Todos os Santos e Santas - 2022

(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23[24]; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12)

1. A Igreja nos convida todos os anos a celebrar todos os santos e santas, não tanto no intuito de recorremos à ajuda dos mesmos, mas para lembrar que todos somos chamados à santidade. Algo que atravessa toda a escritura.

2. A primeira coisa que precisamos fazer, quando se fala de santidade, é libertar essa palavrado do medo que ela incute, motivado por certas representações erradas. A santidade pode até comportar fenômenos extraordinários, mas não se identifica com estes.

3. Se todos somos chamados à santidade, é porque, entendamos retamente, ela está ao alcance de todos, faz parte da normalidade da vida cristã. A motivação de fundo dessa santidade é o próprio Deus, que é santo. A santidade, na Bíblia, é a síntese de todos os atributos de Deus.

4. Santidade, na Bíblia, sugere a ideia de separação, de diferente. Deus é santo porque é totalmente outro com relação a tudo que o homem possa pensar, dizer ou fazer. Essa santidade de Deus ganha características específicas no Antigo Testamento por estar atrelada a ideia ritualista (objetos lugares, ritos, prescrições).

5. O Novo Testamento, a partir do ensino e prática de Jesus, a santidade não é mais um fato ritual ou legal, mas moral; não está nas mãos, mas no coração, dentro de cada um e se expressa na caridade. Não se trata mais de objetos ou lugares, mas de uma pessoa: Jesus Cristo.

6. Ser santo não consiste em ser separado, disto ou daquilo, mas de estar unido a Jesus, que é ‘o Santo de Deus’ (Jo 6,69).  Santidade é antes de tudo dom, graça e obra de toda a Trindade. Paulo nos conduz em seu pensamento a uma busca e vivência da santidade pela nossa fé em Cristo e em nossa união com Ele.

7. Dessa união, na vivência da fé e dos sacramentos, há o esforço pessoal e as boas obras. Não como algo destacado e diferente, mas como o único meio adequado de manifestar a fé, traduzindo-a em ato. Quando Paulo escreve: ‘Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação’. Ele entende a santidade também como fruto de um esforço pessoal.

8. Esse é ideal novo de santidade no Novo Testamento, mas que tem suas raízes no Antigo: ‘Sede santos, porque vosso Deus é santo’. A santidade não é uma imposição, um peso que nos vem colocado às costas, mas um privilégio e um dom. Uma obrigação, sim, mas que deriva da nossa nobre filiação divina.

9. A santidade é uma exigência do nosso próprio ser; devemos realizar nossa identidade mais profunda que é ser imagem e semelhança de Deus. Para a Escritura, o ser humano não é determinado por seu nascimento, animal racional, mas também por aquilo que é chamado a ser no exercício da sua liberdade e obediência a Deus.

10. Madre Teresa responde a um jornalista que, à queima roupa, lhe perguntava sobre o que achava das pessoas a chamarem de santa: ‘A santidade não é um luxo, mas uma necessidade’. Assim, contemplando os santos como modelo, podemos também pedir sua intercessão para que alcancemos também essa comunhão com Jesus. Amém.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite