tenhamos notado; mas agora que estamos iluminados pela fé, sabemos assim foi e devemos prostar-nos diante da infinita bondade de nosso Deus, que nos ‘escolheu e nos predestinou’, para tornar efetivo o seu Reino no mundo. E nós respondemos da mesma maneira como o fez aquele discípulo, aquele escriba: ‘Seguir-te-ei para onde quer que fores’ (v. 19). E vamos seguindo-o, com maior ou menor fidelidade: mas continuamos seguindo-o. A fim de conseguir um seguimento mais fiel, será conveniente que reflitamos sobre as condições que o Senhor exige. Assim o demonstra ao escriba: talvez ele tenha-se deixado levar somente pelo entusiasmo; mas não pensou suficientemente nas condições duras que o seguimento do Senhor exige. O Senhor as manifesta e as expõe com o exemplo dos animais: as raposas e os pássaros, que apesar de serem tão nômades, encontram seus lugares de repouso e descanso. Porém o seguidor de Cristo, da mesma forma que o Mestre, sabe que não tem onde reclinar-se, isto é, não deverá ter momento de repouso, não deverá dar a si próprio repouso, pois essa é sua missão, como apóstolo, ir e vir a todas as partes levando a boa nova da Salvação” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

São Pedro e São Paulo – Missa do Dia

(At 12,1-11; Sl 33[34]; 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19)

1. Nas nossas festas juninas não se faz nenhuma referência a Paulo, apesar de sua estreita relação com Pedro no que diz respeito a nossa Igreja Católica. Hoje deixarei de lado um pouco a figura de Pedro para voltar-nos brevemente sobre Paulo. Não sobre sua história, mas um elemento de sua mensagem, refletido por Bento XVI no encerramento do Ano Paulino.

2. Paulo ficou conhecido como ‘mestre das nações’ pelo seu empenho missionário. Ele percorreu muitos caminhos exteriores e interiores com a tocha do Evangelho, encontrando contradição e adesão, numa busca também pessoal de encontrar-se com Cristo Ressuscitado e com Ele identificar-se.

3. Sempre fez parte da estrutura das Cartas de Paulo, uma referência ao lugar e à situação particular, seguida de uma explicação do Mistério de Cristo e o ensinamento da fé. Para ele o mais importante era que seus leitores/ouvintes se perguntassem: o que deriva desta fé? Como plasma ela a nossa existência no dia a dia?

4. Na sua Carta aos Romanos, a partir do capítulo 12, o apóstolo nos fala desse novo culto que prestamos a Deus a partir do nosso próprio corpo. Já não se oferecem a Deus coisas. É a nossa própria existência que deve tornar-se louvor a Deus.

5. Mas como acontece isto? No versículo 2 desse capítulo encontramos a resposta em duas palavras: ‘transformar’ e ‘renovar’. Devemos tornar-nos pessoas novas, transformados num novo modo de existência.

6. O mundo está sempre em busca de novidades, porque com razão se sente sempre insatisfeito com a realidade concreta. Paulo diz-nos: o mundo não pode ser renovado sem seres humanos novos. Somente se houver homens novos, haverá também um mundo novo, um mundo renovado e melhor.

7. Só se nós mesmos nos renovamos, o mundo será novo. Isto significa inclusive que não basta adaptar-se à situação atual. O Apóstolo exorta-nos a um não-conformismo. A não submeter-nos ao esquema da época atual. O ‘não’ do Apóstolo é claro e também convincente para quem observa o ‘esquema’ do nosso mundo.

8. Na sua Carta aos Efésios, Paulo exorta a uma ‘fé adulta’, não no sentido da atitude de quem não dá ouvidos à Igreja e aos seus Pastores, mas ao contrário, é necessário coragem para aderir à fé da Igreja, não obstante ela contradiga o ‘esquema’ do mundo contemporâneo. 

9. Mas tornar-se novo – como se pode fazer isto? Somos verdadeiramente capazes? Paulo sempre nos oferece como modelo sua própria conversão. Ele tornou-se novo, outra pessoa, porque já não vive para si mesmo e em virtude de si próprio, mas para e em Cristo.

10. Porém, ao longo dos anos viu também que este processo de renovação e de transformação continua durante a vida inteira. Tornar-nos-emos novos, se nos deixarmos arrebatar e plasmar pelo Homem novo, Jesus Cristo. Ele é o Homem novo por excelência.

11. Esse processo de ‘fusão’, passa pela renovação do nosso ‘modo de pensar’. A nossa razão deve renovar-se. Desejaríamos talvez que se referisse antes a alguma atitude: aquilo que temos de mudar no nosso agir, mas não: a renovação deve ir até o fundo. O nosso modo de ver o mundo, de compreender a realidade.

12. Paulo deixa claro que para isso é necessário compreender a Vontade de Deus, de tal maneira que ela plasme a nossa vontade. A fim de que nós mesmos desejemos o que Deus quer, para que reconheçamos que o que Deus quer é a beleza e a bondade.

13. Por conseguinte, trata-se de uma mudança espiritual de base. Deus deve entrar no horizonte do nosso pensamento: o que Ele quer e o modo segundo o qual Ele idealizou o mundo e a mim mesmo. Temos que aprender a participar no pensamento e no desejo de Jesus Cristo. É então que seremos pessoas novas nos quais sobressai um mundo novo.

14. Esse é apenas um ponto da vastidão do pensamento paulino. Que ele possa nos ajudar nesse caminho que também fazemos em nosso encontro com Cristo. Que Ele habite em nossos corações e nos torne criaturas novas, que ajam em conformidade com a verdade na caridade. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 29 de junho de 2024

(Lm 2,2.10.10-14.18-19; Sl 73[74]; Mt 8,5-17) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Quando ouviu isso, Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: ‘Em verdade vos digo,

nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fé’” Mt 8,10.

