(At 25,13-21; Sl 102[103; Jo 21,15-19)
7ª Semana da Páscoa.
“[...] e, depois de
comerem, perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que
estes?’” Jo 21,15a.
“No texto grego,
Jesus pergunta, nas duas primeiras vezes, pela ágape de Pedro, isto é, pelo
amor ouro e desapegado, pelo amor que é livre do ego e da intenção de
apossar-se do outro. Nas duas vezes Pedro responde: ‘Senhor, tu sabes que eu te
amo’ (philo se). Philia é o amor que se devota ao amigo.
Pedro não pretende afirmar que ama Jesus com um amor puro. Mas ele pode dizer
que o ama como a um amigo, que se sabe atraído por ele, que procura sua
amizade. Na terceira pergunta, Jesus troca de palavra, perguntando então: ‘Phileis
me?’, isto é, você me ama como amigo? Você é meu amigo? Pedro se entristece,
porque a terceira pergunta o faz lembrar-se de sua traição, e mais, porque Jesus,
usando essas palavras, está pondo em dúvida a sua amizade. Essa amizade não
teria sido contaminada por outras intenções, como, por exemplo, pelo desejo de
ser alguém especial pelo fato de ser amigo de Jesus, de sobressair entre os
demais? Pedro responde: ‘Senhor, tu conheces todas as coisas, bem sabes que eu
te amo’ (21,17). Pedro abre o seu coração aos olhos de Jesus. Jesus vê tudo. A
covardia, o medo, a apropriação egocêntrica. Mas ele enxerga também o que há
por baixo de toda a sujeira, no fundo do coração. E lá descobre o amor. Jesus
sabe identificar o amor, mesmo em nossa covardia, em nossas agressões, em nosso
entusiasmo tantas vezes superficial. Pedro se sente desmascarado. Não pode
enganá-lo. Ele sabe o quanto a sua amizade é ofuscada por outras motivações.
Mas ele sabe também que há um elemento genuíno e puro em seu amor. Ao menos o
desejo de sentir esse amor autêntico. O desejo do amor de Jesus não pode ser
falseado. E Pedro insiste em afirmar esse amor puro que ela sabe existir no
fundo do seu coração. Por isso a Ressurreição significa, para nós também,
oferecer a Jesus toda a nossa verdade e acreditar, apesar disso, no amor puro
que mora no fundo de nosso coração” (Anselm Grüm – Jesus:
Porta para a Vida – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite