Epifania do Senhor - 2021

(Is 60,1-6; Sl 71[72]; Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12)

1. Esse ano a festa da Epifania ou de sua ‘Manifestação’, veio um pouco cedo. O Menino que nasceu em Belém é também luz dos povos.

2. Epifania era uma festa celebrada primeiramente nas Igrejas cristãs do Oriente Médio e tem a mesma importância que o Natal para nós, Ocidentais. O intercâmbio dessas festas se deu no sec. IV, e assim tanto Ocidente como o Oriente passaram a celebrar ambas as festas.

3. A imaginação popular foi enriquecendo essa festa. Para o Oriente o número dos Magos era doze, representando as doze regiões do mundo então conhecido; o Ocidente assinalou o número três em atenção às três raças e continentes do mundo daquela época: Europa, Ásia e África. Daí seus nomes e cor de suas peles.

4. As leituras celebram o Deus que vem ao nosso encontro expressando a universal intenção salvífica de Deus. O profeta Isaias tem uma visão luminosa e ecumênica que se realizará nas pessoas do Magos, do evangelho, que são guiados por uma estrela e encontram o rei dos Judeus que nasceu. Adoram e oferecem presentes.

5. Nosso evangelho tem uma intenção mais teológica que histórica. O significado da narrativa transcende e sobre passa, em muito, sua redação literária, para nos dizer que a libertação de Cristo é universal e que Deus sai ao encontro daquele que o busca com o coração sincero.

6. Paulo entendeu esse ‘mistério’ ou projeto salvador de Deus para com todos os povos e o anuncia. Como explosiva e revolucionária deve ter soado nas comunidades primitivas cristãs esse anúncio do apóstolo das gentes, constituídas inicialmente em sua maior parte por judeu-cristãos.

7. Os magos do Oriente encarnam a figura o ser humano que espera, espreita e anuncia a presença de Deus nos sinais dos tempos. É perceptível no Antigo Testamento uma espera crescente da vinda do Senhor ou do Messias. Nas grandes teofanias, Deus vai se revelando de diversas maneiras a esses personagens bíblicos, protótipos da fé.

8. Essa espera de Deus e do Absoluto não foi algo privativo do povo judeu. As religiões do mundo oriental e greco-romano, anterior e contemporâneo a Cristo, acalentavam uma vaga esperança da divindade, do ‘deus desconhecido’, como constatou Paulo entre os gregos.

9. As grandes revoluções que assistimos ao longo da história escondem e revelam o perene messianismo leigo que revela a insatisfação humana e as etapas de um inacabado peregrinar no ritmo de espera.

10. Os antropólogos destacam hoje a atitude de espera e esperança como algo constitutivo do ser humano. O esperar é essencial e é o que mantém em pé a existência. Esperamos sempre um porvir melhor para nós e para os nossos. Em cada um de nós vive uma secreta ilusão, uma íntima esperança.

11. Para essa estrutura antropológica da psicologia humana a fé cristã dá uma resposta numa plenitude satisfatória apresentando a Cristo como razão e o objeto do nosso esperar.

12. No peregrinar desses magos que se orientam pela pálida luz de uma estrela, fazemos um exame e revisão pessoal e comunitária da nossa fé. Como reagimos diante dessa manifestação de Deus em Cristo? É a nossa resposta a aceitação e a fé simples dos magos?

13. Dos magos, aprendemos que a fé é um itinerário que fazemos em alerta aos sinais de Deus em nosso mundo e em nossa vida pessoal. É preciso lê-los a cada dia. É preciso afrontar as dificuldades e renunciar a uma instalação cômoda. Termos uma atitude de adoração e entrega diante do mistério de Deus que se nos revela, ao mesmo tempo que comuniquemos, de muitas formas, essa alegria do encontro.

14. Necessitamos ‘da ilusão dos reis’, da luz da estrela e da alegria cristã que nascem da fé para viver a cada dia a esperança da salvação. Vencer a desilusão e o desencanto, para recomeçarmos a cada manhã a construir, quem sabe, o amanhã melhor e mais fraterno. Que Deus continue nos atraindo a si, em sua luz.

Pe. João Bosco Vieira Leite