“Entre os descendentes de Abraão seria natural encontrar pessoas que pudessem oferecer e demonstrar uma fé maior. Mesmo em Cafarnaum Jesus esperava dos seus uma reação melhor, mais favorável. Encontra, porém, ingratidão, ignorância, pessoa sem fé. O centurião rouba a cena e, de forma positiva, envergonha os de casa. Em geral, os centuriões eram pessoas respeitáveis no exército romano. Eram responsáveis pela disciplina e atuação de cem soldados. Eles estão presentes em vários relatos bíblicos. Este, em especial, possui um escravo que sofre muito na condição de paralítico e, acamado, padece. Seria natural ignorar, descartar, deixar morrer ou vender aquele bem comum. Ele poderia ser substituído. O inesperado acontece. Este centurião demonstra grande interesse particular em favor da integridade física do seu servo querido. Reserva tempo, argumenta e, no encontro com Jesus, tudo faz, convencendo-o a curar o seu servo. Jesus estava atento a todos os detalhes. Certamente analisou sua posição como homem de autoridade, viu de perto atitudes que demonstravam grande humildade e emitiu o parecer: ‘Eu vos garanto: em ninguém de Israel encontrei tanta fé’. O elogio do Mestre servia de parâmetro aos discípulos. De fato, aquele centurião foi um homem extraordinário e, para os nossos dias modernos, ainda serve como grande exemplo de fé, humilde e amor. Não está em nossas condições exigir ou determinar quando e como Deus deve agir. Cabe a nós, humildes servos, compreender e esperar pela sábia providência divina em nosso favor. Interceder e demonstrar interesse em que favoreçam outros sempre será visto por Deus como atitude daquele que tem grande fé. – A minha fé, Senhor, ponho em teu grande amor e em teu poder. Ouve ao que vem clamar, e humilde suplicar: teu sempre, e sem cessar, desejo ser. Amém” (Arnaldo Hoffmann Filho  – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 28 de junho de 2024

(2Rs 25,1-12; Sl 136[137]; Mt 8,1-4) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Junto aos rios da Babilônia nos sentávamos chorando, com saudade de Sião. Nos salgueiros por ali, penduramos nossas harpas” Sl 137,1-2.

“A cena se repete várias vezes em todo final de semana durante a temporada de futebol. O gol da vitória é marcado e a celebração começa. Na maioria das vezes, palavras ou gestos dirigidos para o time adversário destinam-se a apenas uma coisa: zombar dos perdedores. Quando o povo de Judá estava acorrentado, marchando para a Babilônia, seus captores tiraram o máximo de proveito da situação. Os judeus carregavam consigo instrumentos musicais, porque a música era uma parte importante de sua adoração, mas as harpas se tornaram o ponto focal do escárnio babilônico. ‘Por que vocês não cantam para nós uma daquelas músicas de Sião, os cânticos que falam sobre Jerusalém é forte e sobre como vocês se sentem seguros dentro de seus muros?” Então, a risada começava, pois Jerusalém havia caído nas mãos do exército babilônico, e agora os muros eram apenas uma pilha de escombros. Os babilônicos uivavam de tanto rir, mas o povo de Deus uivava de dor. Os israelitas se sentavam e choravam. Ansiavam ver Jerusalém mais uma vez. Recusavam-se a cantar os cânticos do Senhor em terra pagã. Por que pegariam algo que era santo ao Senhor e cantariam para aqueles que zombavam e desrespeitavam o Deus de Israel? Por que lançar palavras tão valiosas para aqueles que eram como cães espirituais? Seus captores queriam cânticos de júbilo e riso, mas os exilados não tinham alegria. Eles haviam perdido tudo, exceto Deus e a própria vida. Haviam visto milhares de seus companheiros judeus sendo mortos e soldados babilônios prazerosamente arremessando bebês judeus contra muros de pedra. Os babilônios queriam saber onde estava o grande Deus de Israel. Se ele é tão grande e poderoso, por que não resgatou seu povo? Os últimos versículos desse salmo foram escritos em resposta ao desafio que fizera à honra de Deus. Os babilônios haviam sido extremos em sua brutalidade, e o salmista pedia a Deus por justiça. Ele queria justiça contra os edomitas, parentes distantes dos israelitas, que deviam se preocupar com Israel, mas, antes, incitavam a Babilônia a fazer a destruição ainda maior. O escritor queria que a justiça fosse cumprida contra a desumanidade dos babilônios também. A justiça de Deus, por fim, veio. Após o castigo do exílio, Deus liberou uma nação igualmente cruel contra os babilônios. Os persas esmagaram o império babilônio, e, vinte anos depois desse salmo ser escrito, a própria cidade da Babilônia foi destruída. Desde então, por longos séculos, a cidade da Babilônia tem sido uma colina abandonada no deserto do Iraque, frequentada apenas por arqueólogos e chacais. A justiça de Deus pode parecer demorada para vir, mas ninguém escapa quando ela vem” (Dougla Connelly – Guia Fácil para entender Salmos – Thomas Nelson).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 27 de junho de 2024

(2Rs 24,8-17; Sl 78[79]; Mt 7,21-29) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus,

mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus” Mt 7,21.

“Em que consiste fazer a vontade de Deus? O que Deus quer e como nós podemos saber disso? Com certeza seria muito perigoso apontarmos determinadas ações e direcionamentos defendendo serem literalmente vontade de Deus. Pois, mesmo com boa vontade de nossa parte, não raro isso estaria impregnado com, na verdade, nossa vontade. Entretanto, o que sabemos de Deus é que Ele é Amor. Quem ama invariavelmente quer o bem, a felicidade, a realização do amado. Deus não nos ama de forma mesquinha, pensando mais em si mesmo do que na humanidade; pelo contrário, Ele ama de forma livre, não porque nós mereçamos, mas porque Ele é bom. Ele quer, portanto, nossa felicidade e realização, quer o que é melhor para o ser humano. Nós, entretanto, em nossa limitação, não percebemos o que, de verdade, é o melhor para a humanidade. Nossa percepção é mais limitada e pequena. Todavia, a busca por essa realização e felicidade é, sim, a vontade de Deus. portanto, não é quem grita por aí ‘Senhor, Senhor’, e com isso suporta sua fé, suporta os sacrifícios para um dia merecer a recompensa, que entrará no Reino de Deus. Mas, sim, aquele que realiza sua felicidade já no serviço ao Reino, na prática da caridade, no amor ao próximo, antecipando nisso a comunhão plena com Deus. Esse entrará no Reino de Deus simplesmente porque já o está construindo concretamente a cada dia, a cada atitude pela fé. – Quem és Tu, Senhor, e quem somos nós? Tu és o bem, o sumo bem, e eu um mísero vermizinho, teu ínfimo servo. Por que, então, tanto amor? Tu, Senhor, em tua bondade és tudo em nossas vidas, sustentas o próprio amor e permites ao ser humano aproximar-se de ti, experimentando cada vez mais esse amor verdadeiro, que gera vida, nutre e a sustenta. Queremos ser instrumentos desse amor, arautos da vida e da tua bondade. Amém! (Clauzemir Makximovitz  – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 26 de junho de 2024

(2Rs 22,8-13; 23,1-3; Sl 118[119]; Mt 7,15-20) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Cuidado com os falsos profetas: eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha,

mas por dentro são lobos ferozes” Mt 7,15.

