Segunda, 01 de fevereiro de 2021

(Hb 11,32-40; Sl 30[31]; Mc 5,1-20) 

4ª Semana do Tempo Comum.

“Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério,

foi ao seu encontro” Mc 5,2.

“Ao ver Jesus, o homem corre ao encontro dele e se lança a seus pés. Parece reconhecer o poder de Jesus. Sente-se atraído por ele. Talvez tenha a esperança de encontrar a cura em Jesus. Mas mesmo assim grita: ‘Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Altíssimo? Conjuro-te por Deus, não me atormentes’ (5,7). Ele quer ser curado e ao mesmo temo resiste obstinadamente. Essa ambivalência é comum em muitos doentes. Eles se sentem despedaçados por desejos opostos: querem ser curados e ao mesmo resistem à cura. Continuando doentes, sabem como será sua vida. Mas se foram curados não sabem o que os aguardará. No mínimo, já não poderão recusar qualquer responsabilidade. Vão precisar tomar a vida em suas próprias mãos. Jesus faz distinção entre a pessoa doente e o espírito impuro que o possui. Ele enxerga dentro do ser caótico o âmago sadio. E ele acredita nesse âmago. Ele quer separar esse âmago sadio dos padrões de vida que desenvolvem as doenças e dominam o doente; ele quer separá-lo do espírito impuro que turva seu raciocínio e que o coage com ideias fixas. Jesus pergunta ao doente: ‘Qual o teu nome?’. O nome não é algo exterior, ele exprime o ser do homem. Com essa pergunta, Jesus confronta o doente com seu próprio ser. Que ele mesmo diga o que ele é realmente e qual o seu verdadeiro ser. Jesus não faz nenhum comentário a respeito do comportamento estranho do doente. Ele o leva a sério. Mas ele o obriga também a tirar os olhos dos sintomas para encarar seu verdadeiro ser. A resposta do doente é evasiva: ‘Meu nome é Legião, pois somos numerosos’ (5,9). O possesso usa um termo que fazia parte da linguagem militar romana. Uma legião contava 6 mil soldados. Podemos imaginar o que o doente quis dizer: 6 mil pares de botas pisotearam a minha alma. Esmagaram seu âmago. Ele já não sabe quem é de verdade. Perdeu seu próprio ser debaixo das botas dos homens que o rejeitaram e machucaram. Passou a sentir-se ele mesmo como uma legião. Nele mora uma legião inteira de doenças psíquicas. Sua personalidade está esfacelada em muitas partes. Ele se desfaz em si mesmo, nem sabe mais quem é. Sua pessoa como um todo lhe escapa. O encontro com Jesus lhe dá a oportunidade de descobrir seu verdadeiro ser. O encontro com uma pessoa repousada em seu próprio centro nos ajuda às vezes a encontrar nosso próprio centro. Jesus, que repousa em si e em Deus, age sobre esse homem dilacerado como um ímã que reagrupa todas as partes de sua alma” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite