(Is 42,1-4.6-7; Sl 28[29]; At 10,34-38; Mc 1,7-11)
1. As leituras bíblicas de hoje
mostram-nos o testemunho sobre Jesus em seus textos. Eles se completam para nos
oferecer uma identidade sobre Jesus. A liturgia nos recorda que nosso batismo
está prefigurado no de Jesus e ao mesmo tempo busca uma identificação do
discípulo de Cristo.
2. Primeiro nos vem a voz de Isaias que
nos descreve os traços e o programa do Servo eleito do Senhor, que aqui é
aplicado a Cristo, para definir sua pessoa e missão. Pedro, a seguir, dá o seu
testemunho sobre Jesus de Nazaré. Nessa graduação ascendente, é o evangelho que
nos dará o testemunho mais sublime.
3. Nos evangelhos que acompanhamos no
Advento, ouvimos o testemunho de João sobre Jesus, que batizará com o Espírito
Santo e com fogo. Aquele que ele identificou como ‘Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo’ (Jo 1,29), de repente lhe aparece na fila dos pecadores e
resiste em aplicar-lhe o batismo de penitência, nos dirá Mateus.
4. Apenas batizado, ao sair da água,
abrem-se os céus e o Espírito Santo em forma de pomba desce sobre Jesus. Há
aqui uma breve referência ao Espírito Criador que esvoaça sobre o Homem da nova
criação. O próprio Pai fala a Jesus.
5. Um texto breve, mas densamente
teológico. Três aspectos são destacados: o batismo de Cristo manifesta o
mistério do novo batismo; para que creiamos, pela voz do Pai, que seu Verbo
habita entre nós; que pela unção pelo Espírito Santo reconheçamos nele o
Messias enviado para anunciar a salvação aos pobres.
6. Mas busquemos refletir sobre o nosso
batismo, de nossa identidade cristã, em meio a essa enfermidade mais frequente
e um dos maiores males do nosso tempo: a crise de identidade pessoal, que surge
da falta de aceitação de si mesmo e das próprias limitações por parte do
indivíduo.
7. Essa crise também se percebe a nível
religioso, numa falta de identidade pessoal em muitos batizados que não agem
como tais. A festa do Batismo do Senhor anuncia e verifica o batismo com água e
com o Espírito Santo que também nós recebemos.
8. Alguns ignoram porquê e para que
foram batizados, e outros que veem seu batismo como uma carga indesejável da
qual não foram nem se tornaram responsáveis. É certo que não fomos consultados
sobre o batismo, como também não fomos para receber a vida, o dom maior, ou
mesmo sobre o nome ou sobrenome.
9. Pelo batismo, nossos pais nos
possibilitaram a vida em Deus e recebemos um nome: cristão, e um sobrenome:
católico, como dom gratuito. Tudo isso não se trata de uma carga imposta, mas
do dom e oferta da graça, fruto de um grande amor que nos precedeu e programou:
o amor de nossos pais e de Deus.
10. Partindo do Batismo do Senhor, que
é a identificação de Jesus, busquemos hoje nossa própria identidade cristã,
nossas raízes, no Batismo e na subsequente filiação adotiva por Deus, mediante
a fé em Cristo e por meio da Igreja, quem sabe, dedicando um pouco do nosso
tempo para aprofundar essa realidade.
Pe. João Bosco Vieira Leite