“A falsidade, a hipocrisia, parecer ser, o simples desejo de aparentar, o pré-fabricado e inautêntico é o que mais se opõe ao evangelho. É verdade indiscutível que o cristão tem de ser verdadeira testemunha do Senhor e, como consequência, todos o devem ver como tal; tem de aparecer como tal; apresentar-se dessa maneira é o que moverá, aqueles que o rodeiam, a pensar em orientar sua vida para o Senhor. Mas não é menos verdade que não lhe basta parecer, e sim que sobretudo você deve ser; ser em sua interioridade o que parece exteriormente aos olhos dos outros. Ser e parecer; parecer e ser; isso é o autêntico discípulo de Cristo. Os frutos são os verdadeiros argumentos que convencem. Os frutos de santidade serão as melhores e mais convincentes provas de que sou discípulo do Senhor; a santidade de minha vida é a única que poderá convencer a mim e aos outros de que sou dedicado em plenitude de vida às obras do Senhor. Se cada dia for mais amante da vocação, se for mais profundamente piedoso, se os outros virem em mim maior sentido de caridade e compreensão, se cada dia me preocupar mais com os outros e menos comigo mesmo, se for mais abnegado, mais sacrificado, se viver mais preocupado com o Reino de Deus que com o meu... então, e somente então, é que minha vida será verdadeiro sinal escatológico; então e somente então minhas obras e os frutos de minha vida convencerão”  (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 25 de junho de 2024

(2Rs 19,9-11.14-21.31-36; Sl 47[48]; Mt 7,6.12-14) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas”

Mt 7,12.

“Jesus estabeleceu uma regra preciosa para o trato mútuo entre os discípulos do Reino. Cada qual deveria fazer para o outro tudo quanto gostaria que o outro lhe fizesse. É o desafio de dar aquilo que gostaria de receber. Esse princípio tem consequências bem práticas. O discípulo faz o bem ao próximo independentemente de retribuição, agindo com um amor gratuito e de qualidade. Dá o melhor de si. Procura sempre formas novas de fazer o bem. Não mede esforços, quando se trata de ser útil ao irmão. É sempre solícito e serviçal. Tudo isso porque gostaria de ser tratado assim. Não lhe importa o reconhecimento alheio. Esta é sua opção de vida. Toda Lei e os Profetas, ou seja, toda a Escritura, se resumem nesta regra de ouro do comportamento do discípulo. Não é preciso ir além dela, quem pretende viver um amor entranhado a Deus e ao próximo. O amor a Deus está aí presente, porque a opção do discípulo é uma opção de fé. Age assim, porque acredita nele. Por outro lado, este modo de agir só tem sentido quando se transforma em amor ao próximo. O trato cordial e amigo, em última análise, não se baseia na lei da retribuição, nem acontece por mera formalidade. Ele é sinal do bem desejado ao outro e da solidariedade que sua presença desperta. – Senhor Jesus, ensina-me a fazer a todos o bem que eu gostaria que me fizessem, como forma de expressar minha fé em ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 24 de junho de 2024

(Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80) Nascimento de São João Batista.

“Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho” Lc 1,57.

“Os quatro evangelhos falam difusamente a respeito de são João Batista. Nasceu em uma família sacerdotal. Isabel, prima da Santíssima Virgem, descendia de Aarão. O arcanjo Gabriel, ao anunciar a Zacarias o nascimento do filho, disse-lhe que seu nome deveria ser João (que significa ‘Deus é favorável’) e indicou seus extraordinários dotes: deveria ser grande diante de Deus (‘Entre os nascidos de mulher não há nenhum maior que João’, dirá Jesus); cheio do Espírito Santo; operará conversões em Israel e será precursor do Messias, com o espírito e o poder de Elias. Ao nascimento do menino, ao qual assistiu Maria, que se tinha dirigido pressurosamente a prestar seus serviços à prima em Ain Karim (sete quilômetros a oeste de Jerusalém), Zacarias recupera a palavra e eleva um cântico de reconhecimento, profetizando a grande missão de João: ‘Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo; pois irás à frente do Senhor para preparar-lhe os caminhos’. A Igreja comemora os santos no dia do seu ‘nascimento’ para a vida eterna. O nascimento para esta vida terrena é celebrado liturgicamente tão-só para Jesus, Maria e João. A tradição patrística afirma de fato que o Batista foi libertado do pecado original e santificado no seio materno ao primeiro encontro de Maria com a prima Isabel: ‘Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre’. A festividade é de antiga data. Quanto a João, é reconhecido o duplo título de último profeta (‘É mais de que um profeta’, diz Jesus) e primeiro apóstolo. Ao anunciar a chegada do Messias, João exortava à conversão e dava o batismo para a remissão dos pecados. Daí o nome de Batista ou Batizador. Profeta e apóstolo, é também mártir, pois pagou com a vida o rigor moral e a coragem de opor-se à má vida de um pequeno monarca apaixonado pela sobrinha, a qual não hesitou em pedir-lhe a cabeça do Batista, cujo martírio é celebrado liturgicamente a 29 de agosto” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

 

 

12º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Jó 38,1.8-11; Sl 106[107]; 2Cor 5,14-17; Mc 4,35-41)

1. Esse trecho do Evangelho nos é bastante conhecido. O ponto chave da narrativa parece ser não tanto o poder de Jesus sobre a natureza, mas o medo dos apóstolos somado a uma falta de fé. Em que consistia essa falta de fé dos apóstolos?

