(Hb 10,11-18; Sl 109[110]; Mc 4,1-20)
3ª Semana do Tempo Comum.
“Quando ficou
sozinho, os que estavam com ele, junto com os doze, perguntaram sobre as
parábolas”
Mc 4,10.
“Jesus explica aos
discípulos a parábola do semeador. São quatro tipos de pessoas que ouvem a
palavra de Deus. No caso dos primeiros ouvintes, a palavra cai à beira do
caminho. Jesus diz que Satanás logo vem e retira a palavra que lelés foi
semeada (4,15). Isso quer dizer que a palavra nem consegue penetrar em seu
coração. São pessoas que não param para que a palavra possa entrar nelas. Jesus
vê nos pássaros que comem as sementes a figura de Satanás. Os pássaros são
pensamentos que, dentro do homem, ficam pulando de um lado para o outro. Quem
está constantemente às voltas com mil ideias não está propriamente fazendo
nenhum mal, mas torna-se incapaz de atender ao apelo divino. Por isso é correto
dizer que a superficialidade e a atividade ininterrupta que isolam o próprio
coração acabam sendo expressões do demoníaco. O ser humano, em vez de viver, é
vivido. Em outros, a palavra cai em terra pedregosa: ‘Ao ouvirem a Palavra,
logo a acolhem com alegria; mas não têm raízes em si mesmos, são homens de
momento; e, mal chega a tribulação ou a perseguição por causa da Palavra, eles
caem’ (4,16-17). São as pessoas que facilmente de deixam entusiasmar. Aceitam a
palavra com alegria. Sentem-se atraídas por ela. Mas não têm profundidade.
Vivem apenas em função de suas emoções, que as lançam de um lado para o outro.
Logo que as tribulações ou a perseguição despertam outras emoções, essas
pessoas se deixam guiar por estas. Não têm raízes. Não têm atitude. O primeiro
choque as derruba. É uma imagem que representa muitos cristãos que se deixam
tocar pela palavra de Jesus. Mas, como não têm profundidade, a palavra não pode
lançar raízes. Qualquer rajada de vento as faz cair. Entre os espinhos cai a
palavra naqueles que são dominados por preocupações, pelas riquezas ilusórias e
pela concupiscência. As paixões dessa natureza sufocam a palavra de Deus. Por
um lado, existe a vontade de seguir a palavra. Mas a concupiscência é mais
forte. O indivíduo quer ser o melhor, o maior e o mais rico. A palavra de Deus
é uma coisa boa, desde que não atrapalhe o sujeito na consecução de seus
próprios objetivos. Assim, ela é apenas tolerada. As prioridades são outras.
Mas, além das paixões, os espinhos representam também as feridas e contusões. Há
pessoas que se sentem tão machucadas que a Palavra de Deus não alcança seu
coração. As feridas ‘se intrometem’ (4,19) na alma. Gravitamos exclusivamente
em torno de nossas feridas, de modo que a Palavra de Deus nem tem chance de
trazer cura e libertação. Enxergamos apenas a nós mesmos e às mágoas que nos
foram infligidas. Com esses três exemplos negativos, Jesus nos adverte que a
Palavra de Deus não pode ser abraçada apenas superficialmente. Quando lhe
oferecemos, porém, nosso coração, ele cai em terra boa. Produzirá muitos
frutos, ‘trinta por um, sessenta por um, cem por um’ (4,20). Trata-se,
portanto, de uma parábola cheia de otimismo. A palavra semeada por Jesus na
Galileia frutificará não apenas nos corações de seus discípulos, mas no coração
de todos aqueles que se abrem à mensagem do Evangelho. Serão recompensadas em
abundância. Sua vida será fecundada. Quem aceita Jesus em seu íntimo,
experimentará a alegria de uma vida fértil” (Anselm Grün – Jesus,
Caminho para a Liberdade – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite