Quarta, 27 de janeiro de 2021

(Hb 10,11-18; Sl 109[110]; Mc 4,1-20) 

3ª Semana do Tempo Comum.

“Quando ficou sozinho, os que estavam com ele, junto com os doze, perguntaram sobre as parábolas”

Mc 4,10.

“Jesus explica aos discípulos a parábola do semeador. São quatro tipos de pessoas que ouvem a palavra de Deus. No caso dos primeiros ouvintes, a palavra cai à beira do caminho. Jesus diz que Satanás logo vem e retira a palavra que lelés foi semeada (4,15). Isso quer dizer que a palavra nem consegue penetrar em seu coração. São pessoas que não param para que a palavra possa entrar nelas. Jesus vê nos pássaros que comem as sementes a figura de Satanás. Os pássaros são pensamentos que, dentro do homem, ficam pulando de um lado para o outro. Quem está constantemente às voltas com mil ideias não está propriamente fazendo nenhum mal, mas torna-se incapaz de atender ao apelo divino. Por isso é correto dizer que a superficialidade e a atividade ininterrupta que isolam o próprio coração acabam sendo expressões do demoníaco. O ser humano, em vez de viver, é vivido. Em outros, a palavra cai em terra pedregosa: ‘Ao ouvirem a Palavra, logo a acolhem com alegria; mas não têm raízes em si mesmos, são homens de momento; e, mal chega a tribulação ou a perseguição por causa da Palavra, eles caem’ (4,16-17). São as pessoas que facilmente de deixam entusiasmar. Aceitam a palavra com alegria. Sentem-se atraídas por ela. Mas não têm profundidade. Vivem apenas em função de suas emoções, que as lançam de um lado para o outro. Logo que as tribulações ou a perseguição despertam outras emoções, essas pessoas se deixam guiar por estas. Não têm raízes. Não têm atitude. O primeiro choque as derruba. É uma imagem que representa muitos cristãos que se deixam tocar pela palavra de Jesus. Mas, como não têm profundidade, a palavra não pode lançar raízes. Qualquer rajada de vento as faz cair. Entre os espinhos cai a palavra naqueles que são dominados por preocupações, pelas riquezas ilusórias e pela concupiscência. As paixões dessa natureza sufocam a palavra de Deus. Por um lado, existe a vontade de seguir a palavra. Mas a concupiscência é mais forte. O indivíduo quer ser o melhor, o maior e o mais rico. A palavra de Deus é uma coisa boa, desde que não atrapalhe o sujeito na consecução de seus próprios objetivos. Assim, ela é apenas tolerada. As prioridades são outras. Mas, além das paixões, os espinhos representam também as feridas e contusões. Há pessoas que se sentem tão machucadas que a Palavra de Deus não alcança seu coração. As feridas ‘se intrometem’ (4,19) na alma. Gravitamos exclusivamente em torno de nossas feridas, de modo que a Palavra de Deus nem tem chance de trazer cura e libertação. Enxergamos apenas a nós mesmos e às mágoas que nos foram infligidas. Com esses três exemplos negativos, Jesus nos adverte que a Palavra de Deus não pode ser abraçada apenas superficialmente. Quando lhe oferecemos, porém, nosso coração, ele cai em terra boa. Produzirá muitos frutos, ‘trinta por um, sessenta por um, cem por um’ (4,20). Trata-se, portanto, de uma parábola cheia de otimismo. A palavra semeada por Jesus na Galileia frutificará não apenas nos corações de seus discípulos, mas no coração de todos aqueles que se abrem à mensagem do Evangelho. Serão recompensadas em abundância. Sua vida será fecundada. Quem aceita Jesus em seu íntimo, experimentará a alegria de uma vida fértil” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

  Pe. João Bosco Vieira Leite