2. O problema aqui não parece ser tanto o fato de não crerem na força de Jesus, mas no fato de terem duvidado do seu amor. Colocaram em dúvida se Jesus de fato se importava com eles.

3. Sabemos quão terrível é dizer a alguém que amamos que ele “parece não se importar conosco” e ainda mais receber de volta um: ‘não me importo de você!’. Cria-se uma distância, cava-se um abismo entre eu e o outro: o abismo da indiferença.

4.O filósofo Martin Heidegger analisou por bastante tempo sobre a ideia do ‘cuidar’, ‘cuidar de alguém’, vendo nisso o ideal mais nobre e desinteressado que alguém possa aspirar. É verdade. A estatura moral de uma pessoa se mede da sua capacidade de cuidar de uma pessoa e da situação, particularmente num momento difícil.

5. Nós mesmos nos admiramos quando alguém cuida ou defende um subalterno publicamente, arriscando algo por ele. Reconhecemos isso como uma grandeza moral.

6. Voltando à pergunta dos apóstolos, eles colocam em dúvida a capacidade ou vontade de Jesus de cuidar das pessoas a ele confiadas, do seu altruísmo. Próprio a coisa que mais se observa em máximo grau na sua vida e que constitui o traça mais belo de sua personalidade. São João Evangelista traça bem essa imagem do Bom Pastor em Jesus.

7. Contemplamos essa travessia do mar da Galileia como a travessia da vida. O mar é a minha família, a minha comunidade, o meu próprio coração. Pequenos mares, mas onde podem despontar, bem sabemos, grandes e imprevistas tempestades.

8. Quem não conheceu uma dessas tempestades, quando tudo se fez escuro e a barca de nossa vida começa a encher-se de água por todas as partes, enquanto Deus parece dormir?

9. Essas tempestades aparecem num resultado de um exame; num filho que toma um caminho perigoso na vida; uma dificuldade financeira, a perda do emprego ou mesmo o fim de um namoro, de um casamento. Que fazer? Em que prender-se? De que parte lançar âncora?

10. Jesus não nos dá uma receita mágica sobre como afastar na vida todas as tempestades. Não nos prometeu de evitar as dificuldades, nos prometeu somente a força de superá-las, se o pedimos: “Te basta a minha graça; pois a minha força se manifesta plenamente na fraqueza”, respondeu Jesus a Paulo, em sua fragilidade.

11. E Paulo passou a se vangloriar da sua enfermidade, das perseguições e angústias, até poder chegar a dizer: “Quando sou fraco, aí é que sou forte” (2Cor 12,7-10).

12. A confiança em Deus: é esta a mensagem do Evangelho. O que salvou os discípulos do naufrágio foi terem Jesus em sua barca, antes de iniciar a travessia. E esta é também a garantia melhor para nós contra as tempestades da vida. Ter conosco Jesus. E o meio para isso é a fé, a oração e a observância de seus mandamentos.

13. Quando no mar desencadeia a tempestade, os antigos marinheiros lançavam óleo sobre as ondas para aplacá-las. Nós lançamos sobre as ondas do medo e da angústia o óleo da confiança em Deus. São Pedro exortava os primeiros cristãos a terem confiança em Deus no meio das perseguições dizendo: “Lançai sobre ele todas as vossas preocupações, porque ele tem cuidado de vós” (1Pd 5,7).

14. Como aquele poema ‘pegadas na areia’, precisamos aprender a confiar em Deus e no seu cuidado para conosco, recordando que muitas vezes foi ele quem nos carregou, pois muitas vezes também, somos tentados a lamentar com Deus por nos ter deixado sozinhos. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 22 de junho de 2024

(2Cr 24,17-25; Sl 88[89]; Mt 6,24-34) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Ninguém pode servir a dois senhores, pois ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um

e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” Mt 6,24.

“A opção do discípulo pelo Reino não lhe permite estabelecer concorrente para Deus. Sua vida está toda polarizada pelo Pai, não permitindo que nada se intrometa nesta relação de exclusividade. O Pai reina absoluto no coração do seguidor de Jesus. Existe incompatibilidade entre Deus e o dinheiro. Donde a exortação de Jesus sobre a impossibilidade de servir a ambos, ao mesmo tempo. O projeto de Deus funda-se na partilha; o do dinheiro, na concentração dos bens. A ação movida por Deus pauta-se pelo amor e pelo serviço ao próximo; a movida pelo dinheiro transforma o próximo em objeto de exploração. O grande desígnio de Deus é a união de todos em torno de objetivos comuns, enquanto que a sede de dinheiro aprofunda a separação entre ricos e pobres. Os primeiros não se importam com a penúria destes. Deus é um bem precioso, do qual ninguém pode privar o discípulo. Já o dinheiro é um bem precário, extremamente frágil, que se pode perder a qualquer momento. Pode-se facilmente perceber a impossibilidade de reconciliar Deus e o dinheiro. Engana-se quem pensa poder seguir a ambos ao mesmo tempo. Uma pretensa conciliação entre Deus e o dinheiro acontece em detrimento de Deus. Quem age, assim, demonstra sua tendência idolátrica. – Senhor Jesus, que eu tenha um coração indiviso, entregue somente a ti. E que eu seja forte para rejeitar toda a tendência à idolatria que se quer instalar dentro de mim (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 21 de junho de 2024

(2Rs 11,1-4.9-18.20; Sl 131[132]; Mt 6,19-23) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Não junteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam”

Mt 6,19.

