33º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ml 3,19-20; Sl 97[98]; 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19)

1. Os judeus convidam Jesus a admirar a majestosa construção do Templo. Os trabalhos de paisagismo e decoração, iniciado por Herodes o Grande, mesmo não ainda finalizados, de um modo geral é algo sensacional. Os judeus, mesmo com a antipatia que têm por Herodes e sua família, sentem-se orgulhosos.

2. Mas Jesus acaba por os surpreender com uma profecia terrível: ‘Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído’. É um terrível golpe contra a segurança dos judeus, baseada sobre a solidez do Templo e sobre a continuidade do culto, garantia inabalável da sobrevivência do povo Judeu.

3. Um autor comentava: “Toda falsa segurança do ser humano, que se baseie sobre obras colossais (também religiosas), é atacada e destruída pelo evangelho”. E assim Jesus começa o célebre e difícil discurso escatológico-apocalíptico, já próximo de sua paixão. É praticamente um adeus oficial à sua cidade e à história de Israel.

4. Escatologia diz respeito às realidades últimas, definitivas. Apocalipse, se estamos lembrados, do grego, revelação. Seja por uma via ou por outra, trata-se de um olhar que vai além da história, ainda que alguns elementos estejam, de algum modo, acontecendo ou no presente.

5. Os temas da destruição de Jerusalém e do fim do mundo, nesta página, se misturam e se confundem, rendendo uma leitura e interpretação bastante árdua. Jesus fala como o profeta da 1ª leitura, que intervém na história em nome de Deus. Seu objetivo é chamar atenção para o momento presente, revelando o plano de Deus.

6. Ele se interessa também pelo futuro, mas somente enquanto este confere sentido ao presente e sustenta a esperança dos que os escutam, recordando a meta do seu caminhar, o ‘dia’ em que Deus estabelecerá definitivamente o seu Reino neste mundo. Mas este dia permanece desconhecido. Um ‘véu’ esconde o fim da história aos olhos humanos.

7. Há tempos de crise particularmente graves e, às vezes, as palavras não bastam para sustentar, consolar e assegurar a fidelidade dos bons. No momento em que os tempos são particularmente dramáticos e parecem, com a sua brutalidade, contradizer os desígnios divinos, é preciso ‘ver’ o fim dos tempos. Como faz Malaquias.

8. O texto de Lucas, ainda que adotando uma linguagem e algumas imagens de caráter apocalípticos (guerras, catástrofes naturais, epidemias, fomes, revoluções...), privilegia a sobriedade e o sentido próprio da escatologia. Não concede nenhuma concessão à curiosidade do ‘quando’ e do ‘como’.

9. Rejeita fixar uma data e um sinal preliminar. Mais que informar, Jesus quer preparar. Preparar os discípulos para os tempos difíceis, tempos intermediários (que ninguém sabe quanto durará) com coragem e fidelidade, com lucidez para não serem enganados e estarem sempre prontos a testemunhar a fé.

10. Jesus não cria ilusões nesse campo da fé. É na perseverança que seremos salvos. Jesus nos projeta para o futuro somente para reconduzir-nos ao nosso hoje, e concentrar a nossa atenção no presente. Escolher um projeto de vida, tomar decisões que correspondam ao fim dos tempos e ao que isso significa.

11. Ao cristão não é consentido negligenciar o tempo, refugiando-se com fantasias sobre o fim dos tempos. A questão se volta a não trair sua fé, não envergonhar-se do Cristo, nem refugiar-se na ociosidade, como diz a 2ª leitura, já que tudo um dia vai acabar-se.

12. O cristão é um construtor, mesmo se tende às realidades últimas, definitivas, não descuida do provisório. Ele sabe que tudo que vem tirado do egoísmo, das forças desagregadoras, da lógica do domínio, da prepotência, da autodestruição, da violência, pode se tornar material para edificar o Reino.

13. O Evangelho não é um livro do fim do mundo. É um manual destinado aos construtores da justiça, do amor, da paz e da fraternidade. Realidades que escapam ao ‘fim dos tempos’, pois elas antecipam ‘um novo céu e a nova terra’.    

Assim canta Pe. Zezinho: “Sonhadores da paz/ Fazedores da paz/ Construtores da paz/ Cristãos de um tempo diferente
Onde a gente tem que lutar/ Se quer fazer alguma coisa pela paz/ A gente tem que lutar/ Tem que arriscar/ Tem que falar/ Tem que dançar/ Tem que levar o pão e a paz”. 
 

Pe. João Bosco Vieira Leite