(Is 60,1-6; Sl 71[72]; Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12)
1. Esse ano a festa da Epifania ou de
sua ‘Manifestação’, veio um pouco cedo. O Menino que nasceu em Belém é também
luz dos povos.
2. Epifania era uma festa celebrada
primeiramente nas Igrejas cristãs do Oriente Médio e tem a mesma importância
que o Natal para nós, Ocidentais. O intercâmbio dessas festas se deu no sec.
IV, e assim tanto Ocidente como o Oriente passaram a celebrar ambas as festas.
3. A imaginação popular foi
enriquecendo essa festa. Para o Oriente o número dos Magos era doze,
representando as doze regiões do mundo então conhecido; o Ocidente assinalou o
número três em atenção às três raças e continentes do mundo daquela época:
Europa, Ásia e África. Daí seus nomes e cor de suas peles.
4. As leituras celebram o Deus que vem
ao nosso encontro expressando a universal intenção salvífica de Deus. O profeta
Isaias tem uma visão luminosa e ecumênica que se realizará nas pessoas do
Magos, do evangelho, que são guiados por uma estrela e encontram o rei dos
Judeus que nasceu. Adoram e oferecem presentes.
5. Nosso evangelho tem uma intenção
mais teológica que histórica. O significado da narrativa transcende e sobre
passa, em muito, sua redação literária, para nos dizer que a libertação de
Cristo é universal e que Deus sai ao encontro daquele que o busca com o coração
sincero.
6. Paulo entendeu esse ‘mistério’ ou
projeto salvador de Deus para com todos os povos e o anuncia. Como explosiva e
revolucionária deve ter soado nas comunidades primitivas cristãs esse anúncio
do apóstolo das gentes, constituídas inicialmente em sua maior parte por
judeu-cristãos.
7. Os magos do Oriente encarnam a
figura o ser humano que espera, espreita e anuncia a presença de Deus nos
sinais dos tempos. É perceptível no Antigo Testamento uma espera crescente da
vinda do Senhor ou do Messias. Nas grandes teofanias, Deus vai se revelando de
diversas maneiras a esses personagens bíblicos, protótipos da fé.
8. Essa espera de Deus e do Absoluto
não foi algo privativo do povo judeu. As religiões do mundo oriental e
greco-romano, anterior e contemporâneo a Cristo, acalentavam uma vaga esperança
da divindade, do ‘deus desconhecido’, como constatou Paulo entre os gregos.
9. As grandes revoluções que assistimos
ao longo da história escondem e revelam o perene messianismo leigo que revela a
insatisfação humana e as etapas de um inacabado peregrinar no ritmo de espera.
10. Os antropólogos destacam hoje a
atitude de espera e esperança como algo constitutivo do ser humano. O esperar é
essencial e é o que mantém em pé a existência. Esperamos sempre um porvir
melhor para nós e para os nossos. Em cada um de nós vive uma secreta ilusão,
uma íntima esperança.
11. Para essa estrutura antropológica
da psicologia humana a fé cristã dá uma resposta numa plenitude satisfatória
apresentando a Cristo como razão e o objeto do nosso esperar.
12. No peregrinar desses magos que se
orientam pela pálida luz de uma estrela, fazemos um exame e revisão pessoal e
comunitária da nossa fé. Como reagimos diante dessa manifestação de Deus em
Cristo? É a nossa resposta a aceitação e a fé simples dos magos?
13. Dos magos, aprendemos que a fé é um
itinerário que fazemos em alerta aos sinais de Deus em nosso mundo e em nossa
vida pessoal. É preciso lê-los a cada dia. É preciso afrontar as dificuldades e
renunciar a uma instalação cômoda. Termos uma atitude de adoração e entrega
diante do mistério de Deus que se nos revela, ao mesmo tempo que comuniquemos,
de muitas formas, essa alegria do encontro.
14. Necessitamos ‘da ilusão dos reis’, da luz da
estrela e da alegria cristã que nascem da fé para viver a cada dia a esperança
da salvação. Vencer a desilusão e o desencanto, para recomeçarmos a cada manhã
a construir, quem sabe, o amanhã melhor e mais fraterno. Que Deus continue nos
atraindo a si, em sua luz.
Pe. João Bosco Vieira Leite