“O Senhor não proíbe um cuidado prudente e preocupação moderada pelas coisas materiais; a prudência na previsão do futuro, para nós e para os outros, é uma virtude, não só humana, mas também cristã. Porém não é possível que um filho de Deus se preocupe de tal forma com as coisas materiais que perca de vista as espirituais. O desprendimento dos bens materiais, pela pobreza evangélica, há de levar-nos a viver preocupados de modo intenso com os bens espirituais; que o material ocupe em nossa vida somente o lugar necessário. Feliz aquele que, dando às coisas terrenas a atenção necessária, põe seu principal cuidado em que venha o Reino de Deus. Cuidemos das coisas de Deus, e Deus cuidará de nossas coisas. Os tesouros, que verdadeiramente são tesouros, na presença e no modo de avaliar do Senhor, não são as joias, as roupas, o dinheiro, as posses; são os tesouros do céu, que são imperecíveis: a presença de Deus e seu amor e aqueles tesouros espirituais que podemos adquirir nesta terra, e que nos tornarão possível a aquisição dos valores do céu: as obras, a oração, a caridade” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 20 de junho de 2024

(Eclo 48,1-15; Sl 96[97]; Mt 6,7-15) 11ª Semana do Tempo Comum.

“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” Mt 6,11.

“A súplica ‘O pão nosso de cada dia nos dá hoje’ é explicada pelas palavras de Jesus sobre a esmola, oração e jejum e pelo poema didático sobre a despreocupação (6,19-34). Os exegetas tentaram exaustivamente descobrir como deveria ser traduzida a palavra ‘epiousios’. É provável que a melhor tradução seja: ‘Dá-nos hoje o pão de amanhã’. O pedido ‘nasce de uma situação de aflição social, em que o pão do dia seguinte não é uma obviedade’ (Luz, 347). Limbeck, por sua vez, acha que ‘epiousios’ deve ser traduzido como ‘necessário para a existência, indispensável’. A súplica teria, então, o seguinte sentido: ‘Dá-nos hoje o pão de que necessitamos’ (Limbeck, 107). Interpretando essa súplica à luz de todo o capítulo 6, chega-se à conclusão de que se pode pedir a Deus tudo o que se necessita, mas ao mesmo tempo é preciso descobrir onde Deus quer dar aos outros, por nosso intermédio, o necessário para viver. Não se trata, portanto, de um pedido passivo; é uma oração que pode requerer responsabilidade. Jejuando percebemos que não vivemos só de pão, mas que Deus sacia a nossa fome mais profunda. O jejum relativiza a comida e, ao mesmo tempo, desperta em nós a sensibilidade de comer com gratidão e concentração, fruindo na comida as dádivas de Deus. O pedido pelo alimento não deve virar uma preocupação receosa que tome conta de todo o nosso coração. Quanto à necessidade de alimentar-nos e de vestirmo-nos, Jesus nos remete aos pássaros do céu e aos lírios do campo. Ele quer acertar os ponteiros que regulam nossa vida. Não é a preocupação com a alimentação e a roupa que deve determinar a nossa vida, e sim a preocupação com o Reino de Deus: ‘Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de todas essas coisas. Procurai primeiro o Reino e a justiça de Deus, e tudo isso vos será dado por acréscimo’ (6,32s). A preocupação com o sustento da vida e com o trabalho que assegura esse sustento faz parte da natureza do homem. Mas o critério que decide se o homem é verdadeiramente homem é a sua preocupação com o Reino e a justiça de Deus. Quando Deus reina no ser humano, este se torna realmente humano e verdadeiramente livre. Quando Deus reina no ser humano, este se habilita para uma nova justiça e o reinado de Deus se expressa em um novo comportamento. Essa é a questão central, e não a inquietação que nos faz voltear aflitos em torno de si mesmos” (Anselm Grüm – Jesus: Mestre da Salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 19 de junho de 2024

(2Rs 2,1.6-14; Sl 30[31]; Mt 6,1-6.16-18) 11ª Semana do Tempo Comum.

“E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um de outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho” 2Rs 2,11.

“Estamos perto do ‘ciclo de Elias’. As páginas que precedem a leitura que hoje a liturgia propõe narram o cumprimento da palavra do profeta em 853 a.C. Acab cai no campo de batalha com uma morte corajosa que resgata em parte a sua vida mesquinha, mas os cães lambem seu sangue (1Rs 22,29-38). Também Elias deixa esta terra, mas de forma bem diferente: num redemoinho de fogo, como inflamada fora pela Palavra do Senhor a sua vida. E deixa um discípulo para prosseguir o seu ministério. [Compreender a Palavra:] enquanto a figura de Elias se destaca solitária entre Deus e o povo, a de Eliseu perfila-se agora num ambiente coral, o dos ‘filhos de profetas’ (semitismo para dizer ‘profetas’: v. 7), uma espécie de confraria composta por servos de Deus com as suas famílias. Perante eles, pela última vez, Elias dá provas do seu carisma, separando as águas como Moisés (cf. Ex 14,21) e como Josué (cf. 3,13). De acordo com o direito de progenitura, que estabelecia destinar ao primogênito dois terços dos bens paternos (cf. Dt 21,17), o carisma profético de Elias passou para Eliseu, ao qual o Senhor se dá a conhecer: o fato de o discípulo poder contemplar o arrebatamento do mestre para o céu, uma visão escondida aos olhos humanos, é sinal de que Deus acolheu o seu pedido audaz e lhe concedeu o espírito profético de Elias. Este, figura de fogo caída na História da salvação como um meteoro, sem genealogia nem descendentes, ‘carro e condutor de Israel’ (cf. v. 12), defensor do povo e seu guia, sobe ao céu num redemoinho: a imagem, que naturalmente não se deve tomar à letra, pode indicar, como no caso de Henoc (cf. Gn 5,24), um fim repentino que assume plenamente a pessoa na comunhão com Deus” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de I a XVII] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 18 de junho de 2024

(1Rs 21,17-29; Sl 50[51]; Mt 5,43-48) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” Mt 5,44.

“Na lei antiga preceitua-se o amor ao próximo (Levítico 19,18). Mas, aí, o próximo não é o ser humano, mas somente o membro da comunidade de Israel, isto é, para os judeus, o próximo era o da mesma raça ou nação. ‘Odiarás teu inimigo’; a natureza da linguagem do original aramaico, em que foi escrito o primeiro Evangelho segundo São Mateus, explica essa dureza de expressão. No entanto, na prática de nossas vidas, pode ser que nos contentemos com o preceito hebraico somente! Talvez nos satisfaça o simples fato de não odiar, de não querer mal, de não fazer mal; e tudo isso é muito negativo. Pois o preceito do amor, que Jesus nos impôs, é sumamente positivo. Limitar-nos apenas e evitar o mal é situar-nos fora da lei do evangelho. Porque, para o cristão, a noção de próximo é universal. Se todo homem é efetivamente filho de Deus, ou pelo menos é chamado a sê-lo, todo ser humano tem vocação para essa filiação divina, é de fato um irmão nosso; e sendo irmão, é nosso próximo. É verdade que entre esses irmãos, entre esses próximos encontram-se os que não gostam de nós e, inclusive, os que nos perturbam. Mesmo esses são nosso próximo. Por isso, o Senhor Jesus específica a projeção deste amor ao próximo, quando explica que devemos amar os que nos odeiam e perseguem, maldizem-nos, caluniam-nos e estão prontos a fazer-nos todo mal que puderem. Devemos fomentar em nosso coração o amor a nossos inimigos, não os excluindo das demonstrações externas de respeito e de nossas conversas, em nosso trato e sobretudo em nossas orações por eles” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

Segunda, 17 de junho de 2024

(1Rs 21,1-16; Sl 5; Mt 5,38-42) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Eu, porém, vos digo: não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa

na face direita, oferece-lhe também a esquerda!” Mt 5,39.

“O discípulo do Reino não pode contentar-se com retribuir ‘olho por olho e dente por dente’. Ele se caracteriza pela capacidade de quebrar, com firmeza, a espiral de violência, mediante atitudes chocantes até mesmo para seu agressor. Não é fácil imaginar alguém oferecendo a face esquerda para ser esbofeteada, quando já recebeu um bofetão na direita. Do mesmo modo, alguém que pretenda extorquir uma túnica, em juízo, e ver o lesado oferecer-lhe também o manto. Ou, então, quem é obrigado a fazer companhia a alguém, numa longa caminhada, para protegê-lo de assalto, mostra-se disposto a caminhar o dobro. Estas atitudes são, à primeira vista, insensatas e injustificáveis. No entanto, são normas de conduta para o discípulo. Que finalidade teriam? Jesus não estava pregando uma espiritualidade de humilhação e de sofrimento. Não lhe interessava ver o discípulo humilhado. O gesto proposto visava converter o agressor para o Reino. Mostrar-lhe que é possível viver sem violência. Abrir-lhe os olhos para a possibilidade de se relacionar com o próximo, sem transformá-lo em objeto de seu ódio, e estabelecer relações verdadeiramente fraternas e amistosas. A não-violência do discípulo do Reino, portanto, é vivida de forma positiva e construtiva. O Reino vai se construindo onde a violência dá lugar ao amor. – Senhor Jesus, dá-me força para quebrar a espiral da violência e transformar o ódio em amor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

11º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Ez 17,22-24; Sl 91[92]; 2Cor 5,6-10; Mc 4,26-34)

1. Na celebração da tarde do domingo anterior, falávamos sobre o significado do ‘Reino de Deus’. Este não pode ser entendido com base em nossas categorias de domínio e de poder. O Reino não é fundamentalmente uma situação nova e melhor ou simplesmente um lugar de felicidade.

2. Há quem entenda o Reino anunciado por Jesus como a acolhida livre do ser humano de Deus como Absoluto, o valor maior da vida de alguém. É a partir daí que ele abre os olhos para a dimensão exata de cada realidade, entende o verdadeiro valor das coisas e estabelece com elas um relacionamento adequado.

3. Em nosso evangelho Jesus parte da botânica, falando do processo de desenvolvimento da semente e, particularmente, do grão de mostarda, que embora minúscula, não é a menor das sementes que se conhece. Mas para os ouvintes de Jesus ela significava algo pequeno, uma quantia mínima.

4. Mas mesmo sendo tão pequena, ela é ativa. Em um ano ela chega a mais de um metro e pode chegar a três ou quatro metros de altura a depender da região. Fixemo-nos nessa 1ª indicação importante: Deus escolhe a realidade mais humilde para realizar o seu desígnio de grandeza.

5. Mas toda a ‘operação’ deve ser atribuída exclusivamente a Ele. O Reino é obra exclusiva de Deus. E aqui vem também anulada qualquer ideia de domínio e de conquista para dar espaço a aquela de refúgio e proteção: “os pássaros podem abrigar-se à sua sombra...”.

6. Na parábola do semeador, os pássaros aparecem como uma ameaça pois comem as sementes. Mas aqui eles são hospedados. Nesta perspectiva, os inimigos resultam vencidos não porque são exterminados, mas porque são ‘acolhidos’.

7. Nós passamos ao lado de uma mata ou plantação e contemplamos todo esse processo com algo normal, que obedece às leis biológicas. Para o homem da Bíblia trata-se de uma série de milagres. Assim sendo, a parábola nos diz que o crescimento do Reino é algo de prodigioso, como ação de Deus, não controlado pelo ser humano.

8. Há quem confunda o Reino de Deus com o desenvolvimento e a difusão da Igreja. O Reino certamente é operante na terra e na Igreja, mas ele não é uma dimensão visível e uma instituição exterior como a Igreja em si. Não pode ser interpretado a partir de uma manifestação externa de grandeza, de extensão de influência, sucesso...

9. E assim entramos no terreno do contraditório: O Reino é pouco aparente, mas presente e operante. De pouca influência, mas determinante; supérfluo, mas necessário. Vemos isso na própria hesitação de Jesus na busca de uma comparação.

10. É como se o Reino fosse planta e semente ao mesmo tempo, porque ele, mesmo quando uma planta já crescida, não deixa de ser semente.

11. Essa parábola de Jesus não nos projeta ao futuro, mas nos faz atento ao presente. A humildade da imagem da semente não deve soar como algo sem importância. Desprezar as coisas que parecem sem importância pode trazer consequências incalculáveis. Transcurando o cotidiano, perdemos esse encontro com o Reino.

12. O Reino está nas coisas familiares. No ato de compartilhar o pão, um sorriso, um gesto de solidariedade, um olhar de simpatia, uma amizade, de colocar-se ao lado do mais frágil, de abraçar uma ‘causa perdida’, uma porta aberta, um prato a mais na mesa... coisas que traduzem uma presença, uma escolha.

13. A árvore do nosso Evangelho permite que os pássaros encontrem abrigo. Sua importância não se mede pelo tamanho, mas pela quantidade de ninhos permitidos. São eles que revelam sua importância. Em outro momento o Evangelho nos dirá que são os frutos que falam da árvore. Há quem aprecie uma boa sombra. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 15 de junho de 2024

(1Rs 19,19-21; Sl 15[16]; Mt 5,33-37) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Eu, porém, vos digo, não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus” Mt 5,34.

“A Lei proibia apenas o juramento falso e exigia o cumprimento do juramento feito. Jesus foi além, proibindo qualquer forma de juramento. Portanto, o discípulo do Reino deveria evitar servir-se deste expediente para dar credibilidade à sua palavra. O rigor de Jesus visava criar, no coração do discípulo, um clima de sinceridade e transparência, a ponto de não precisar recorrer ao artifício do juramento, quando falasse ou prometesse algo. A mentira e o dolo são incompatíveis com o proceder do discípulo do Reino. Quem recorre a expedientes deste tipo, renega sua adesão ao Senhor. Outro objetivo da proibição de Jesus era evitar a vulgarização de Deus. O juramento falso infringe o mandamento que proíbe usar em vão o nome de Deus. O discípulo autêntico não tem necessidade de, a cada passo, lançar mão deste recurso para que se acredite em sua palavra. O sim do discípulo é sim e o não é não. Não lhe interessa enganar. Tudo quanto é dito fora destes limites não vem de Deus. Por isso, tem de ser evitado. Para Jesus, a formulação tradicional do mandamento não era suficiente para garantir relacionamentos sadios na comunidade cristã. A necessidade de continuamente invocar o nome de Deus, para garantir o trato mútuo, podia ser indício de que o Reino ainda não tinha chegado a transformar interiormente o discípulo. – Senhor Jesus, dá-me a graça da sinceridade e da transparência, para que seja sempre honesto no relacionamento com o meu próximo (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 14 de junho de 2024

(1Rs 19,9.11-16; Sl 26[27]; Mt 5,27-32) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato,

é melhor perder um de teus membros do que todo o teu corpo ser jogado no inferno” Mt 5,29.

“Como em tantas as outras ocasiões, não devemos apegar-nos a exagerado literalismo na interpretação do texto sagrado. Temos de procurar descobrir antes de tudo o sentido da mensagem que se centraliza nas afirmações do Senhor. Não basta evitar o pecado, que é o que nos separa do amor de Deus; é necessário também evitar tudo aquilo que, de uma ou outra forma, nos possa levar ao pecado. Evitar as ocasiões de pecar; o pecado e tudo aquilo que, sem ser propriamente pecado, não está tampouco de acordo com a vontade do Senhor; aquilo sem ser propriamente pecado não é também expressão do seu divino amor. A vida eterna e a graça do Senhor são bens suficientemente grandes e belos, para levar-nos a fazer qualquer sacrifício, por mais doloroso que seja, a fim de permanecermos nessa graça e nesse amor. O olho ‘direito’, a mão ‘direita’ estão nos indicando que o sacrifício, que precisamos aceitar, pode ser para nós algo muito bem-vindo. Nada pode ser tão bem-vindo, nada mais valioso para nós, do que essa graça de Deus, do que esse amor de Deus. Tudo o mais passa e fenece; tudo tem um valor momentâneo e limitado; mas o amor de Deus e a vida da graça transcendem todos os limites humanos e todas as categorias humanas” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 13 de junho de 2024

(1Rs 18,41-46; Sl 64[65]; Mt 5,20-26) Santo Antônio de Pádua, presbítero e doutor da Igreja.

“Elias disse a Acab: ‘Sobe, come e bebe, porque já ouço o ruido de muita chuva’” 1Rs 18,41.

“O povo acolheu JHWH como Deus e Elias purificou Israel da presença dos profetas pagãos (cf. 1Rs 18,39-40): finalmente a chuva volta para fecundar a terra e permite sair de um longo jejum. O monte Carmelo, cenário do desafio de Elias, tona-se agora o lugar da oração solitária do profeta. Mas o espírito de JHWH não deixa este homem de Deus no seu isolamento feliz: recondu-lo rapidamente, e com uma rapidez que bate em velocidade inclusive os carros do rei, ao palácio de Jezrael. [Compreender a Palavra:] A imagem bíblica da chuva que cai do céu é densa de significado. Terra árida, escassamente irrigada por cursos de água, a Palestina dependia então quase totalmente da chuva, para a sua fecundidade e para a própria sobrevivência dos habitantes. A chuva, não dominada pelo homem, ao contrário dos rios que podem ser canalizados, aparece então como um dom celeste, uma dádiva divina, imagem de uma graça não devida, que se derrama sobre o homem para vivificar e fortificar. O profeta, sentinela do futuro, com a sua insistente espera, com a sua atitude de profunda ação de graças, chega a pressentir e a anunciar a graça que Deus está para derramar sobre a terra. A eficácia narrativa do hagiógrafo surpreende-nos com o contraste entre o ténue presságio de chuva, que vem do lado do mar, e o rumor benéfico da água que serve para fertilizar a terra seca. A tradição cristã tem, ao longo dos séculos, interpretado a nuvenzinha que sai do mar e vem sobre a terra fornecer a chuva e a vida com uma imagem da Virgem Maria. A força do Senhor conduz depois Elias a Jezrael: não obstante o seu significado de bom presságio (‘Deus semeou’), este nome insere-se desde agora na narração bíblica como um pressentimento de pecado e de desgraça: essa localidade será em breve teatro sanguinolento do homicídio de Nabot (cf. 1Rs 21) e da matança da casa de Acab (cf. 2Rs 9-10)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de I a XVII] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 12 junho de 2024

(1Rs 18,20-39; Sl 15[16]; Mt 5,17-19) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Não penseis que vim para abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir,

mas para dar-lhes pleno cumprimento” Mt 5,17.

“Cristo aperfeiçoa a lei com sua doutrina, ao interpretar o sentido correto do Antigo Testamento, deformado pelo legalismo farisaico, e conformando a lei com o novo espírito e evangélico. A justiça farisaica, condenada aqui pelo Senhor, era uma verdadeira farsa, chegando a ser verdadeira idolatria da letra, prescindindo do espírito que devia animar essa letra. O Senhor nos abre para outra justiça mais profunda e real; não podemos contentar-nos com a observância da letra, porque, como nos diz São Paulo, ‘a letra mata, mas o espírito vivifica’ (2Coríntios 3,6). Letra sem amor é letra morta; amor, que não se expressa e não se manifesta, logo se apaga; amor que não obedece ao preceituado pelo Senhor diretamente, ou por meio de seus representantes legítimos, não é na realidade senão um amor fingido. O que Jesus aperfeiçoou na lei antiga? Aperfeiçoou alguns preceitos morais; outras leis cerimoniais e rituais ficaram superadas pelo novo sacrifício da cruz; ele ficou convertido na única e verdadeira vítima por nossa redenção. As leis que regulavam o governo do povo, foram aperfeiçoadas pela instituição da hierarquia eclesial, da Igreja hierárquica, novo povo de Deus; numa palavra: o que, no Antigo Testamento, era somente uma sombra e uma figura típica do que haveria de vir substituiu-o Jesus pela própria realidade. Vivência: Verei se na prática da materialidade de minhas obrigações demonstro suficiente valorização de minha espiritualidade afim de fugir da observância rotineira daquilo que me é preceituado. Porém, verei também se me deixei influenciar por certas correntes, excessivamente espiritualistas, que relaxam a observância das regras e normas dadas pela autoridade legítima, em último termo, pelo próprio Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 11 de junho de 2024

(At 11,21-26; 13,1-3; Sl 97[98]; Mt 10,7-13) São Barnabé, apóstolo.

“Na Igreja de Antioquia havia profetas e doutores. Eram eles: Barnabé, Simeão, chamado o Negro,

Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado junto com Herodes, e Saulo” At 13,1.

“Não era um dos Doze, mas sempre foi venerado como apóstolo. De qualquer maneira, foi uma personalidade eminente na Igreja primitiva. Jovem levita de Chipre, conheceu seguramente o Mestre; foi provavelmente um dos 70 discípulos dos quais fala o Evangelho. Depois de Pentecostes, Barnabé vendeu os poucos bens que possuía em sua pátria e depôs o arrecadado aos pés dos apóstolos, associando-se a sua obra de evangelização. Seu nome era José, mas os Doze chamaram-no Barnabé, que quer dizer ‘filho da consolação’. Foi desde logo tido em grande consideração e teve a missão de anunciar o Evangelho além dos confins da Palestina. Em tal qualidade teve o mérito de apresentar o jovem convertido Saulo aos apóstolos, os quais ainda temiam o fero perseguidor. Foi associado a Paulo na primeira e importante missão dirigida aos pagãos. Sua sociedade, embora breve no tempo, teve excelentes resultados: depois de um ano de trabalho, as conversões foram tão numerosas que chamaram a atenção dos pagãos sobre o ‘novo fenômeno’ religioso, pela primeira vez começaram a ser chamados pelo nome romano de Paulo), uma vez resolvida a controvérsia entre judeu-cristãos e os chamados gentios, provenientes do paganismo, ampliaram o raio de ação, apoiando-se sobre Chipre, pátria de Barnabé. Daí passaram para a Panfília, a Frígia e a selvagem Licaônia. Em Listra foram confundidos com dois deuses, quando Paulo curou um pobre estropiado. ‘Vendo o que Paulo fizera, as multidões levantaram a voz [...], dizendo: ‘Deuses em forma humana desceram até nós!’. E começaram a chamar Barnabé de Júpiter, e a Paulo, de Mercúrio, porque era este quem tomava a palavra’. Na segunda viagem missionária, Barnabé levou consigo o jovem sobrinho João Marcos, o futuro evangelista, cujas hesitações induziram Paulo a separar-se de Barnabé e a prosseguir sozinho a viagem. Barnabé regressou a Chipre, onde o deixa o relato dos Atos dos Apóstolos. Aí sofreu provavelmente o martírio no ano 70” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 10 de junho de 2024

(1Rs 17,1-6; Sl 120[121]; Mt 5,1-12) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” Mt 5,6.

“Sempre me disseram que a fome é das mais terríveis experiências. Não se trata de jejum, benéfico em todos os sentidos. Mas de fome. E Jesus fala de famintos de justiça. Não se trata da justiça humana, daquela que distribuem os juízes nos tribunais. Desta também temos falta, e quanta! Mas da justiça, que é sinônimo de santidade. Da justiça que reponta sempre de novo da carne humana: querer ser como Deus. Da justiça que se liga às saudades do céu que todo ser humano traz dentro de si, o que o Concílio Vaticano II chamou de ‘sementes de imortalidade’ (Gaudium et Spes, 18). A imortalidade e a santidade perfeita se exigem e são uma qualidade de Deus, que o homem sempre cobiçou para si. Jesus Cristo, ao assumir a carne humana, lhe deu condições de imortalidade. Por isso, nos diz no mesmo Sermão da Montanha (5,48): ‘Sede santos (perfeitos) como o Pai do Céu é santo (perfeito)’. É desta perfeição, desta santidade que devemos andar famintos e sedentos e sair loucamente à procura para saciá-la. A pessoa de Jesus, divina e humana ao mesmo tempo, seus ensinamentos, sua presença viva e vivificante na comunidade é a fonte podemos beber, e o alimento que pode nos saciar: ‘Quem vem a mim já não terá fome e quem crê em mim jamais terá sede!’ (Jo 6,35). Na verdade, não há outro alimento e outra bebida fora de Jesus Cristo que nos podem fazer sobreviver e saciar nossa ânsia de imortalidade, nosso desejo de sermos santos como o Pai do Céu é santo. O que poderia parecer o máximo de orgulho, é nosso destino normal, é a vontade de Deus a nosso respeito. Jesus ensinou qual caminho seguir. – Senhor, dá-me fome e sede de ti, de tua santidade! Eu sei que quanto mais te assimilo, mais te quero. Deixa-me querer-te sempre, até não mais ser eu que vivo, mas tu que vives em mim! Amém (Clarêncio Neotti – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite